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De um governo, ninguém espera milagres – esperam-se boas escolhas. Ninguém acha que o governador Beto Richa tenha obrigação de fazer dinheiro nascer em árvore, ainda mais em uma situação difícil da economia nacional. O que se cobra é que, com o que está disponível, faça-se o melhor possível. Até porque governar em tempos de bonança é fácil (e quando as coisas vão bem nunca se viu um governante dizer: “Ah, eu não precisei fazer muita coisa, a economia estava favorável!”)

Nos últimos dias, o governo anunciou mais uma escolha. A de que não pagará na data definida em lei o reajuste do funcionalismo. Diz o governo que não tem como arcar ao mesmo tempo com isso e com as promoções e progressões devidas a todas as categorias.

Olhando as contas com os óculos do governo, faz sentido. Melhor segurar os gastos – ainda que isso desrespeite um acordo firmado em lei (não apenas em cartório) – e arcar com a impopularidade do que fazer algo, digamos, irresponsável. Dar um reajuste (ainda que necessário para que os funcionários continuem tendo poder de compra mínimo) pode não ser a prioridade.

A coisa toda faz ainda mais sentido tendo em vista a regra implantada desde que chegou ao estado o atual imperador da área econômica, Mauro Ricardo dos Santos. O mantra dele é de que o estado não pode ser um mero administrador de recursos humanos: é preciso investir em obras, e investir muito.

Investimentos, claro, são um papel essencial dos governos. Mas primeiro é necessário ver se os investimentos estão sendo bem feitos. E principalmente é de se ver que, em caso de não haver recurso para tudo, é preciso tomar decisões.

Pegar o dinheiro da previdência, uma poupança que vinha sendo construída há quatro mandatos, foi uma decisão. Aumentar o ICMS, o IPVA, passar a cobrar dos aposentados – tudo isso foram escolhas. Decidir cortar o reajuste também é uma opção – não adianta dizer que esse seria o único caminho, que o governo não tinha outra saída.

A opção por não ser meramente uma “agência de rh” pode ter certo apelo retórico. Afinal, estamos acostumados a ver como um bom governo aquele que constrói obras, de preferência grandes e impressionantes. “Governar é abrir estradas”, um presidente (Washington Luís) disse quase cem anos atrás. O mesmo presidente que disse que a questão social era um caso de polícia.

Mas talvez seja o caso de repensar o que é essa gestão de recursos humanos. Essas pessoas, vistas por quem olha apenas as cifras como um “peso” a ser equacionado, prestam os serviços mais essenciais que cabem ao estado. Educam nossos filhos. Atendem os doentes. Impedem crimes e diminuem a impunidade.

A educação, principal afetada pelo corte dos reajustes (cerca de 100 mil trabalhadores que não vão ver de volta tão cedo o que inflação comeu), é sempre citada como prioridade por qualquer governo. E é, nos termos usados por Mauro Ricardo, essencialmente uma questão de “rh”. Ter profissionais bem capacitados, bem pagos, em condições de ensinar as próximas gerações.

Entre isso e qualquer outra coisa que o governo tenha a fazer, fica difícil entender como a questão do “rh” pode parecer menor, pode não parecer prioritária.

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