• Carregando...

Agentes ambientais que atuam no Rio Jauaperi, em Barcelos, no Amazonas, estiveram na sede da superintendência regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em Manaus, denunciando tentativas de agressão e ameaças por partes de caçadores ilegais de tartarugas. A visita aconteceu um dia antes do atentado contra uma equipe a serviço do Ibama em Caracaraí (RR), que causou a morte do colaborador José Santos Cruz. O local da emboscada, no baixo rio Branco, fica próximo ao Rio Jauapery, na divisa entre os dois estados.

- Dois líderes comunitários vieram conversar comigo e relataram o risco de que os tartarugueiros (traficantes de tartarugas) reagissem às tentativas de fiscalização. Estávamos preparando uma ação para atender às denúncias, mas os fatos se precipitaram e a coisa saiu do plano estadual - revelou o chefe de Fiscalização do Ibama no Amazonas, Adilson Cordeiro.

O superintendente do Ibama no Amazonas, Henrique Pereira, confirmou que aguarda orientações da direção nacional do órgão.

- Já nos colocamos à disposição para atuar na região da fronteira com Roraima, com apoio da Polícia Federal - contou ele, que afirmou que tanto ele quanto Cordeiro ponderaram que a divulgação de detalhes dessa operação, como a data de início e a quantidade de agentes, poderia atrapalhar o sucesso dela.

Ataque de terça deixou um morto e um ferido

Foi encontrado nesta quinta-feira o corpo do colaborador do Ibama José Santos Cruz, que fazia parte da equipe atacada na terça-feira em Roraima por traficantes de tartarugas. O analista ambiental Raimundo Cruz, que também que estava desaparecido, já havia sido localizado pela manhã, apenas com ferimentos leves na perna.

- Por volta das 10h (horário local, duas horas a menos do que em Brasília), nosso servidor ligou para dizer que tinham encontrado o Raimundo Cruz bem, apenas com ferimentos leves na perna - relatou o assessor de comunicação da superintendência do Ibama, Taylor Nunes.

Raimundo e José faziam parte da equipe de sete pessoas que estava em Caracaí para marcar as covas de tartarugas do tabuleiro (local de reprodução dos animais) de Santa Fé. Na terça-feira, por volta das 17h, cinco integrantes do grupo foram baleados por quatro homens, possivelmente traficantes de tartarugas. O atentado ocorreu quando eles estavam dentro da canoa, em direção à praia.

Das cinco vítimas, três pularam na água e conseguiram voltar ao acompamento. Raimundo Cruz também se atirou no rio, mas estava desaparecido. José Santos Cruz, que mora em Caracaí e havia sido contratado temporariamente pelo Ibama, foi levado pelos agressores, junto com a canoa.

A captura da tartaruga amazônica é proibida, porque o animal está em risco de extinção. A superintendente do Ibama em Roraima, Nilza Baraúna, explicou que seu comércio ilegal aumenta no fim de ano, porque a carne de tartaruga integra o cardápio regional das festas de Natal e ano novo. Por isso, o Ibama costuma fazer operações ostensivas de fiscalização nesse período. Mas a equipe que sofreu o atentado estava trabalhando apenas na identificação dos locais de desova, para posterior alocação dos filhotes em berçários, até que eles atingissem um tamanho suficiente para se protegerem sozinhos dos predadores naturais.

Desde 2002 o Conselho Nacional de Populações Tradicionais (CNPT) do Ibama estuda a criação de uma reserva extrativista no Rio Jauapery, que englobaria também a margem esquerda do baixo Rio Branco, no Amazonas. O coordenador do CNPT no Amazonas, Leonardo Pacheco, revelou que esse processo está sendo coordenado em parceria com o CNPT de Roraima e que os trabalhos avançaram bastante no último ano. A discussão poderia ser uma das alternativas para ajuda no combate às ameaças dos tartarugueiros que caçam ilegalmente o animal na região.

Os agentes ambientais voluntários são lideranças comunitárias treinadas pelo Ibama. Eles realizam atividades de educação ambiental e monitoramento de crimes contra o meio ambiente. Podem, inclusive, lavrar autos de constatação, que servem como pontos de partida para atuação dos fiscais do Ibama. Na região do Rio Jauaperi atuam onze desses agentes - ao todo, o Amazonas já formou 1.269 deles, consagrando-se como estado líder no Programa Nacional de Agentes Ambientais Voluntários, criado em maio do ano passado.

A carne de tartaruga é uma iguaria muito apreciada na Amazônia, mas o animal (que costuma ser vendido vivo) só pode ser comercializado se for proveniente de cativeiro autorizado pelo Ibama. O Amazonas tem 57 criadouros de quelônio legalizados. Cada tartaruga deve ser identificada com um selo individual, colocado no seu casco.

- Pedimos à população que não compre animais de origem duvidosa. Com isso, as pessoas ajudarão a combater a captura da tartaruga amazônica, que está em risco de extinção. A população pode ajudar não comprando e denunciando. Até porque esses animais ilegais são caros (custam entre R$ 300 a R$ 1000, de acordo com o tamanho e a época), grande parte da população não tem mesmo acesso a eles - apelou Cordeiro, lembrando que o comércio ilegal de quelônios está também ligado à violência rural.

Cordeiro informou ainda que a multa por cada quelônio capturado ilegalmente é de R$ 500. O infrator está sujeito também a um processo penal, que a princípio pode levar à sua prisão, embora na prática isso raramente aconteça. O telefone do disque denúncia do Ibama no Amazonas é: (92) 3613-3081.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]