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Um levantamento feito meio de brincadeira no blog que leva o mesmo nome desta coluna, o Caixa Zero, no site da Gazeta do Povo, coletou vários momentos em que o governador Beto Richa (PSDB) dizia estar surpreso com fatos que aconteceram no estado durante a administração dele. Era um jeito de mostrar que, assim como Lula sempre dizia não saber de nada, o governante local também tinha sua válvula de escape para os momentos em que se via colocado contra a parede. "Fui pego de surpresa" era a frase padrão para esses casos.

O post virou tema de campanha, com direito a piadinhas dos opositores, que tentaram emplacar o apelido de "Kinder Ovo" em Richa – o governador que sempre vem com uma surpresa. Para quem não está disputando nada contra o governador, no entanto, o que importa não é se isso pode trazer dividendos eleitorais, e sim discutir o modo como se governa um estado. Mario Covas (um dos exemplos sempre citados por Richa) morreu de câncer no seu segundo governo em São Paulo. Até o final, porém, pedia que lhe informassem, diariamente, no hospital, a situação do caixa do estado.

Na sabatina da Gazeta do Povo, na semana passada, Richa soltou um turbilhão de dados sobre os quatro anos de seu governo. No entanto, quando confrontado com números diferentes dos que tinha na cabeça sempre tratou de desmerecer os dados. Exemplo? Os repórteres perguntaram sobre violência citando estatísticas do Datasus. Richa reagiu dizendo que não conhecia os números, e que confiava nos da secretaria. Ora, o Datasus é o sistema nacional e oficial de informações sobre saúde e mortalidade.

Num outro momento, falando de educação, Richa tentava explicar o motivo de o Paraná ter perdido cinco posições no Ideb, o índice de monitoramento e avaliação do ensino básico no país. Acabou dizendo que a Secretaria de Educação discordava da metodologia usada. Foi lembrado pela jornalista Bruna Maestri Walter que, quando prefeito de Curitiba, sempre se vangloriou de ter colocado a cidade por três anos como líder do mesmo ranking. Disse que isso ocorreu três vezes seguidas (o que diminuiria a chance de erro, imagina-se). O colunista Celson Nascimento lembrou-o de que a atual avaliação veio igualmente após três anos de governo.

Em outro ponto, falando sobre o eterno calo em seu secretariado – a permanência de Ezequias Moreira, o homem da sogra fantasma, no primeiro escalão – Richa perguntou como poderia saber que ele estava a uma semana da audiência que poderia tê-lo condenado criminalmente no momento em que o nomeou secretário, dando a ele foro privilegiado. Os jornalistas informaram que a data da audiência era pública. "Ah, estava marcada? Está bom", disse Richa.

Em certo momento, Richa fez algo ainda mais curioso. Grande fã de rankings e números, o governador contestou dados concretos sobre investimento sem citar outros números que lhe favorecessem. Disse que o melhor era esquecer os dados e "ver a realidade" nos municípios do interior.

É claro que a máquina pública de um estado como o Paraná é imensa, e ninguém tem como acompanhar tudo ao mesmo tempo. Mas nem que seja para o debate de ideias, não é possível ficar desqualificando números e informações que sejam negativas para a gestão. Assim, só se empobrece a conversa, que fica reduzida a mera propaganda de todos os lados.

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