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Maquiavel dizia que o governante deve fazer todo o mal que considerar necessário de uma só vez, para que "pareça menos amargo". Já o bem deveria ser feito "pouco a pouco, a fim de que seja mais bem saboreado". Faz sentido. E os governantes, por intuição ou por terem aprendido com seus antecessores, costumam seguir o conselho. Foi o que fez o governador Beto Richa (PSDB), enviando à Assembleia duas dezenas de projetos de lei com medidas duras e impopulares.

Não se pode tirar toda a razão de Richa. Todos os governos estão passando por aperto, principalmente porque a economia do país vai mal. Bancar toda a estrutura pública tem seu preço, e às vezes é preciso cobrar mais do que a população estaria disposta a pagar. A presidente Dilma fez o mesmo recentemente, anunciando aumento na Cide e aperto fiscal; Gustavo Fruet tem atrasado contas e quer aprovar o aumento do ITBI. Não existe almoço grátis, dizem os economistas...

No entanto, para que a população compreenda que é necessário cobrar mais (IPVA, no caso) é preciso mostrar que está sendo feito um esforço para gastar de maneira eficiente. E é nesse ponto que nossos governantes pecam muitas vezes. A presidente Dilma Rousseff tem muito mais a explicar nesse tópico, claro, já que estamos em meio a um escândalo de corrupção gigante em Brasília.

Por aqui, não há nada remotamente parecido. Mas retomando as notícias dos últimos dias, justo na semana anterior ao "pacote de maldades" chegar à Assembleia Legislativa, dá para ver que o governo poderia ser bem mais eficiente com o nosso dinheiro. Como exemplo: o Tribunal de Contas do Estado revelou que o governo do estado vem pagando por um helicóptero para ele ficar parado em solo, sem uso. Só no ano passado foram quase R$ 300 mil de pagamentos desnecessários para a Helisul.

Ontem, a Casa Civil também lançou edital para contratar a montagem do palanque em que Richa vai tomar posse para o início do segundo governo, em 1.º de janeiro. São R$ 198 mil (sem contar os comes e bebes e todo o resto das contratações para a festança).

Claro que a posse tem de ocorrer, mas pegaria bem se o governador Beto Richa, ao fazer todo esse discurso de austeridade, marcasse uma posse simples, sem toda a pompa e cerimônia.

Richa tentou mostrar que vai "cortar na carne" ao reduzir o número de secretarias. Mas até aí a coisa parece incompleta. Até onde se sabe, continua sem ser extinta a Secretaria Especial de Cerimonial, recriada às pressas no ano passado quando Ezequias Moreira, antigo aliado de Richa, estava à beira de uma audiência criminal que poderia leva-lo a uma condenação. A "promoção" levou o caso para o Tribunal de Justiça, onde tudo está parado há 17 meses.

Nesta semana, o Ministério Público recorreu do foro privilegiado e chegou a falar em abuso de poder do governo. A secretaria se mostrou totalmente desnecessária, já que antes havia uma coordenação que fazia exatamente o mesmo trabalho. Só o que mudou com a criação do cargo foi colocar no governo mais um salário de secretário para Ezequias. De qualquer jeito, teremos um secretário de estado para organizar a posse, já que Richa preferiu eliminar três outras secretarias, mas não a de seu amigo.

Alguém pode alegar que os custos citados acima são todos baixos demais para reduzir o buraco em que o estado está metido. Evidente. Mas o ponto é que se o governo não dá mostras de que está realmente em cima para cortar gastos desnecessários, ainda que pequenos, fica difícil o cidadão entender que precisa pagar 40% a mais de IPVA no próximo ano.

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