Policiais usaram bombas de gás lacrimogêno e spray de pimenta para dispersar os manifestantes que se reuniram no Centro Cívico para impedir a votação do projeto.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Tensão. Esse é o sentimento da maior parte dos manifestantes que está mobilizada há dois dias em torno do prédio da Assembleia Legislativa, no Centro Cívico, na tentativa de impedir a aprovação do projeto de lei de reforma da Paranaprevidência. Muitos montaram acampamento na Praça Nossa Senhora da Salete para acompanhar, nesta quarta-feira (29), a votação final da proposta. E tantos outros servidores devem chegar do interior do estado. O clima ficou mais tenso após uma madrugada e uma manhã em que servidores e policiais entraram em confronto, deixando um saldo de ao menos 13 pessoas feridas.

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Richa diz que apenas cumpre ordem judicial

Ao comentar pela primeira vez o cerco à Assembleia, o governador Beto Richa (PSDB) disse que está apenas cumprindo uma decisão do Judiciário, que determinou ao Executivo garantir “a segurança para o pleno e democrático funcionamento” da Casa. Em entrevista à RPC TV, o tucano evitou comentar os confrontos já ocorridos entre policiais e servidores e disse que a estratégia da ação cabe ao comando da PM e à Secretaria de Segurança Pública.

Questionado se a mudança na Paranaprevidência é a única saída para resolver os problemas de caixa do estado, Richa respondeu negativamente e disse que o governo já fez um conjunto de medidas de ajuste fiscal. Afirmou ainda que a alteração vai garantir equilíbrio ao sistema previdenciário. Ele defendeu também que a proposta foi debatida durante dois meses com o Ministério Público, especialistas independentes e representantes dos servidores.

“Essa é a proposta mais importante neste momento e a melhor que surgiu até então”, declarou. “O que vocês estão vendo por aí é uma irresponsabilidade de adversários políticos, uma maldade do sindicato dos professores, de que estamos causando prejuízo e insegurança para as aposentadorias. Isso não existe mais, está garantido.” O tucano disse colocar seu capital político em jogo como garantia de que o pagamento de aposentados e pensionistas jamais estará em risco.

Aos docentes em greve, o governador pediu que mantenham a calma e que não se deixem levar por “propostas maldosas e equivocadas” e pela “desinformação”. “Peço aos professores que voltem para a sala de aula. Se não, o salário será descontado e isso vai afetar a ascensão no plano de carreira.”

A expectativa, segundo o sindicato dos professores (APP-Sindicato), é reunir ao menos 20 mil pessoas nesta quarta no Centro Cívico. Nesta terça-feira, cerca de 7 mil pessoas permaneceram na praça – 2 mil a mais que no primeiro dia de protestos.

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Veja como foi o segundo dia de protestos e votação na Assembleia

Os embates

O primeiro confronto entre manifestantes e PMs ocorrência foi por volta da 1h30 da madrugada, quando policiais do Batalhão de Choque chegaram para cumprir a ordem de retirada dos manifestantes da praça. Na versão dos professores que acampavam no espaço, a confusão começou no momento em que eles sentaram em frente dos três caminhões de som contratados pela APP-Sindicato, representante da classe, para impedir a retirada dos veículos.

A tentativa de acessar a área isolada pela PM gerou mais dois tumultos durante a manhã. Os manifestantes tentaram recolocar o caminhão de som na praça, mas acabaram dispersados pelos policiais, que usaram cassetetes, sprays de pimenta, bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha.

Indignação

“O sentimento é de muita indignação. Não vamos admitir que esse projeto seja aprovado. Não vamos recuar”, desabafou a professora Cledir Morais, que viajou mais de 500 km com outros 43 servidores de Foz do Iguaçu para acompanhar a votação em Curitiba. Ao lado da professora, doze servidores do município de Planalto, Sudoeste do estado, montavam acampamento. “Para amanhã [quarta-feira], a expectativa é de mais confronto”, apontou um deles.

Na Assembleia, onde na terça não ocorreram votações sobre o projeto da Paranaprevidência, os deputados da oposição também demonstraram preocupação sobre possíveis confrontos durante nesta quarta-feira. “O governador está sendo irresponsável e imaturo, ele perdeu o juízo, acha que está em uma arena de gladiadores ou lidando com uma rebelião de penitenciária”, declarou Tadeu Veneri (PT), líder da oposição.

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Um habeas corpus determinou que cerca de 400 pessoas possam ocupar as galerias da Assembleia para acompanhar a sessão de hoje. De acordo com a diretora da APP-Sindicato Marlei Fernandes, os líderes sindicais vão se organizar para que representantes de todo o funcionalismo público entrem no prédio. A Assembleia, porém,tenta revogar a liminar.

O sumiço da chave

A oposição ao governo do estado acusou nesta terça-feira (28) PMs de sumirem com a chave de um caminhão de som da APP-Sindicato que está estacionado no Centro Cívico. “O que aconteceria se alguém tirasse a chave do caminhão do [Batalhão] Choque? Seria preso imediatamente”, disse o líder da oposição, Tadeu Veneri (PT). Até o início da noite desta terça-feira (28), a chave ainda não havia sido devolvida.

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