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Affonso Camargo morreu na quinta-feira (24), em uma chácara nas proximidades de Curitiba | Prisclila Forone/Gazeta do Povo
Affonso Camargo morreu na quinta-feira (24), em uma chácara nas proximidades de Curitiba| Foto: Prisclila Forone/Gazeta do Povo

Condolências

Políticos do Paraná e de outros estados lamentaram a morte de Affonso Camargo:

"Suas ações políticas são motivo de muito orgulho para nós paranaenses. Era um homem de grande visão."

Beto Richa (PSDB), governador do Paraná.

"Muitos o conhecem como pai do vale-transporte, mas sua capacidade de articulação e visão desenvolmentista do estado marcaram sua atuação."

Luciano Ducci (PSB), prefeito de Curitiba.

"É um dia de luto para todo o partido. Camargo foi um dos melhores homens públicos que conheci."

Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB.

"Perco um grande amigo e a política brasileira, uma grande liderança."

Valdir Rossoni (PSDB), presidente da Assembleia do Paraná.

"Externo minhas condolências à família deste paranaense, cuja atuação política foi muito relevante."

Gleisi Hoffmann (PT), senadora.

"Foi um excelente colaborador e um amigo: um homem admirável."

Fernando Collor de Melo (PTB), senador e ex-presidente da República.

"Sua perspicácia e, principalmente o seu poder de articulação, foram muito importantes na modernização do estado."

Euclides Scalco, ex-ministro .

Até hoje, o único paranaense a disputar a Presidência

A partir da criação da lei que instituiu o vale-transporte, em dezembro de 1985, o nome Affonso Camargo, à época ministro dos Transportes, ficou indissociável de seu grande feito político. Desde então, a marca "o pai do vale-transporte" apresentou o político paranaense e é por ela que Camargo será lembrado.

Um das novidades surgidas no Brasil da Nova República, o projeto de Camargo teve um grande impacto na imprensa nacional e na opinião pública. A lei estipulava que o empresário deveria antecipar o valor da passagem de ônibus ou de metrô ao empregado em quantidade compatível com o número de vezes que o trabalhador usaria o transporte coletivo. A lei ainda previa que esse valor seria deduzido do seu salário em um porcentual máximo mensal de 6% dos vencimentos do trabalhador.

Embalado pela popularidade do vale-transporte, que já lhe garantira uma ótima votação para o Senado em 1986, Camargo lançou-se candidato à Presidência em 1989. Usando a legenda do PTB, um dos oito partidos que integrou durante sua trajetória pública, o paranaense ficou em 11.º lugar em uma disputa entre 22 candidatos, recebendo 379.286 votos – ou 0,52% do total.

"Eu tinha uma esperança de poder simbolizar a ética na política naquela campanha. Eu tenho uma história de ética, mas o povo achou que o ético era o Collor", lembrou Camargo à Gazeta do Povo em uma entrevista de 2009.

A campanha presidencial de Camargo ficou marcada, além do uso de seu slogan político, pela utilização ostensiva da cor amarela nas propagandas e roupas do candidato e pela escolha do comediante carioca Tião Macalé, do programa Trapalhões, da Rede Globo, como o principal cabo eleitoral da campanha televisiva. "Era simpático o contraponto entre o vetusto e íntegro político de família tradicional curitibana ao lado do artista com apelo bem popular", relembra o professor de Ciência Política da UFPR, Ricardo Oliveira.

Na mesma entrevista concedida há dois anos, Camargo, no entanto, lamentou a escolha . "[A participação do comediante)] encantou as crianças. Mas criança não votava. Então, foi um erro grande que eu cometi e isso marcou a minha campanha", disse.

Mesmo assim, Camargo, único paranaense que já se candidatou a presidente da República, lembrava com orgulho da empreitada. "Eu não me arrependi. Foi uma chance que eu tive, eu não me omiti", disse. (SM)

O ex-deputado federal, ex-senador e ex-ministro Affonso Camargo (PSDB) morreu ontem, em Curitiba, aos 81 anos. A família fez um velório privado. Hoje, o corpo deve ser cremado, em uma cerimônia também restrita apenas à familiares. A causa da morte não foi informada.

O governador Beto Richa (PSDB) decretou luto oficial de três dias em "reconhecimento à contribuição que, com suas ações políticas, Affonso Camargo deu ao Paraná e ao Brasil". A prefeitura de Curitiba também decretou luto oficial. "Perdemos um homem público identificado com as causas do Paraná", afirmou o prefeito Luciano Ducci (PSB).

Mais tempo

Affonso Alves de Camargo Neto foi o paranaense que atuou por mais tempo no Congresso Nacio­­­nal, entrando no Parlamento em 1978 e só deixando-o no ano passado (com alguns intervalos como ministro). Nesse período, exerceu dois mandatos de senador (o primeiro deles como biônico, durante a ditadura militar), e quatro de deputado federal. Camargo ainda foi ministro em três oportunidades (dos Trans­­portes, nos governos de José Sarney e Fernando Collor; e das Comunicações, na gestão Collor).

Sua grande bandeira política foi a criação da lei do vale-transporte, quando era ministro dos Transportes de Sarney, que lhe deu projeção nacional. Em campanhas políticas, usava o slogan "pai do vale-transporte".

No ano passado, Camargo não conseguiu a reeleição para deputado federal e decidiu se aposentar da vida política depois de 54 anos. "Sempre disse que a juíza urna iria decidir quando fosse a hora de eu parar. E agora ela disse", afirmou à Gazeta no ano passado.

O ex-ministro era herdeiro de duas das mais influentes famílias políticas paranaenses. Seu avô, Affonso Alves de Camargo, foi presidente da província (cargo equivalente hoje ao de governador) por duas vezes entre 1916 e 1930. Affonsinho, como era conhecido, também era sobrinho de Bento Munhoz da Rocha Neto, deputado federal e governador do Paraná entre 1951 e 1955. "É o fim de uma estirpe política que representa a oligarquia paranaense da velha república", avalia o cientista político Ricardo Oliveira da UFPR.

A carreira política de Camargo começou em 1956 pelas mãos do então governador Ney Braga. Camargo já era engenheiro civil formado pela UFPR, quando filiou-se ao PDC e foi nomeado secretário de Justiça. Em 1964, foi indicado para ser o vice-governador no fim do mandato de Ney Braga.

Após o golpe militar, com a instituição do bipartidarismo, trocou o antigo PDC pelo MDB, pois seu partido escolheu Paulo Pimentel como candidato a governador em 1965. A opção política o fez romper com seu padrinho político que o derrotou na disputa ao Senado em 1966. A aliança foi recomposta anos depois – o que o levou à presidência do Banestado e à Secretaria da Fazenda em novo um novo governo de Ney Braga no Paraná (1973-1974).

Já como presidente do diretório regional da Arena, foi indicado senador biônico em 1978. Com a volta do pluripartidarismo filiou-se ao PP de Tancredo Neves. Nesta época, segundo o ex-ministro Euclides Scalco, sua capacidade de articulação foi fundamental no processo de fusão do PP com o PMDB. "A partir desta união de forças é que, além do ex-governador José Richa, o PMDB fez outros nove governadores na redemocratização. E isso tornou possível chegar ao consenso que levou Tancredo Neves ao colégio eleitoral", disse Scalco.

Já como secretário-geral do PMDB, foi indicado ministro dos Transportes em 1985 após a eleição de Tancredo à Presidência. Com a morte de Tancredo, foi mantido na pasta por José Sarney. Após deixar o governo, foi reeleito senador em 1986.

Camargo deixou o PMDB no primeiro ano de seu novo mandato e foi candidato à Presidência da República pelo PTB em 1989. No segundo turno apoiou a candidatura de Fernando Collor, em cujo mandato foi Ministro dos Transportes e das Comunicações.

Foi eleito deputado federal em 1994 pelo PPR e, em 1998, pelo PFL. Ingressou no PSDB em 2001. Em 2002 foi o deputado federal mais votado do estado. Foi reeleito para a Câmara em 2006.

No ano passado Camargo não conseguiu a reeleição para deputado federal e decidiu se aposentar da vida política depois de 54 anos. "Ele teve uma trajetória completa e um bom trânsito em Brasília, tanto nos tempos da ditadura quanto da redemocratização", avalia o professor Ricardo Oliveira.

A assessoria do PSDB anunciou que uma missa aberta ao público em homenagem a Camargo será organizada pela família, ainda sem data marcada.

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