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Bons tempos aqueles em que o voto era "a bico de pena": o eleitor, diante da mesa receptora e sob os olhos atentos de "fiscais", votava de acordo com a vontade dos mandantes da ocasião. Claro que os candidatos protegidos já podiam saber, de antemão, que seriam eleitos com porcentagens absurdas. Na Velha República era assim: para dar ao nascente regime um certo verniz de democracia, reservava-se à oposição um minúsculo número de vagas. Nos partidos e nos parlamentos, o voto aberto e nominal também servia para garantir folgadas maiorias a quem estivesse no poder.

Desde Getúlio Vargas, na década de 1930, não é mais assim. Foi ele que instituiu o voto popular secreto. E hoje, na maioria dos casos, é secretamente que se vota – como o será na convenção que o PMDB estadual fará amanhã em Curitiba. E, então, o "bico de pena" das apregoadas mas incertas fidelidades pode esconder grandes surpresas. A traição é livre.

Quase 600 delegados vão definir como o partido participará da eleição deste ano – se com candidato próprio (no caso, o senador Roberto Requião) ou se coligado ao PSDB com o governador Beto Richa como candidato à reeleição. Só existem estas duas opções.

Ninguém pode antecipar o resultado com certeza. As pesquisas e levantamentos internos – que indicam resultados extremos de um lado e de outro – não conseguem detectar o número de "traíras", aqueles que sempre dizem sim às duas facções quando estas lhes indagam sobre sua posição.

Apesar disto, a turma do PMDB do R (do Requião) diz não ter dúvidas de que a tese da candidatura própria pode alcançar até 80% dos votos – talvez um exagero, principalmente se comparado às previsões do PMDB do B (do Beto), que antecipa uma vantagem segura de 60% contra 40% para a soma de Requião, brancos, nulos e abstenções.

Os deputados que apoiam Richa dizem que o folgado índice teria sido atingido definitivamente quando o ex-governador Orlando Pessuti anunciou, anteontem, a desistência à sua própria candidatura e pulou para o lado dos que brigam pela aliança com Richa. Além de Pessuti, dois pendulares deputados (Artagão de Mattos Leão e Nereu Moura) também foram atraídos. Com eles, viriam os votos de dezenas de delegados que dizem manter sob rédea curta.

Outras posições...

Se a convenção se definir pela coligação com o PSDB, em seguida também escolherá o vice de Beto Richa. Dois nomes brigam pela posição: os deputados Osmar Serraglio (federal) e Caíto Quintana (estadual). Até ontem à noite articulava-se um consenso para evitar mais este bate-chapa na convenção.

Se os "richistas" derrotarem o PMDB do R eles já têm ensaiada outra tacada do agrado de uma penca pluripartidária de políticos – incluindo alguns do PSDB que não digerem com prazer a companhia de Alvaro Dias como candidato à reeleição ao Senado na chapa de Richa. Entre os desgostosos se incluiria até mesmo o presidente da Assembleia e do diretório estadual tucano, deputado Valdir Rossoni.

A "tacada" é o lançamento de Orlando Pessuti como candidato "avulso" do PMDB ao Senado. A decisão final parece depender apenas dele, que, apesar de ainda ruminar dúvidas, avalia que enfrentar Alvaro Dias, obter uma boa votação e ainda demonstrar fidelidade à dupla Dilma-Temer pode lhe render o crescimento político de que precisa para concorrer ao governo em 2018.

São conjecturas que lhe passam pela cabeça, mas não com absoluta segurança. No fundo, na briga entre Serraglio e Quintana, ele gostaria mesmo é de se posicionar como um "tertius" para ocupar a vaga de vice. Certamente voltaria a sentar na cadeira de governador nos meses finais do governo Richa e se habilitaria como candidato natural à sucessão – como esperava sê-lo em 2010 se não tivesse sido barrado por Requião, que o abandonou para apoiar Osmar Dias.

...e outros efeitos

O voto secreto também pode favorecer o PMDB do R, por que não? E aí tudo muda de figura. Com Requião candidato, confirma-se como postulante ao Senado o ex-deputado Marcelo Almeida, com histórico de boa atuação na Câmara Federal. Já o governador Beto Richa ganha não apenas mais um adversário de peso (o outro é a senadora Gleisi Hoffmann, do PT), como também um problema para escolher o vice. O deputado Eduardo Sciarra, presidente estadual do PSD, se insinua para ocupar a vaga, mas há quem tente convencer o deputado Ratinho Jr. (PSC) de que o lugar pode ser dele.

Tudo seria mais fácil – exclamam alguns políticos ambiciosos – se ainda vivêssemos nos tempos do "bico de pena".

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