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Olho vivo

Amadorismo 1

O prefeito Gustavo Fruet está precisando urgentemente de aplicar um "choque de gestão" na turma que o assessora. Caso contrário, continuará acumulando um passivo junto à opinião pública com intensidade inversamente proporcional à esperança que suscitou entre os curitibanos quando da heroica vitória eleitoral que conquistou em 2012.

Amadorismo 2

A sensação crescente é de que há amadores tocando a administração. Dois sintomas que apareceram nos últimos dias: 1) a criação da faixa de ciclistas nas movimentadas paralelas à canaleta da Avenida Sete de Setembro; e 2) a concessão de exclusividade à Caixa Econômica e às lotéricas para venda de talões do Estacionamento Regulamentado (EstaR).

Amadorismo 3

Em ambos os casos, há reações plausíveis. No primeiro, isto é, na Sete de Setembro, nas pistas onde dois carros podiam trafegar lado a lado, agora só cabe um, duplicando os congestionamentos e causando interrupções no fluxo das ruas transversais. No outro caso, o dos talões do EstaR, antes facilmente disponíveis com os fiscais de trânsito e em bancas de jornais, agora eles só podem ser comprados por quem puder enfrentar fila nas lotéricas no mesmo momento em que o guarda gruda no para-brisa o aviso de infração.

Amadorismo 4

Ah! sim! O uso da bicicleta precisa ser incentivado. Foi uma promessa de campanha e, de fato, as bikes são ótimas para o transporte individual. Desde que não chova nem faça frio, pois nesses casos o ciclista deixa a magrela em casa para pegar o carro e enfrentar, muito contrariado, o congestionamento e a lentidão do trânsito. Parece tudo muito bonito, mas não parecem ideias de urbanistas com experiência profissional.

Ninguém se interessou em comprar as florestas que o governo do Paraná pôs à venda. No linguajar das normas que regem licitações e leilões, quando não há compradores diz-se que o evento foi "deserto" – no caso, um Saara quase tão grande quanto o de ideias mais eficazes e menos destrutivas para socorrer as combalidas finanças do estado.

O Instituto de Florestas do Paraná, autarquia criada no início deste ano, havia marcado para ontem à tarde o leilão de 12 mil hectares de reflorestamento de pínus e reservas ambientais protegidas distribuídos em oito fazendas. Levariam a "mercadoria" os que pagassem mais do que o preço mínimo total de R$ 108 milhões fixado pelo governo.

A pretensão era colocar a grana no caixa único para saldar dívidas com fornecedores que, desde meados de 2013, não conseguem receber pelos produtos e serviços que o estado adquiriu. Os credores são oficinas mecânicas, postos de combustíveis, produtores de leite, locadores de imóveis, correios. Pelas contas iniciais da Secretaria da Fazenda, a dívida passava de R$ 1 bilhão em dezembro do ano passado.

Não se sabe a razão de não terem aparecido compradores – principalmente levando-se em consideração que o preço pedido foi considerado (pelos especialistas neste tipo de mercado) inferior àquele que se pede na bacia das almas. O patrimônio à venda – os imóveis e as florestas – valeriam mais que o dobro.

Mas, ainda que a venda tivesse se dado pelo dobro, sobram perguntas. Como diz o governador Beto Richa, o Paraná é a quinta maior economia do país, um estado rico. Mais: a arrecadação anual chega a R$ 35 bilhões. Mas, então, por que tanta neura por míseros R$ 100 milhões ou mesmo pelos R$ 817 milhões de um empréstimo que não sai? O governo teria gerido tão mal suas finanças a ponto de se comportar como o sujeito que vende a própria casa para pagar a caderneta do armazém da esquina?

Se aconteceu um deserto de ofertas, houve, por outro lado, uma inundação de críticas à pretensão do governo. Houve unanimidade entre governistas e oposicionistas – os dois lados contra a operação.

Deputados tão governistas quanto Luiz Claudio Romanelli (do PMDB que defende a reeleição de Beto Richa) foi um dos primeiros a assumir a tribuna, ontem, na Assembleia, para condenar a operação, revezando-se com petista Enio Verri, que leu nota de repúdio emitida pela senadora Gleisi Hoffmann, e com o verde deputado Rasca Rodrigues, inconformado com a ausência de explicações oficiais. ONGs ambientalistas, como a Sociedade de Proteção à Vida Selvagem (SPVS), também registraram seu protesto.

É provável que a chuva de críticas que inundou o deserto leilão faça o governo desistir da intenção de vender o patrimônio imobiliário, os últimos resquícios de mata nativa e os imensos plantios de reflorestamento.

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