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Olho vivo

Diárias 1

Dia desses, o delegado-geral da Polícia Civil, Marcus Vinicius Michelotto, confessou pelas páginas da Gazeta do Povo que fez campanha para eleger os novos presidentes da Associação dos Delegados de Polícia do Paraná (Adepol) e do sindicato da classe. Para o primeiro, foi eleito o delegado Kiiochi Hattanda; para o segundo, o delegado Jairo Estorílio. Em setembro e outubro passados, ambos fizeram parte das caravanas chefiadas por Michelotto na tarefa de cabalar votos no interior para diretores das duas entidades – que assim, na interpretação de antigos policiais, perderam independência e representatividade.

Diárias 2

Afora essa distorção, haveria outra: as viagens de campanha teriam sido custeadas com recursos das diárias liberadas pelo orçamento da Polícia Civil – embora, oficialmente, fossem justificadas por compromissos com a comemoração dos 158 anos da corporação. O Ministério Público, no entanto, esteve atento à movimentação (e respectivos gastos) e não será surpresa se uma das suas promotorias abrir procedimento para apurar responsabilidades.

Autorizado

O superintendente do SAS, o médico José Fernando Macedo, desautoriza a interpretação de que o governo teria "confiscado" o Hospital da Polícia Militar com o fim de estender seu atendimento aos servidores civis. Segundo ele, tudo se deu com autorização do comando da PM e o hospital será reaparelhado com os recursos que o governo repassará. Até agora, porém, passados dois meses, a PM se recusa a firmar convênio nesse sentido.

Já que o vereador João Cláudio Derosso é inocente das acusações que pesavam contra ele, por que não devolver a ele a condição de vice na chapa de reeleição do prefeito Luciano Ducci? Embora carregado de maldade – bem ao estilo mordaz e criativo do jornalista Luiz Geraldo Mazza em comentário, ontem, na rádio CBN – o raciocínio contém insofismável lógica: se a CPI da Câmara de Vereadores absolveu Derosso e deu-lhe atestado de boa conduta, nada mais justo, pois, que o PSDB o indique para compor a dobradinha PSB/PSDB planejada antes da eclosão dos escândalos que envolveram o presidente licenciado do Legislativo.

A absolvição de Derosso foi visivelmente orquestrada pela maioria da Câmara, formada por 30 dos 38 vereadores que juram obediência e fidelidade aos dois principais líderes que mantêm o mando político de Curitiba – o governador Beto Richa e o prefeito Luciano Ducci. A CPI ofereceu a ambos, portanto, a oportunidade de promover a reparação moral do antigo aliado que já contava com a vice e que, durante o tempo de vilipêndio público que sofreu, não recebeu deles nenhuma palavra de consolo e solidariede.

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Afora tantos outros absurdos fáticos e de interpretação cometidos pelos vereadores que elaboraram e aprovaram o relatório final da CPI, cabe também uma pequena exegese do texto. Por exemplo: há nele uma frase lapidar que diz não haver "nenhuma evidência de que tenha havido qualquer tipo de malversação do dinheiro público." O trecho se referia especificamente ao gasto de R$ 14 milhões para imprimir milhares de exemplares da revista Câmara em Ação. Mas de malversação não podem também ser classificados os outros gastos com propaganda, incluindo os R$ 5,2 milhões contratados junto à empresa Oficina da Notícia, cuja sócia-proprietária, coincidentemente, era a própria mulher de Derosso.

Poucos se dão ao trabalho de recorrer ao dicionário. Mas vamos lá: segundo o Aurélio, malversação é vocábulo que se define como "dilapidação de dinheiro no exercício de um cargo; má administração; ato ou efeito de dilapidar; desperdício, esbanjamento." Bons dicionários jurídicos dizem que malversação se traduz como "administração nociva, causadora de desvio de bens ou valores, má gerência; dilapidação de um patrimônio." E acrescentam: "A malversação é falta grave, cometida por funcionário incumbido da administração de bens ou valores."

Como se vê, não é preciso roubar, transferir para o próprio bolso, mandar para paraísos fiscais, adotar sofisticados sistemas de lavagem dinheiro para que se caracterize a responsabilidade de quem gasta muito mal o dinheiro público. Definitivamente, não parece ter sido um gasto respeitoso o dispêndio de R$ 32 milhões em propagandas laudatórias dos próprios vereadores. Logo, houve, sim, malversação desse sofrido dinheirinho – parte considerável dos impostos que o cidadão entregou ao poder público com a esperança de receber de volta creches, asfalto na sua rua, postos de saúde funcionando, melhor transporte público, serviços melhores... Mas a CPI diz que não houve malversação.

Malversados serão os votos que reelegerem os vereadores que pensam assim.

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