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Treze anos e R$ 11 bilhões depois, Rafael Greca parece prestes a deixar o transporte coletivo de Curitiba novamente como era antes de Beto Richa. Tudo indica que o novo prefeito vai elevar a tarifa de R$ 3,70 para R$ 4,20. A paz entre a prefeitura e as empresas do antigo monopólio será assim selada novamente, depois de um longo período de transição.

Quem coloca – ou pelo menos colocava – a culpa em Richa é o próprio Greca. Em 2012, quando foi candidato ao cargo que hoje ocupa, declarou à repórter Caroline Olinda que Beto, seu atual patrono, sacrificou “no altar da ambição política” a qualidade de vida dos curitibanos. A resposta veio quando a jornalista perguntou se era possível baratear a passagem de ônibus.

“Aí está o ovo da serpente. Quando o Beto Richa usou como moeda de troca política o preço da passagem de ônibus, ele começou a destruir o sistema de transporte de Curitiba. As coisas custam o que custa, elas não custam aquilo que me leva para o poder”, disse o então requianista.

Greca (aquele, de 2012) tinha razão. Richa se elegeu prefeito à custa de uma esperteza – baixou a tarifa, quando era vice, aproveitando uma ausência do titular, Cassio Taniguchi. Virou o prefeito da tarifa baixa – o que significa também ter sido o prefeito que abriu um rombo financeiro gigante no transporte coletivo.

Em 2010, na licitação do ônibus, as empresas tinham mais de R$ 200 milhões em créditos com a prefeitura. Puderam usar isso para pagar a outorga multimilionária – por uma dessas coincidências da vida um valor era quase equivalente ao outro. Ninguém mais se inscreveu na licitação – quem mais poderia concorrer com isso?

Depois da licitação, a coisa ruiu de vez. Pela primeira vez, foi preciso usar subsídio do governo do estado para manter os ônibus rodando. Como Beto era governador e um aliado, Luciano Ducci, prefeito, tudo ficou resolvido. Bastou um desafeto – no caso, Gustavo Fruet, assumir a prefeitura para o dinheiro do subsídio misteriosamente sumir (foi reencontrado no fundo de uma gaveta assim que Greca se elegeu).

Em um ponto Greca se manteve coerente. Parece querer que o sistema funcione de modo autossustentável. Para isso, claro, o curitibano vai ter que desembolsar R$ 1 a mais por dia de trabalho ou de escola. Mas os Gulin haverão de ficar felizes e as ameaças de greve provavelmente vão parar. Quem sabe o sistema até volta a ter ônibus novos?

Pode ser coincidência, mas um motorista de expresso na segunda-feira (23) já contava que sua empresa estava comprando 40 ônibus novos e dizendo que finalmente ia parar de dirigir as latas-velhas que circulam por aí – desde que a briga com Fruet ficou mais feia, as empresas foram à Justiça para não comprar ônibus novos, e mais de 400 estão com vida útil vencida. Curiosamente, elas seguem recebendo o dinheiro da depreciação dos busões.

Nesses 13 anos, muita gente saiu ganhando. Beto Richa fez sua carreira, Rafael Greca ganhou um padrinho e os donos das empresas seguiram gerindo um negócio de R$ 1 bilhão ao ano. Quem saiu perdendo (além de Gustavo Fruet, que em nenhum momento soube o que fazer sobre o tema) foi o curitibano que anda de ônibus, feito de joguete de toda essa história. E que, agora, voltará a pagar a tarifa desejada por quem está do outro lado do caixa.

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