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Entenda o caso

• O governador Roberto Requião fez uma denúncia contra o prefeito Beto Richa na última terça-feira. Ele afirmou que o irmão do prefeito, José Richa Filho, usou seu cargo no DER para desviar dinheiro para a campanha de 2002. O dinheiro teria sido usado na tentativa de Richa de chegar ao Palácio Iguaçu.

• Requião fez a denúncia durante a reunião do secretariado estadual. Beto Richa respondeu logo em seguida com uma carta pública em que questionava o caráter do governador. A partir daí, aliados dos dois políticos passaram a usar diversos meios para defender seus pontos de vista.

• O PMDB publicou uma nota oficial que logo em seguida virou um panfleto de acusaçao contra Richa. O prefeito, por outro lado, mobilizou diversos políticos que saíram em sua defesa, atacando o governador. O clima continuou esquentando e, quando os dois se encontraram, em uma sessão solene da Assembléia Legislativa, não se cumprimentaram.

• Além disso, o governo do estado continua mantendo suspensos os repasses de R$ 50 milhões a Curitiba. A suspensão ocorreu depois da eleição do ano passado, quando Richa apoiou o senador Osmar Dias.

Um levantamento exclusivo do Instituto Paraná Pesquisas para a Gazeta do Povo mostra que a população de Curitiba desaprova a postura do governador Roberto Requião e do prefeito Beto Richa, que passaram a semana trocando acusações pesadas entre si. Foram entrevistados 980 moradores da capital paranaense entre quinta-feira e ontem. A margem de erro é de 3,5%. Todos os ouvidos no levantamento têm mais de 16 anos.

De acordo com a pesquisa, 69,9% dos curitibanos consideram que a briga entre Requião e Richa – que chegou a ter palavreado de baixo nível, com uso de termos como "pinóquio", "mentiroso" e "covarde", entre outros xingamentos – não condiz com o cargo que os dois ocupam.

Ainda segundo o levantamento, 83,3% acreditam que a batalha governamental tem somente interesses políticos. Apenas 1,3% acha que, além de interesse político, os dois podem estar pensando no bem-estar da população.

O desfecho do desentendimento entre o peemedebista e o tucano, segundo 71,4% do entrevistados, pode ser um enorme prejuízo no repasse de verbas da administração estadual para a cidade de Curitiba. É fato que, desde o fim do ano passado, após o término da eleição, cerca de R$ 50 milhões deixaram de ser repassados ao município pelo governo do estado. Mas ainda há os esperançosos, que não temem suspensão na transferência de verbas. Esses são 21,6%.

Entre os entrevistados, 28,5% não souberam dizer se algum dos dois políticos tem razão na disputa. Beto Richa ainda se saiu melhor: 35,7% acham que ele tem razão. Esse número representa praticamente o dobro dos que dão razão a Requião, que são 18,9%. Os que afirmaram que nenhum dos dois tem razão somam 13,9%. E 2,8% disseram que cada um tem um pouco de razão.

Dos 980 curitibanos ouvidos na pesquisa, 54,2% souberam do embate entre Requião e Richa. Os que não ficaram sabendo são 45,7%.

Opiniões

O conflito entre os dois governantes fez o curitibano ficar ainda mais descrente em relação aos políticos. "Já está em um nível de baixaria, de falta de respeito. Eles parecem dois moleques. A carta do Richa foi uma vergonha", disse o corretor Edson Luiz Pacheco, de 50 anos.

E enquanto o embate se desenrola com novas acusações, a população acha que sai perdendo com a briga. A cozinheira Clarice Miranda, de 48 anos, sentiu na pele as retaliações em governos passados. Ela conta que em 1992, quando recebeu um terreno da Cohab, no Bairro Novo, das mãos do então prefeito Jaime Lerner, faltava apenas a conclusão das obras para a instalação do sistema de energia elétrica.

Na época, havia um embate entre o prefeito e o governador Roberto Requião como governador, segundo Clarice. "Colocaram alguns postes de luz. Eles brigaram e, como a Copel é do governo do estado, a gente ia na Copel e falavam que o prefeito brigou com o governador". A cozinheira contou que ficou três meses sem luz. "Não tinha geladeira, nada. Por isso, digo que quem paga pela briga dos políticos somos nós".

E por mais que assessores dos envolvidos no confronto cismem em afirmar que o motivo do desentendimento não tenha sido político, está difícil fazer o curitibano acreditar nisso. Para o gerente comercial Roberto Rivelino França, de 35 anos, o fator motivante foi o apoio de Richa ao senador Osmar Dias (PDT) no segundo turno da última eleição.

Já as mulheres pedem mais cautela e que o nível da discussão seja mais elevado. Elas acham que os administradores públicos devem zelar pela população e dar exemplos. "Acho que o Requião é um mal educado, não respeita as pessoas e é grosso", disse a balconista Cleonice Pereira da Silva, de 31 anos.

O prefeito Beto Richa não quis comentar a pesquisa. Ele afirmou apenas que respeita e entende a opinião da população. O chefe da Casa Civil do governo do Paraná, Rafael Iatauro, disse não acreditar mesmo que essa seja uma disputa política. "Pode dar a impressão e é normal que dê de que é uma disputa política. Mas não concordo. Não é uma briga de hoje. Ela começou em 2003, quando foi para o Judiciário, após denúncia do governador". O secretário analisou ainda o fato de a população estar mais favorável ao prefeito. "Talvez pelo fato de o governador ter levantado o fato com a veemência que o fez".

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