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Funcionários do setor de Fiscalização da Prefeitura de Campo Mourão, na região Centro-Oeste do estado, estiveram na sede do jornal Tribuna do Interior , na tarde de quinta-feira (30), para notificar a empresa sobre a determinação de “cessar de imediato as atividades” , alegando que o ruído provocado pela impressoras rotativas do diário “estava causando a pertubação do sossego público”.

Outro lado

A prefeitura de Campo Mourão afirma que a informação sobre suposta perseguição ao jornal Tribuna do Interior é descabida e irresponsável.

De acordo com a prefeitura, a gráfica funcionava com um alvará provisório.

Em março de 2014, depois de uma denuncia apresentada por uma moradora, uma análise criteriosa de vários órgãos da prefeitura culminou em um parecer da Procuradoria Geral para a cassação do alvará provisório e a notificação da empresa para que apresentasse as justificativas e realizasse uma adequação estrutural, dentro das normas técnicas pertinentes.

Nesta data a Secretaria de Fiscalização apresentou a devida notificação a representante legal da empresa, que coincidentemente faz expediente no Jornal Tribuna do Interior, por isso que houve o cumprimento da notificação neste órgão de imprensa. Portanto, podemos afirmar que não existe a menor possibilidade de que o município esteja praticando qualquer ato de perseguição ou retaliação a este ou aquele órgão de imprensa, até porque a empresa notificada não se trata de órgão de imprensa e sim a atividade gráfica.

Desta forma afirmamos com a maior tranquilidade que o ato de notificação da empresa J. B. Belga e Thomé Ltda., está dentro dos parâmetros legais e pertinentes da atividade da administração publica, assim como a outros estabelecimentos que costumadamente temos realizado no intuito de manter a ordem e o cumprimento das medidas administrativas, dentro do principio da ampla defesa e do contraditório para que empresa possa se adequar as normas técnica, o que o órgão de imprensa não tem oportunizado a atual gestão, divulgado de forma sorrateira sem o clivo do contraditório e sem assinatura de jornalista responsável as matérias política de nossa cidade.

Diante destes fatos, o município se dispõe ao esclarecimento a qualquer momento junto aos órgãos de imprensa, inclusive com manuseio de processos e verificação “in loco” destes, para que não possa pairar duvidas sobre a lisura dos procedimentos.

De acordo com a diretora do jornal, Dorlly Thomé, os fiscais informaram que a ordem era que a empresa não poderia mais funcionar a partir do momento da notificação, não podendo nem mesmo imprimir a edição de sexta-feira (30). A presença e diálogos dos servidores públicos com a direção do jornal foram registradas em fotos e áudios por jornalistas da empresa. Apesar de receber a notificação, a direção da empresa, decidiu continuar no local e imprimir a edição de hoje do jornal, que estampou a capa com fundo negro, com a palavra “Censura” em destaque.

De acordo com advogado Luiz Alfredo Cunha Bernardo, do escritório que presta assessoria jurídica para a Tribuna do Interior, a ação da prefeitura já era aguardada. Segundo ele, há dois anos, ao importar uma impressora rotativa, o jornal teve dificuldade em obter o alvará de funcionamento do parque gráfico, obtido por decisão da Justiça. “Eles estavam esperando um momento para intimidar o jornal, que não publica o que eles querem e adota uma postura independente. Por isso, nosso escritório já havia protocolado um pedido na Justiça com tutela de reserva, para evitar uma ação desproporcional, como ocorreu”.

Bernardo afirma que a prefeitura já havia tentado outras formas para inviabilizar a publicação do jornal que circula diariamente em 25 municípios da região de Campo mourão, com tiragem de oito mil exemplares. “Tentarem com a lei do zoneamento e verificaram que o local onde o jornal tem sua sede própria desde 1990, cumpria as normas. Alegaram então a questão de ruídos, fazendo uma confusão na medição de ruídos internos e externos. Ou seja: queriam apenas um motivo para tentar prejudicar a empresa”, diz ele. O advogado afirma que a denúncia de um morador sobre os ruídos, foi feita no ano passado e foi comunicada à Justiça pelo próprio jornal. “Inclusive, a prefeitura chegou a perder o prazo no processo”, disse ele. O advogado acredita que a tentativa de cerceamento ao jornal vai continuar. “Começaram retirando verba de publicidade oficial e o jornal resistiu com credibilidade. Vão continuar enquanto ocuparem o poder”, alerta ele. O advogado informou que o caso foi informado ao MP.

Retaliação

Dorlly Thomé, diretora do jornal, disse que o jornal tem laudo técnico de uma empresa ambiental, atestando que a empresa cumpre as exigências relativas à emissão de ruídos. De acordo com ela, a intenção da notificação era impedir a circulação da edição de hoje do jornal, onde foi publicado o pedido apresentado pelo Ministério Público de bloqueio de bens da prefeita Regina Dubay (PR), do coordenador-geral, Carlos Garcia, e do secretário de Obras, Renato Ikeda até o valor de R$ 1 milhão. No início do mês, o MP solicitou a medida cautelar dentro de uma ação de improbidade protocolada neste mês onde denunciou a prefeita e os secretários por suspeitas de fraude e superfaturamento em uma licitação de R$ 5 milhões, referentes a aquisição de postes republicanos e materiais elétricos para iluminação da cidade. Para o promotor Marcos José Porto Soares, o valor do bloqueio corresponde ao prejuízo causado aos cofres públicos.

Na semana passada, a Tribuna do Interior publicou reportagem fazendo um comparativo sobre a licitação denunciada, apontando que o mesmo poste republicano adquirido em licitação semelhante em Cianorte, havia sido comprado por um valor 67,5% mais caro por Campo Mourão, mesmo com a compra em quantidade 50 vezes maior ao outro município.

Denúncias

Desde que assumiu o mandato, a atual gestão de Campo Mourão já foi alvo de várias ações de improbidade do MP e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Atualmente, por direito ao foro privilegiado, a prefeita é investigada pela Procuradoria Geral de Justiça por suspeita de se apropriar de parte de salários de funcionários comissionados para pagamento de advogados particulares.

Também neste mês, Regina e o coordenador-geral Carlos Garcia foram denunciados pelo MP por improbidade, em uma ação que apurou “perseguição política”. De acordo com denúncia do promotor Marcos José Porto Soares, do Patrimônio Público, a prefeitura declarou três imóveis de filhos do ex-prefeito e principal adversário político, Tauilio Tezelli, como de utilidade pública, sem demonstrar qualquer necessidade. Conforme o MP, o município não apresentou justificativa para as desapropriações, exigência legal para o ato. Além disso, não havia projetos para os locais e nem mesmo dotação orçamentária para pagamento das áreas. A desapropriação não havia sido comunicada aos proprietários. O promotor pediu a anulação dos atos de desapropriação e o afastamento do coordenador-geral, Carlos Garcia, que declarou ter escolhido “pessoalmente” os terrenos. Durante esta semana, um servidor público entrou com pedido de instalação de Comissão Processante no Legislativo pedindo o afastamento da prefeita, com base nas ações do MP.

Em 2012, logo após assumir o cargo,a prefeita moveu ação contra o jornal Gazeta do Povo, e 12 outros veículos – incluindo os portais Terra e UOL – impedindo a publicação do nome dela em reportagens, onde era citada como suspeita de crime eleitoral. A proibição – acatada em primeira instância e pelo Tribunal de Justiça do Paraná – só foi derrubada em 2014 no Supremo Tribunal Federal através de liminar concedida ao jornal pelo Ministro Celso de Mello.

O Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas do Paraná, a Associação Nacional dos Jornais (ANJ), a Associação de Diários do Interior (ADI) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná repudiaram a ação adotada pela prefeitura de Campo Mourão.

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