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O pastor Paschoal Piragine Júnior virou um hit na internet. Um pronunciamento seu, feito no último dia 29, já havia sido visto por 750 mil pessoas no YouTube até o fim da tarde de ontem. E o número não para de subir. No vídeo, de 11 minutos, o pastor fala de política. Não recomenda voto propriamente em nenhum candidato. Mas diz claramente aos fiéis em quem ele recomenda que não votem.

O alvo da crítica é o Partido dos Trabalhadores, especialmente pela postura adotada em relação ao aborto. O pastor lembra que o Plano Nacional de Direitos Humanos defendia claramente a legalização do aborto no país. E que o 3.º Congresso do PT também fechou questão em relação à descriminalização.

É verdade. Em seu 3.º Con­­­gresso, o PT aprovou o seguinte texto: "Defesa da autodeterminação das mulheres, da descriminalização do aborto e regulamentação do atendimento a todos os casos no serviço público evitando assim a gravidez não desejada e a morte de centenas de mulheres, na sua maioria pobres e negras, em decorrência do aborto clandestinos e da falta de responsabilidade dos estados no atendimento adequado às mulheres que assim optarem".

Em nota publicada em seu site quando o Diretório Nacional optou por não aprovar a CPI do Aborto, proposta no Congresso Nacional, o partido disse ainda que "tratar desse tema criminalizando as mulheres, impondo valores religiosos ou morais, é apostar no autoritarismo que queremos que não exista em nossa sociedade".

Para o pastor, os fiéis devem levar isso em consideração na hora do voto para "não institucionalizar a iniquidade na forma da lei". O próprio pastor diz que não esperava a repercussão que conseguiu. "Guardadas as proporções, entendi como Lutero se sentiu ao pregar suas teses na sua igreja e de repente ver a repercussão que aquele seu ato teve", disse ontem.

Claro que a repercussão não foi só positiva. Enquanto muitos fiéis aplaudiram a postura do pastor, outros ficaram furiosos. Caso do presidente estadual do PT, deputado Ênio Verri, que chegou a falar em processar o pastor. Ontem, procurado pela coluna, disse que não vai mais repercutir o caso. "Está nas mãos da direção nacional do partido", afirmou, quando perguntado se o caso seria mesmo levado à Justiça.

A manifestação do pastor não foi isolada. Dentro da Igreja Católica também já houve posicionamentos claros contra o PT em razão da postura diante do aborto. O bispo de Oliveira (MG), dom Miguel Ângelo Ribeiro, chegou a publicar um artigo, intitulado "Não Matar". Pregava que não se votasse em Dilma.

A questão religiosa não é muito comum na eleição brasileira. Em outros países, como nos Estados Unidos, não há candidato que se apresente sem dizer se é contra ou a favor do aborto. Cumpre dizer: ambas as posições são válidas e o debate é importante. Lá, o eleitor sabe claramente, pelo menos, o que esperar nesse sentido.

Aqui, o PT tomou a frente na defesa do aborto. Chegou a cassar direitos partidários de dois deputados que foram contra a posição do partido. Agora, paga o preço óbvio por isso: quem é religioso não topa o discurso do partido.

É bom que a questão venha à tona. Os três candidatos à Presidência, na verdade, parecem saber o que querem (Dilma e Serra têm postura a favor da descriminalização; Marina é contra), mas preferem evitar o confronto aberto. Uns dizem que "ninguém é a favor do aborto"; outros dizem que deixarão tudo para um plebiscito.

Assim como em outros te­­mas, porém, como a economia e a política externa, o eleitor tem o direito de saber o que pensam os candidatos para não comprar gato por lebre. E tem muita gente interessada em saber isso: o sucesso do pastor Piragine é prova viva disso.

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