Rosa Cardoso, coordenadora da Comissão da Verdade| Foto: Christian Rizzi/ Gazeta do Povo

A Comissão Nacional da Verdade recebeu ontem um relatório das centrais sindicais em que elas denunciam a colaboração de empresas públicas e privadas com agentes da ditadura. Além disso, para obter mais informações sobre esse suposto auxílio que grandes companhias davam aos ministérios do Exército e da Aeronáutica, a Comissão solicitou mais documentos sobre a relação entre empresas, funcionários e militares ao Ministério do Trabalho.

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A comissão analisa como responsabilizar as companhias materialmente e simbolicamente caso fique constatado que elas de fato colaboraram com agentes da repressão. "Vamos estudar e construir um trabalho para mostrar que as empresas demitiram sistematicamente grupos de trabalhadores. Quando conseguirmos comprovar que essa política foi sistemática, vamos arguir isso como crime de lesa-humanidade" disse a coordenadora da comissão, Rosa Cardoso.

Ela afirmou que a comissão vai estudar a possibilidade de uma reparação financeira pelas empresas aos trabalhadores nos moldes da existente em outros países. No entanto, para isso ocorrer, é preciso que os interessados entrem com pedido na Justiça. "Nós vamos estudar a possibilidade de uma reparação simbólica e material das empresas que despediram grupos de trabalhadores. Os indícios [de que empresas colaboravam com agentes da ditadura] são fortes, mas ainda temos que verificar se são sistemáticos", disse a coordenadora.

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Segundo Rosa, um dos acervos mais importantes que terá que ser trabalhado pela comissão está no Ministério do Trabalho. Os documentos já foram solicitados pela comissão. "O acervo do ministério já havia sido levantado minimamente pelo Arquivo Nacional, mas ainda não tivemos acesso. Esse material que está no Ministério do Trabalho conta como foi a intervenção nos sindicatos. Há indicação de nomes de sindicalistas que foram perseguidos e de pessoas que não deviam encontrar emprego pois foram rotuladas como subversivas", conta Rosa.

De acordo com o sindicato Conlutas, várias empresas cederam informações ao Exército e ao Dops. Além disso, o Conlutas afirma que havia uma "lista negra" que circulava entre várias empresas, com nomes de trabalhadores que eram demitidos e, por participarem de greves, panfletagens ou sindicatos, não podiam ser contratados.

Depois da análise dos documentos, a Comissão Nacional da Verdade realizará audiências públicas para ouvir depoimentos de trabalhadores e sindicalistas vítimas da ditadura e de seus familiares. Empresas também serão chamadas para participar das audiências.

A Comissão possui um grupo de trabalho criado especialmente para apurar a repressão militar a sindicalistas e integrantes de movimentos de trabalhadores. Ainda não há, no entanto, uma previsão de quando esses depoimentos começarão a ser colhidos.