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Demóstenes Torres defendeu-se, na tribuna do Senado, no dia em que teve mandato cassado | Cadu Gomes/Reuters
Demóstenes Torres defendeu-se, na tribuna do Senado, no dia em que teve mandato cassado| Foto: Cadu Gomes/Reuters

"Ex-senador foi imolado, mas não por ética"

Elvi Cenci, professor de Ética e Filosofia Política da Universidade Estadual de Londrina.

Leia entrevista completa.

Uma combinação de quatro ingredientes sinaliza que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista que investiga a ligação de políticos com o bicheiro Carlinhos Cachoeira caminha para acabar em "pizza". A cassação do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), acompanhada pelo recesso parlamentar, as campanhas eleitorais e o julgamento do mensalão tendem a tirar o foco das investigações. Pelo cronograma, o relatório final dos trabalhos será colocado em votação em 25 de outubro, três dias antes do segundo turno das disputas municipais.

O primeiro passo para o esvaziamento está ligado ao calendário. Além das férias formais, entre 18 e 31 de julho, Senado e Câmara dos Deputados divulgaram na semana passada recessos "brancos" com reduções drásticas no número de sessões deliberativas entre agosto e outubro. Os senadores terão votações em plenário em apenas quatro das 12 semanas desse período, enquanto os deputados vão "enforcar" duas semanas de votação em agosto e uma em setembro.

Segundo o presidente da CPI, senador Vital do Rego (PMDB-PB), na comissão o regime será diferente. "A impossibilidade de realização de reuniões não interromperá o normal funcionamento administrativo da comissão, nem mesmo as atividades de análise da documentação que os congressistas desejarem efetuar", disse, em nota, sobre o período entre 18 e 31 de julho. Ou seja, quem quiser trabalhar não será impedido.

Depois disso, a comissão voltará a realizar sessões com depoimentos, mas terá de disputar a atenção da imprensa com o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), que começa no dia 2 de agosto. As presenças mais esperadas são as do ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot e a do ex-diretor da construtora Delta Fernando Cavendish.

"São depoimentos que podem mudar o rumo da CPI e a dimensão do escândalo. O governo fez um esforço concentrado de manter o caso no âmbito de Goiás, agora chegamos aos desvios no âmbito nacional", diz o senador Alvaro Dias, líder do PSDB e um dos quatro paranaenses entre os 60 membros da comissão. Os outros três são o senador Sérgio Souza (PMDB) e os deputados Dr. Rosinha (PT) e Rubens Bueno (PPS).

"Discordo que a CPI vai ficar mais morna. Esse período das eleições será ótimo para aprofundar a investigação", defende Rosinha. Para ele, a comissão precisa ficar com o "crédito" pela cassação de Demóstenes e usar isso como estímulo.

Já Bueno diz que a cassação aumenta a responsabilidade da CPI. Candidato a vice-prefeito de Curitiba na chapa de Luciano Ducci (PSB), ele tem repetido que a campanha não vai atrapalhar seu desempenho na CPI. Outra titular da comissão envolvida diretamente com a eleição é a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), candidata a prefeita de Manaus.

Na esteira do caso Demóstenes, também deve crescer a pressão pela investigação de pelo menos cinco deputados suspeitos de manter relações políticas com Cachoeira. Assim como o senador cassado, são citados na operação Monte Carlo, da Polícia Federal, Rubens Otoni (PT-GO), Sandes Júnior (PP-GO), Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), Stepan Nercessian (PPS-RJ) e Jovair Arantes (PTB-GO). Os dois primeiros escaparam de processos no Conselho de Ética na semana passada, enquanto Lereia será submetido a investigação.

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