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O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), candidato à reeleição, elevou o tom nesta quarta-feira e, demonstrando a irritação, criticou a tentativa dos aliados de seu adversário de pressioná-lo para desistir da disputa. Aldo afirmou que seus adversários querem ganhar a disputa por WO - ou seja, por desistência.

Segundo Aldo, o apoio de parte da bancada do PMDB ao líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), "não foi um gol, mas um arremesso manual". Dos 89 deputados do partido, 64 participaram da votação de terça-feira, e 46 apoiaram o petista. Para analistas ouvidos pelo GLOBO ONLINE, Chinaglia fez sim um gol, mas o placar ainda está empatado.

- Soube que ontem, logo depois da reunião do PMDB, alguns líderes da campanha de meu adversário tomaram a iniciativa de pressionar pela desistência de minha candidatura. Isso indica que meus adversários querem vencer por W.O. Não querem adversário em campo. Querem a volta olímpica sem jogo. De minha parte, asseguro que isso não vai acontecer. Haverá concorrente em campo no dia 1º de fevereiro. A eleição vai ser decidida em plenário - afirmou.

Aldo desabafou a interlocutores que não gostou das declarações de Chinaglia e dos deputados Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e Eliseu Padilha (PMDB-RS) de que ele deveria desistir da reeleição. Embora não tenha mencionado nomes, o recado de Aldo teria sido para esses deputados. Ele estava contrariado e rebateu a articulação do grupo que apóia Chinaglia de pedir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o convença de recuar de sua decisão de disputar à reeleição.

- O presidente me conhece muito bem e sabe que não aceitaria esse tipo de pedido. Não acredito que o presidente aceitaria esse tipo de proposta – disse ele.

Aldo disse também que a mudança de tom de seu discurso é uma forma de dizer a seus adversários na disputa pelo comando da Casa que sua candidatura não será retirada. Indagado por que resolveu endurecer, Aldo disse que é preciso estabelecer limites.

- A questão não é endurecer o discurso, é estabelecer fronteiras e limites - disse.

Após a derrota, Aldo agarra-se agora à oposição e à esperança de defecções no PMDB, na votação secreta, para manter sua candidatura.

- Continuo na luta, como o tigre contra o elefante. O elefante é grande e pesado, mas não tem a mobilidade do tigre. Se o tigre não parar, vai ferir e cansar o elefante até derrotá-lo - disse Aldo, em referência a uma citação do líder comunista Ho Chi Min.

ONG mostra que governo liberou mais verba para oposição

Um dia depois de a oposição acusar o governo de liberar verbas para parlamentares do PMDB em troca de apoio à candidatura de Chinaglia, a ONG Contas Abertas publica em seu site um levantamento mostrando que nos últimos 20 dias o governo federal empenhou R$ 34,4 milhões em emendas de parlamentares do PSDB e do PFL, partidos que podem decidir a disputa. O valor empenhado (compromissado para posterior pagamento) para os dois partidos corresponde a 36,5% do valor global empenhado nas emendas individuais.

Como a liberação de emendas num valor tão expressivo para a oposição não é comum, a ONG sugere que isso pode confirmar os rumores de atuação do governo em prol de Chinaglia, que não tem bom trânsito na oposição. No período de 16 de dezembro a 5 de janeiro, as emendas parlamentares empenhadas favoreceram, principalmente, aos políticos do PSDB, que receberam R$ 19 milhões, seguidos pelos do PFL, com R$ 15,4 milhões. Bem atrás estão os do PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com R$ 13 milhões, e os do PMDB, com R$ 11,6 milhões. Parlamentares de outros partidos receberam R$ 35,1 milhões dos R$ 94,3 milhões empenhados.

Berzoini diz que apoio do PMDB a Chinaglia não basta

Para o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), o apoio do PMDB a Chinaglia é essencial para sua candidatura deslanchar. Porém, admitiu que a decisão não garante a eleição do petista. Segundo Berzoini, os votos do PMDB são "importantíssimos", mas ainda falta a manifestação dos demais partidos da base aliada.

- É um resultado positivo, mas continuamos na luta em torno da candidatura única. Arlindo conseguiu realmente um grande apoio para a candidatura dele, mas precisamos continuar articulando para chegar ao entendimento da base em torno de um só nome - disse o petista em entrevista ao site "Congresso em Foco".

O presidente do PT admite que a existência de duas candidaturas pode levar a uma divisão na base aliada, como ocorreu em 2005, mas afirma que, se não for possível convencer Aldo a desistir, é preciso criar as condições para a vitória de Chinaglia no plenário.

- O ideal para a coalizão do governo é que nós tenhamos uma única candidatura da base, mas não podemos trabalhar só com o ideal, temos que trabalhar também com a realidade. Vamos trabalhar para que nós possamos construir num prazo mais breve possível uma candidatura única. Se não for possível, vamos estabelecer as condições para que a vitória do nosso candidato possa se dar no processo eleitoral para a mesa da Câmara - disse Berzoini.

Freire: Aldo foi tratado como bagaço da laranja pelo governo

Para o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), Aldo foi tratado como o "bagaço de laranja" pelo governo.

- Esse resultado fará com que Aldo aprenda o que significa fazer aliança com o PT. Ele foi tratado como bagaço de laranja pelo governo. Chupa-se o suco e depois joga-se o bagaço fora - disse Freire.

Segundo o deputado, que questiona a legitimidade da decisão, já que 46 votos não chegam a representar a maioria da bancada de 89 deputados, os peemedebistas que não participaram da votação, somados aos dissidentes e insatisfeitos com o alinhamento automático ao governo Lula, poderão fazer com que o partido tome um outro caminho que não o apoio a um dos dois candidatos.

- Acredito que muita gente dentro do PMDB trabalha por uma candidatura própria. Como também não creio que estes estão satisfeitos com essa subordinação ao Poder Executivo. Além disso, o partido tem uma história de respeito à proporcionalidade nas disputas pelo comando desta Casa - afirmou Freire, lembrando que o PMDB conta com a maior bancada da Câmara e portanto tem o direito de indicar o sucessor de Aldo.

Terceira via anuncia candidato na próxima semana

Já o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), que lidera o chamado grupo alternativo de parlamentares, anunciou que lançará um candidato na próxima terça-feira. Para Jungmann, o apoio do PMDB a Chinaglia não inviabiliza uma terceira via.

- Vamos ter uma candidatura - garantiu ele, listando como possíveis nomes os deputados Chico Alencar (PSOL-RJ), Gustavo Fruet (PSDB-PR) e Luiza Erundina (PSB-SP).

Jungmann e Luiza Erundina (PSB-SP), líderes do movimento, entregaram no fim da tarde desta quarta-feira na presidência da Câmara uma proposta de debate entre os candidatos. O grupo sugere que o debate, que seria realizado no dia 18 de janeiro nas dependências da Câmara, seja transmitido ao vivo pela TV Câmara e pela Rádio Câmara.

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