Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Celso Nascimento

A floresta virou deserto

Ninguém se interessou em comprar as florestas que o governo do Paraná pôs à venda. No linguajar das normas que regem licitações e leilões, quando não há compradores diz-se que o evento foi "deserto" – no caso, um Saara quase tão grande quanto o de ideias mais eficazes e menos destrutivas para socorrer as combalidas finanças do estado.

O Instituto de Florestas do Paraná, autarquia criada no início deste ano, havia marcado para ontem à tarde o leilão de 12 mil hectares de reflorestamento de pínus e reservas ambientais protegidas distribuídos em oito fazendas. Levariam a "mercadoria" os que pagassem mais do que o preço mínimo total de R$ 108 milhões fixado pelo governo.

A pretensão era colocar a grana no caixa único para saldar dívidas com fornecedores que, desde meados de 2013, não conseguem receber pelos produtos e serviços que o estado adquiriu. Os credores são oficinas mecânicas, postos de combustíveis, produtores de leite, locadores de imóveis, correios. Pelas contas iniciais da Secretaria da Fazenda, a dívida passava de R$ 1 bilhão em dezembro do ano passado.

Não se sabe a razão de não terem aparecido compradores – principalmente levando-se em consideração que o preço pedido foi considerado (pelos especialistas neste tipo de mercado) inferior àquele que se pede na bacia das almas. O patrimônio à venda – os imóveis e as florestas – valeriam mais que o dobro.

Mas, ainda que a venda tivesse se dado pelo dobro, sobram perguntas. Como diz o governador Beto Richa, o Paraná é a quinta maior economia do país, um estado rico. Mais: a arrecadação anual chega a R$ 35 bilhões. Mas, então, por que tanta neura por míseros R$ 100 milhões ou mesmo pelos R$ 817 milhões de um empréstimo que não sai? O governo teria gerido tão mal suas finanças a ponto de se comportar como o sujeito que vende a própria casa para pagar a caderneta do armazém da esquina?

Se aconteceu um deserto de ofertas, houve, por outro lado, uma inundação de críticas à pretensão do governo. Houve unanimidade entre governistas e oposicionistas – os dois lados contra a operação.

Deputados tão governistas quanto Luiz Claudio Romanelli (do PMDB que defende a reeleição de Beto Richa) foi um dos primeiros a assumir a tribuna, ontem, na Assembleia, para condenar a operação, revezando-se com petista Enio Verri, que leu nota de repúdio emitida pela senadora Gleisi Hoffmann, e com o verde deputado Rasca Rodrigues, inconformado com a ausência de explicações oficiais. ONGs ambientalistas, como a Sociedade de Proteção à Vida Selvagem (SPVS), também registraram seu protesto.

É provável que a chuva de críticas que inundou o deserto leilão faça o governo desistir da intenção de vender o patrimônio imobiliário, os últimos resquícios de mata nativa e os imensos plantios de reflorestamento.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.