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Na política, o objetivo deveria ser a vitória. Extermínio é, no máximo, assunto para guerra. Na política brasileira (e não só na brasileira) as linhas que separam essas coisas andam tênues demais. Lula, na presidência, já falava em exterminar partidos de oposição – especificamente o DEM. A oposição agora faz discurso semelhante: julgado o petismo, quer aniquilá-lo, e assumiu o tom de quem vai para a batalha. Aí é que a coisa pega.

A historiadora Karen Armstrong diz que muito do que nós chamamos “guerra de religião” são na verdade pessoas de determinada cultura tentando resistir a outro povo diferente que quer transformá-lo. Os muçulmanos que apelam para o terrorismo surgem da noção de que o Islã está na mira de uma ocidentalização forçada. O mesmo para a reação de hindus que querem explodir mesquitas na Índia.

O medo do extermínio nos faz violentos. E se a explicação serve para culturas e povos, pode servir também para a política, especialmente em tempos de conflagração. O ódio ao PT tem um componente de medo de certa parte da sociedade que se viu ameaçada pelo tipo de política implantado a partir de 2003 (e talvez um medo mais sério do discurso petista de 1989). É o medo do fim de um modo de vida imposto por terceiros.

Dê-se a essa classe o nome que se dê (elites? classes médias? Setor produtivo?), é perceptível que houve um susto com a chegada de alguém diferente ao poder. No discurso dos petistas, são as elites com medo de perder privilégios. Seria uma causa espúria. Na versão dos que temem o PT, é o receio de perda da ordem, e talvez até do Estado de Direito. Depende do lado que se está, vê-se tudo com sinal trocado.

O ódio ao PT causa o mesmo tipo de medo. Ouça o que dizem os petistas: está sempre lá a ideia de que “o outro lado” quer aniquilar as políticas públicas para os mais pobres. Não é uma disputa meramente partidária, dirão, e sim uma luta entre classes, com os mais ricos tentando sufocar conquistas de quem vem de baixo. Quem acha que esse é um discurso cínico crê que o medo do petismo é apenas o de ter seu projeto de poder derrotado.

A guerra, dizem, é uma continuação da política por outros meios. Aqui, a disputa eleitoral se deu mais ou menos assim: foi sucedida por uma declaração de guerra dos dois lados. Boa parte da população, hipnotizada pelo discurso que garante o extermínio certo em caso de derrota, decidiu assumir cada vez com mais veemência um lado. Não se discute mais com a razão, usando argumentos ponderados. É tudo ou nada.

Se o outro lado é visto não como adversário político, mas como inimigo numa guerra, vale tudo. A guerra, afinal, é o horror. Esgarça-se a tolerância e cada um vai para a rua com as armas que tem. Ao invés de contarmos votos, acabamos contando gritos nas ruas, panelas batidas e tuitadas raivosas. E qual é a chance de alguém mudar de ideia quando o outro só se dirige a ele como idiota?

O caminho até 2018 tende a ser longo, com ou sem Dilma no governo. Ainda haverá muita raiva, muito ressentimento, muito rancor. Seria prudente se todo mundo baixasse um pouquinho a voz e parasse de incitar ainda mais os ânimos. Serve para Lula e seus comandados, serve para o PSDB e seus coligados. Mas, mais do que isso. Serve para mim. E para você que está me lendo.

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