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Olho vivo

De chapéu 1

O presidente Lula colocou certa vez, provocando frissons, o boné do MST em solenidade oficial. O gesto foi entendido como uma manifestação de simpatia à política radical de reforma agrária defendida pelo movimento. Pois bem: como interpretar agora o fato de a candidata do PT ao Senado, Gleisi Hoffmann, desfilar e ser fotografada com o chapéu da Faep?

De chapéu 2

Aconteceu no Show Rural, em Cascavel, e a foto foi publicada no boletim da Faep – a entidade que representa os proprietários rurais e, por natureza, é contrária ao MST. O gesto pode ter uma explicação politicamente adequada: ao que tudo indica, Gleisi fará parte da chapa de Osmar Dias, que, como todo mundo sabe, como fazendeiro e por tradição, é mais ligado ao agronegócio e aos pequenos proprietários do que ao MST que lhes ameaça tomar as terras. Nada como diluir as resistências neste momento.

De boa fonte do PMDB, que pediu anonimato, a coluna captou uma informação importante: se o vice Orlando Pessuti, candidato indicado pelo partido para concorrer ao governo, não alcançar até maio pelo menos 15% de preferências nas pesquisas dos institutos confiáveis, inevitavelmente o partido terá de tomar medidas drásticas. O que pode significar, até, que o PMDB deixe de lançar candidato a governador.O analista que passou a informação não teme a própria derrota na eleição para deputado. Seus redutos eleitorais garantem-lhe a certeza de que voltará ao parlamento com grande votação. A preocupação diz respeito à saúde do próprio partido, pois, pelos seus cálculos, a bancada peemedebista na Assembleia – que citou como exemplo – corre o risco de reduzir-se à metade. Hoje, são 16 os deputados – ou até 17, se o PMDB reconquistar a vaga deixada por Mauro Moraes, que mudou de partido. Então, na próxima bancada, seriam apenas oito, no máximo dez, caso a candidatura majoritária de Pessuti não empolgue, como quase todos preveem – previsões autorizadas pelo congelamento do candidato no índice de 5% em todas as aferições.

O analista, que não trabalha sozinho no sentido de mudar o jogo, acha que tal emagrecimento será fatal para a sobrevivência do partido no estado. Não só terá suas bases no interior rarefeitas em razão da derrota de grande parte de seus atuais deputados, como ficará alijado do poder que assumirá o governo, quer seja Osmar Dias, quer seja Beto Richa ou Alvaro Dias.

Não é por outra razão, portanto, que uma boa e influente leva do PMDB paranaense trabalha na surdina para virar o jogo no máximo até maio. O que significa que o partido deverá aprofundar as conversações com Beto Richa, que considera desde já como o candidato que será sufragado pelo PSDB.

A proposta é oferecer-lhe o vice de sua chapa e tudo o que isto pode representar – isto é, a estrutura que o PMDB tem espalhada e forte em todos os rincões. Fechada a chapa majoritária, segue-se a coligação na chapa proporcional, pela qual concorrerão juntos os candidatos a deputados federais e estaduais dos dois partidos. Como o PMDB tem candidatos mais fortes do que os do PSDB, a tendência é que o PMDB mantenha a maior bancada na Assembleia e na Câmara.

Assegura a mesma fonte que Beto Richa está propenso a começar a dar forma concreta a essa ideia imediatamente após a confirmação de seu nome do candidato tucano.

Pessuti assiste quieto a essas investidas para cristianizá-lo? Não. Ele está atento ao movimento de sabotagem e disposto a reagir em duas frentes. Apenas espera o tempo certo. O tempo certo começa em 4 de abril, quando assume o poder no lugar de Requião. Acredita que, com a caneta cheia, boas ideias para resolver as pendências que herdará, uma boa e fiel equipe própria, além de um discurso mais afinado de candidato, vai mostrar a que veio. O que, na sua opinião, será um poderoso conjunto para garantir crescimento expressivo do seu nome nas pesquisas e, obviamente, a confirmação na convenção peemedebista.

Se isto acontecer e se ficar claro que, na pior das hipóteses (a melhor é ele vencer a eleição!), será o decisivo fiel da balança do dia 3 de outubro, capaz de levar a eleição ao segundo turno entre Osmar e Beto (é assim que ele entende que ficará o quadro de candidatos), passará a ser a noiva com quem qualquer dos dois espera casar. Nesse caso, o dote que receberá será grande o suficiente até para colocar nos seus devidos lugares aqueles que, antes, tentaram sabotá-lo.

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