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Sob a perspectiva de quem agora vê o povo tomar conta das ruas e gritar "contra tudo que aí está", a eleição de 2014 pode parecer ainda longínqua. Pode ser também que essa movimentação perca força e que, dentro de pouco tempo, as coisas voltem ao "normal". E o "normal", infelizmente, é aquele estado letárgico que costuma manter os brasileiros presos ao sofá da sala ainda que diante de seus olhos os telejornais os entupam de más notícias.

A letargia foi superada nesses últimos dias. O povo se levantou do sofá e saiu para protestar, para mostrar sua indignação. O objetivo imediato de pressionar o poder público a baixar as tarifas do transporte coletivo já foi total ou parcialmente satisfeito. Mas nem por isso o entusiasmo cessou: milhares ainda ocupam praças e ruas, bradando agora por causas de mais longo alcance.

Bradam contra a corrupção, contra os gastos absurdos com a promoção das Copas, por melhores serviços de saúde, por educação de qualidade, por mais segurança, contra a PEC que reduz poderes do Ministério Público... Enfim, uma pauta tão extensa e dispersa, mas que encontra um indiscutível ponto de convergência: o grito de revolta é contra tudo quanto é de responsabilidade direta dos governos, dos políticos e dos partidos que ocupam o poder – aqueles mesmos que até há poucos dias estavam se preparando alegremente para disputar a eleição do ano que vem...

Ah! bons tempos aqueles em que, a despeito de tudo do que eram capazes de fazer, o povo comparecia às urnas e os colocava de novo nos lugares de que gostam. E que bom se tudo voltar logo a ser como antes – pensam esses mesmos políticos e governantes, a despeito da "solidariedade" hipócrita que hipotecam às manifestações. Chegam quase a fingir que nada é com eles.

Mas, então, eis a dúvida: com rua ou sem rua, o eleitorado que irá às urnas no ano que vem vai se comportar da mesma maneira como sempre o fez? Serão os velhos políticos e os poderosos atuais conduzidos ou reconduzidos aos seus reluzentes e bem pagos cargos? Farão eles, os políticos e governantes, a partir de agora, o que o clamor popular deles exige?

Os efeitos eleitorais e colaterais

Se a perplexidade toma conta dos governos – incluindo o da presidente Dilma que, após duas semanas conflagradas, ainda não sabia que rumo tomar –, há alguns políticos que já começam a vislumbrar os efeitos eleitorais dos protestos. Um deles é o senador Alvaro Dias, do PSDB – testemunha presencial da constrangedora vaia que a presidente sofreu no lotado estádio brasiliense na abertura da Copa das Confederações.

Aquela vaia, diz Alvaro, foi um sinal claro da insatisfação popular contra o governo petista. As pesquisas, que conti­nuam acusando sensível queda na aprovação a Dilma, são um fato grave, mas nem por isso deve-se entendê-las como um exclusivo problema de Dilma e de seu governo. Não há dúvida de que atinge também a oposição, e talvez de modo mais duro o PSDB, diz o senador tucano paranaense.

Por isso, no raciocínio de Alvaro, os protestos populares deste junho de 2013 podem, sim, alterar os rumos que estavam sendo desenhados para outubro de 2014. "Nem Dilma pode manter a antiga certeza de que seria reeleita, nem Aécio Neves deve encontrar razões para ver crescer suas chances." O grande problema, diz Alvaro, é que não há no horizonte uma terceira via visível e viável – justamente pela qual clamam, mesmo sem ter consciência clara do que querem, as multidões que tomam as ruas.

O senador Alvaro Dias desce do nível nacional para o do Paraná. Se era certo que o atual governador disputaria a reeleição enfrentando a ministra Gleisi Hoffmann, essa certeza começa a se dissipar. "Gleisi dependeria sempre do prestígio de Dilma para se viabilizar como candidata realmente competitiva, mas a queda da influência política da presidente poderá comprometer seu projeto. E completa: "Já não acredito que Gleisi seja candidata".

Nesse caso, desde já estaria assegurada a recondução fácil do atual governador? Alvaro não partilha dessa noção, pois, segundo ele, a fraca administração do chefe tucano paranaense e seus muitos erros políticos (o maior deles a perda da eleição em Curitiba) são fartamente conhecidos em todo o estado e lhe tiram a condição de um candidato que se poderia considerar imbatível.

Sem a petista Gleisi representando as correntes mais fortes de oposição no Paraná e na dúvida sobre se o ex-governador Roberto Requião será mesmo candidato, quem sobra? Alvaro Dias arrisca dar inesperada opinião: "Acredito que o Osmar Dias (PDT) acabará sendo levado a aceitar o desafio de outra vez disputar o governo".

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