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Barbosa Neto, prefeito de Londrina | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Barbosa Neto, prefeito de Londrina| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Às vésperas das eleições municipais, o prefeito de Londrina, Barbosa Neto (PDT), corre o risco de ser cassado. Ele é acusado de usar verbas da prefeitura para pagar dois vigias que trabalhariam na Rádio Brasil Sul, que pertence à sua família. Seu destino agora depende da avaliação dos vereadores da cidade, que instalaram uma comissão processante para avaliar sua destituição do cargo. O prefeito é acusado, também, de outras irregularidades. Caso não seja cassado, ele já anunciou que deve d'isputar a reeleição.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Barbosa negou todas as acusações e disse que está sendo vítima de uma campanha difamatória. "Nós estamos contrariando interesses de grupos ou que prestavam serviço à prefeitura, ou que querem retomar o poder. Eles estão revoltados com nossas ações", afirma. Ele alega, também, que sua derrota nas urnas favoreceria o PSDB nas eleições de 2014.

Na última terça-feira (12), o senhor anunciou que será candidato à reeleição. Neste último ano, foram feitas várias acusações contra sua gestão. Como o senhor enxerga esse cenário eleitoral?

Esse quadro que talvez possa ser pintado [das denúncias] não corresponde com a realidade das ruas. Londrina vive seu melhor momento na história. Há quem diga que o que foi feito em três anos não foi feito em trinta. E às vezes precisam veículos de comunicação de outros estados para reconhecer essa realidade. Cito, por exemplo, a revista Época, que dedicou 13 páginas à cidade de Londrina para mostrar nosso modelo de gestão, que agora foi implantado no governo do estado e já colocou R$ 79 milhões nos cofres da prefeitura.

Mas as denúncias devem afetar as eleições...

Eu tenho muita convicção de que todas essas denúncias que estão sendo feitas são eleitoreiras: sem base, sem credibilidade. As pesquisas de opinião que nós temos indicam grande preferência pelo nosso nome e uma baixíssima rejeição. Eu não sou candidato do governo federal, não sou candidato ao governo do estado, sou a terceira via e um governo que é exaltado por uma gestão corretíssima. Se eu fosse corrupto, não teria governado com 50 cargos comissionados. Estamos vendo hoje os resultados, e não por acaso recebemos inúmeros prêmios. Isso tem causado nos nossos opositores muita revolta, eles querem dar um golpe, não querem me deixar ser candidato à reeleição. Eles sabem que no momento do enfrentamento, vai ser difícil me derrotar.

E qual deve ser a estratégia para enfrentar essas eleições, já que existem tantas denúncias?

Estamos fazendo o choque de gestão, indo na contramão. Por exemplo: a cidade tinha 6.500 servidores [concursados], hoje são 9.500. Nós acabamos praticamente com as terceirizações. Até na saúde, que se fala tanto. Esses escândalos das ONGs, Oscips, nós acabamos com tudo isso. Londrina tem a segunda melhor saúde do estado, recebemos o prêmio na semana passada, do Ministério da Saúde. Tivemos reduções drásticas na mortalidade infantil e nos casos de dengue, investimos 33% do nosso orçamento na área. Quem vai à cidade e não tem preconceitos vai ver que aquilo que eu estou falando não é um sonho, mas uma realidade.

As denúncias já estão custando a perda de apoios políticos. O PCdoB, por exemplo, já determinou que...

Eu ainda tenho esperanças que o PCdoB permaneça com a gente. Ainda não está terminada essa novela com o PCdoB.

Mas essas denúncias devem ter um custo político para sua candidatura?

O objetivo de nossos adversários já foi conquistado, e é justamente esse: o prejuízo político, o desgaste, para me tirar tempo de televisão e uma base de vereadores que dariam, em tese, uma sustentação à nossa administração. O que eles fizeram foi justamente isso, fazer manchetes negativas, abrir comissões de investigação e até uma comissão processante no sentido de me desgastar, causar uma fragilidade que não daria segurança para que esses partidos estivessem juntos conosco. Isso funciona assim na política de Londrina, e já foi feito em outras eleições, inclusive. É uma prática constante de algumas pessoas que a gente conhece, dos bastidores da política, e estão a serviço de alguns partidos.

E quais partidos ganhariam com isso?

A eleição, na cidade de Londrina, não é só um jogo para esse ano. Estamos falando também na eleição de 2014. Se o PDT ganha Curitiba, Londrina, Cascavel, Umuarama, Pato Branco e outras cidades grandes e médias do Paraná, isso desequilibra o quadro eleitoral e compromete a reeleição do atual governador. Londrina é o segundo colégio eleitoral do estado, é a capital política do interior, isso tem um reflexo aqui [em Curitiba].

O senhor acredita, então, que uma derrota sua favoreceria o grupo político do governador Beto Richa.

Exatamente. Se você analisa essa prática é corriqueira daqueles que hoje estão aí no poder. Não digo o governador, mas os grupos políticos do PSDB local, que sempre fizeram isso. Não sei se você lembra da Operação Castores, que resultou na prisão de Amauri Escudero, que hoje é assessor do secretário da Fazenda Luiz Carlos Hauly. Ele foi preso com uma mala, em 2006, com material produzido contra os adversários. A mesma prática que tivemos contra a Roseana Sarney [em 2002], foi feito um dossiê, e até na eleição da Dilma.

As denúncias, então, seriam uma conspiração para prejudicar sua campanha?

Não é teoria da conspiração, basta ligar os fatos para ver como esse elo tem nexo. Por exemplo: a prisão efetuada por causa de "compra de votos para me beneficiar" foi feita a partir de uma fantasia. Foi feita uma armadilha. Um vereador do PSDB [Amauri Cardoso] atraiu para dentro de um prédio público um dinheiro que até agora ninguém sabe qual é a origem e teria pedido vantagens para votar ao lado da situação. Essa é a tese mais correta. O presidente da Câmara é do PSDB e cerceou meu direito de se manifestar em plenário nas cinco comissões especiais que ocorreram... Nenhum prefeito do Brasil foi mais investigado do que eu e até agora não apareceu nada. Essa ligação toda está sendo comprovada e é prática comum em Londrina. A população não acredita mais porque conhece muito bem.

Para o senhor, seu ex-chefe de gabinete, Rogério Ortega, que foi preso por tentativa de suborno a um vereador, é inocente?

Se você pegar as degravações, vai ouvir "você está me devendo um almoço". Se isso aí for crime, acho que todo mundo tinha que estar preso. Eles estão lá há 60 dias e não tem nada comprovado. [Se referindo ao ex-presidente da Sercomtel Roberto Coutinho, outro denunciado pelo esquema] Alguém que é fazendeiro, advogado, empresário, cartorário fez um saque de R$ 5 mil de uma conta particular e é ameaçado de prisão, tem que entregar seu passaporte e é obrigado a se desfiliar de um partido político por causa de uma fofoca dessas, um saque? Isso nem na época da ditadura militar acontecia. A pedido do Ministério Público (MP) e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), obrigou-se um presidente de partido a se desfiliar. Nunca tinha visto isso na história de Londrina. Se investigarmos os porões do DOI-Codi, não é muito diferente do que está acontecendo hoje na nossa cidade.

O senhor disse que há um forte movimento contra sua reeleição dentro do universo político de Londrina. Há temor de cassação?

Se eu for cassado pelo objeto concreto que motivou o pedido da comissão processante, vai ser outra demonstração de um regime de exceção. Vou ser um bode expiatório. Se eles querem colocar a cabeça do Barbosa Neto em uma bandeja, eles que me cassem por esse motivo. Você sabe como a Justiça Trabalhista é célere e rigorosa. Ela própria já excluiu a Rádio Brasil Sul e a prefeitura de qualquer responsabilidade. Eu tenho cópias de um contrato feito que declara que a responsabilidade pelos vigias era da empresa [Centronic], coisa que até agora nunca foi colocado para ser investigado. As outras denúncias, de propina e mensalinho [suspeitas da gestão de Michelleti], nunca ninguém colocou...

Como foi a contratação da Centronic pela prefeitura de Londrina?

O contrato foi iniciado em 2006, na gestão do Nedson Michelleti, e encerrado em 2010, na minha gestão. O MP tem procedimento aberto de denúncia de pagamento de propina, e nós rompemos com isso. Isso deve ter deixado muitas pessoas iradas, pois estavam recebendo e eu cortei, sequei a fonte. Quem hoje faz parte desse serviço é a Guarda Municipal. Você acha que um prefeito irresponsável vai criar uma guarda como nós criamos em nossa administração para fazer a vigilância dos espaços públicos?

E houve alguma irregularidade, por parte da prefeitura ou da Rádio Brasil Sul, na contratação desses vigias?

Não existe nenhuma relação que me ligue a tudo isso, muito pelo contrário. Desde que eu assumi a prefeitura, não participo de nada da rádio. Se tivesse algum depoimento que dissesse "o prefeito veio aqui, pediu para beneficiar a Centronic"... se eu tivesse algum conluio com a Centronic, você acha que eu ia cancelar o contrato?

Então o senhor diz que a prefeitura não pagou os vigias que trabalharam em sua rádio.

A prefeitura não contrata pessoas, contrata serviços. Um dia o vigia está na prefeitura, outro na rádio. Quem paga é a empresa.

Além disso, há uma investigação por enriquecimento ilícito contra o senhor, tramitando no MP, envolvendo um empréstimo que o senhor tomou do empresário Sérgio Malucelli. O que aconteceu?

É uma mistura de um monte de situações que não tem relação nenhuma. Eu tenho uma relação de amizade com o Sérgio Malucelli, e fiz um empréstimo, que não são dos valores divulgados, que envolvem questões da rádio. Não houve enriquecimento ilícito. O que houve foi um empobrecimento lícito da minha parte. Estou me desfazendo de capital, perdendo bens para poder manter-me como prefeito da cidade, pois ganho menos do que recebia como deputado federal, estadual, ou quando trabalhava em rádio.

Mas há a suspeita de que esse dinheiro seria usado para a compra de emendas parlamentares ao orçamento da União, feita por deputados federais do Rio de Janeiro. Isso é verdade?

Não existe emenda. Me mostre qual é essa emenda, que eu já ouvi falar tanto. Não recebi um centavo de emendas de deputados do Rio de Janeiro, é uma tese fantasiosa. Se tiver um registro de que Londrina recebeu um centavo de verba desse ou daquele deputado, renuncio ao meu mandato.

No ano passado, houve também outro escândalo, envolvendo duas ONGs, os institutos Galatas e Atlântico. A sua mulher foi acusada de participar de esquema de desvio de verbas públicas, envolvendo essas ONGs. O que aconteceu?

São interesses contrariados. Nós tiramos as ONGs que prestavam esses serviços. Quando eu soube de uma nota de que o volante de uma ambulância tinha sido trocado por um valor vinte vezes maior, fui ao MP avisá-los. Eles não quiseram ouvir isso aí. Depois, fizeram a operação antissepsia. Eu cortei essas terceirizações. Nós rompemos com isso tudo e acabamos com a terceirização, contratamos mais de 1,5 mil servidores. O PT de lá terceirizava tudo, contrariando a cartilha que eles escrevem.

A gente conversou sobre várias acusações diferentes relativas ao seu mandato. Elas são todas falsas?

Nós estamos contrariando interesses de grupos ou que prestavam serviço à prefeitura, ou que querem retomar o poder. Eles estão revoltados com nossas ações. Por exemplo: se fala tanto do lixo, que junto com o transporte coletivo financiam campanhas em todo o Brasil. Nós deixamos irados os que estão acostumados a fazer esse serviço porque criamos uma central de tratamento de resíduos que é a melhor do estado do Paraná, Londrina resolveu esse problema. Um orçamento que seria de R$ 40 milhões nós resolvemos por R$ 2,8 milhões, em uma área pública certificada pelo IAP. Resolveu o problema, fechamos o aterro. Isso revolta as pessoas que estavam acostumadas a receber do serviço público, estavam acostumadas com a teta gorda, todo mundo lucra, é da viúva, não é de ninguém. Nós acabamos com isso, como deve fazer um administrador responsável.

Desde a gestão do ex-prefeito Antônio Belinatti, Londrina vem passando por sucessivas crises políticas, a maioria delas envolvendo denúncias de corrupção. Isso não acontece em Curitiba, ou Maringá. Por que isso acontece lá?

Eu já vi teses de sociólogos e antropólogos e analistas políticos que querem definir a cidade de Londrina. Não é pelo jornal, não é no ar-condicionado de um estúdio de TV ou de rádio que você vai detectar o que as pessoas sentem na cidade de Londrina. Não posso querer tecer juízo de valor, mas Londrina é uma cidade jovem, com um povo crítico. Temos um público crítico universitário, são 15 instituições de ensino superior, com mais de 60 mil pessoas. Londrina tem essa ebulição, essa efervecência... E lá as coisas são abertas, são francas, Londrina é contestadora, não aceita imposições, o londrinense é muito crítico com as coisas.

Mas não é grave passar mais de dez anos com a prefeitura sob sucessivas acusações de corrupção?

Londrina tem 22 veículos de rádio, cinco geradoras de TV aberta, dois jornais diários, mais de vinte jornais semanais. Nem tudo que se publica no jornal é verdade. Principalmente quando entra um prefeito que rompe com a compra do silêncio que foi feita na gestão passada. R$ 107 milhões compraram, em oito anos da administração passada, o silêncio dos veículos de comunicação. Nós acabamos com isso. A imprensa é livre, faço entrevistas coletivas, chova ou faça sol, uma vez por semana, não peço para me perguntar desse assunto ou para não me perguntar de outro assunto. Londrina queria um prefeito legalista e eu entrei. Alguns setores estavam desacostumados com a legalidade. É isso que está gerando tanta celeuma. Mas vá lá ver como a cidade é hoje.

A imprensa londrinense tem criticado sua posição de enfrentamento contra a mídia durante essas crises. Isso não pode ser um problema político para o senhor?

Eu sou franco, eu sou verdadeiro. A gente não precisa posar de personagem na frente da imprensa. Sou aquilo que eu sou. Sou jornalista também, trabalhei n’O Estado do Paraná, televisões, rádiosTenho uma relação boa com a imprensa. Você precisa filtrar para ver de onde parte isso. São muitos desafetos, alguns que trabalharam para mim e foram demitidos. Há também dor de cotovelo, de alguns que queriam estar onde eu estou. O prefeito anterior fugia das entrevistas, eu dou entrevista toda semana. Sou aberto. Mas ninguém é obrigado a concordar com o que eu falo e eu também não sou obrigado a concordar com aquilo que eles escrevem.

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