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Um personagem de Woody Allen dá um sábio conselho no filme Igual a tudo na vida. "Quando alguém der um palpite, diga que você adorou a ideia. Depois vá e faça do seu jeito." Já testei na vida real. E funciona! Sabe quem mais parece ter aproveitado o conselho? O prefeito de Curitiba, Beto Richa.

Há oito anos o Ministério Público exigiu que a prefeitura de Curitiba fizesse aquilo que a Constituição já obrigava de qualquer jeito: uma licitação para escolher os concessionários de serviços públicos. No caso de Curitiba, o ponto eram os ônibus da cidade, que rodam há décadas, sempre tocados pelas mesmas empresas, sem que outras tenham tido chance de participar de uma concorrência.

Richa assumiu a prefeitura pela primeira vez em 2005. Quatro anos antes, quando o Ministério Público cobrou a licitação, ele era vice de Cassio Taniguchi. Ao chegar a prefeito, disse que topava a ideia dos promotores. E começou a longa jornada da licitação curitibana.

Até 2007, a licitação não saía, dizia-se, porque era preciso esperar que a Câmara de Curi­­­tiba votasse a nova lei de transportes. No finzinho do ano, bem no finzinho, os vereadores votaram a lei. Aí, parecia, a coisa ia andar. Que nada.

Depois era preciso esperar a regulamentação da lei. Demorou mais do que se imaginava, mas a regulamentação veio em dezembro de 2008. Mas isso, novamente, não encerrou a questão. Depois da regulamentação é que virá o edital da licitação. Sabe-se também que esse não deverá ser o passo final, porque certamente os empresários que operam o sistema entrarão com demandas judiciais que emperrarão o tema por muito mais tempo. (Eles já falaram até mesmo que querem assumir o metrô, se um dia ele vier a sair do papel! O argumento é sempre o mesmo: são os mais preparados para a função. Como saber se não há comparação?)

Estou disposto a apostar com quem quiser que a licitação não sai durante a gestão de Beto Richa. Ele já passou quase cinco anos como prefeito. Em seis meses, ao que tudo indica, deve deixar o cargo para disputar o governo do estado. E deixará incompleto um trabalho que poderia ter realmente marcado a sua passagem pelo Palácio 29 de Março. Poderia ter dado aos curitibanos a chance de saber se os R$ 2,20 que desembolsam para ir a qualquer lugar da cidade são mesmo o preço justo pelo serviço que recebem.

Seria a chance de o prefeito dar transparência a um sistema milionário e que, segundo matéria publicada pela própria Gazeta do Povo no primeiro semestre deste ano, é deficitário. Segundo planilha (incompleta) publicada pelas próprias empresas de ônibus no site de seu sindicato, o sistema continua recebendo R$ 59 milhões do meu, do seu, do nosso dinheiro todos os meses. É muito dinheiro. É o equivalente a quase um terço do orçamento municipal passando pela mão de apenas dez empresas, de umas poucas famílias que foram escolhidas pelo destino para tocar o serviço.

Richa ainda tem tempo para fazer o que deve. Mas será que fará? Por enquanto parece que ele aceitou a proposta do personagem do filme. Disse que fazer a licitação era uma ótima ideia. E depois fez tudo de seu próprio jeito.

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