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Reclama-se que cada vez mais os candidatos a cargos eleitorais parecem de plástico. São em grande parte semelhantes a produtos encontrados em mercados – e é como produtos que são tratados por seus marqueteiros. Rostos trabalhados no Photoshop, discurso ensaiado para não cair em radicalismos ou deslizes, aparições públicas controladas. Sem falar nos milhões investidos em propaganda propriamente dita: filmes para a televisão, principalmente, destinados a tirar do candidato seu lado humano e mostrá-lo como um herói ou a encaixá-lo em um estereótipo qualquer.

Na eleição paranaense deste ano, alguns momentos vêm ajudando a demonstrar o quanto o marketing vem tomando o lugar da realidade nas campanhas. Dois dos principais candidatos ao governo do estado – Beto e Gleisi – foram pegos com eleitores "de mentirinha" em seus sites de campanha. O truque foi descoberto pela repórter Jéssica Carvalho, que identificou fotos de banco de imagem no Facebook de Gleisi. Eleitores do Arizona ou sabe-se lá de onde apareciam com legendas dizendo que votavam em Gleisi.

Richa usou o artifício de maneira mais moderada, mas numa das páginas de seu site havia a foto de uma "eleitora" que igualmente era modelo de banco de imagens: fotografada por um profissional provavelmente em outro país e disponível para compra por quem quiser usá-la. No caso do governador, foi inserida na plaquinha que ela segurava a inscrição "Eu acredito". A assessoria do governador disse que era só um exemplo do que as pessoas de carne e osso podiam fazer para aparecer no site. Gleisi também defendeu o uso do banco de imagens como forma de baratear a campanha.

O fato é que tanto Richa quanto Gleisi recuaram e passaram a só usar fotos locais. O terceiro candidato forte ao governo, Roberto Requião, aproveitou para tirar um sarrinho dos dois. No seu site não havia uso de banco de imagens – até porque, como lembrou alguém, lá só existe Requião, só há fotos de Requião e não há espaço para mais nada ou ninguém. Mas o peemedebista fez uma exceção e passou a publicar fotos de pessoas com placas indicando que eram "eleitores de verdade" e que, claro, diziam estar com ele.

O ex-governador gosta de passar exatamente essa imagem. A do homem forte, independente, que rejeita o marketing e governa à moda antiga, sem truques de publicitários. Faz questão às vezes de chegar ao tosco: enquanto os outros gastam milhões em produtoras de vídeo, ele faz campanha com a camerazinha instalada em seu computador, via Twitter. É o candidato dos que querem crer que não são enganados por truques de propaganda. É um homem autêntico, sem a película imposta pelo marketing. Pode ser.

Mas a habilidade de Requião está justamente em ser o marqueteiro de si mesmo. Ao ser "autêntico", está na verdade vestindo uma persona que criou para si mesmo e que, por vestir há tanto tempo, tornou-se já como uma segunda pele. Nem ele mesmo deve saber mais o que faz por ser de seu jeito e o que faz por ter descoberto que funciona como instrumento de conquista de votos.

Seu personagem é mais original do que o da maioria dos políticos. Enquanto os outros querem parecer iguais, posicionando-se ao centro para não ofender os extremos, bajulando instituições e imprensa, ele faz o oposto. Compra briga atrás de briga. Porque, afinal de contas, se não puder mostrar um pouco de indignação, se for a favor de coisas demais, seu personagem perde em força. E o senhor autêntico do "MDB Velho de Guerra" torna-se mais um no meio dos outros. Eis algo que Requião jamais poderia ser capaz de aceitar.

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