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Dois telefonemas disparados de Brasília interromperam a tarde de Gustavo Fruet, que ontem, véspera do feriadão, já preparava o espírito para ficar longe da política. Não teve jeito: interessados na sua cabeça deram mais alguns lances altos no leilão de que pensam estar participando para arrematar o prêmio de conseguir que o ex-deputado caia na tentação de atender os seus apelos sob a promessa de que lhe garantirão legenda para disputar a eleição de prefeito de Curitiba.

O primeiro telefonema foi do presidente nacional em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp, para comunicar Gustavo que o senador Roberto Requião foi demovido de sua teimosia de vetar o retorno de Gustavo ao partido. Já não há este obstáculo, informou-o Raupp, ansioso em abonar sua ficha de filiação. Gustavo escutou educadamente o convite explícito e oficial do PMDB, mas não deu resposta, nem afirmativa nem negativa.

Em seguida, o telefone tilintou outra vez. Do outro lado estava o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra, portador de um apelo pessoal e coletivo para que Gustavo não abandone o ninho tucano. Mais lhe disse Guerra: que o governador Beto Richa, principal foco de resistência à determinação de Gustavo de candidatar-se a prefeito pela legenda a que pertence, também estaria disposto a rever seu apoio à reeleição do prefeito Luciano Ducci, de outro partido, o PSB.

Qual foi a resposta de Gustavo a Sérgio Guerra? A mesma que, dias atrás, deu ao deputado Valdir Rossoni, vice-presidente do PSDB, que também se esforça para não perder Gustavo e para garantir-lhe a candidatura. A resposta foi: que o governador Beto Richa dê uma declaração pública a seu favor ou que, no mínimo, declare-se neutro.

Tudo igual

Por coincidência, quase no mesmo instante em que Sérgio Guerra encerrava sua ligação, Richa dava entrevista a uma emissora de rádio. Fez juras de admiração a Gustavo, negou que o estivesse impedindo de disputar a eleição pelo partido e lamentou que o ex-deputado não o procure há meses. "O partido sempre manteve as portas abertas para o Gustavo", enfatizou. O diálogo tem se dado via intermediários, disse o governador, para concluir abrupta e laconicamente a entrevista: "Estamos em entendimentos".

Não houve tempo para o repórter perguntar a Beto o propósito final de tais entendimentos. Se para levar Gustavo a desistir da candidatura, se para oferecer-lhe cargos ou se para prometer-lhe apoio na disputa para o Senado em 2014. O governador não se referiu a eventuais entendimentos com o prefeito Luciano Ducci para pedir-lhe que não concorra à reeleição. O que significa que nada mudou.

O mundo gira...

Enquanto isso – isto é, enquanto muito se conversa no PSDB para manter tudo como está há oito meses – o mundo lá fora se move. Por exemplo: o deputado Ratinho Jr., presidente estadual do PSC e líder do partido na Câmara Federal, já decidiu se lançar candidato a prefeito. Fala com a autoridade de quem fez 100 mil votos em Curitiba na última eleição e outros 100 mil nas vizinhanças da capital.

O ex-prefeito e ex-deputado Rafael Greca, do PMDB, mesmo tendo sido traído pela suposta disposição de Requião de não mais causar dificuldades para Gustavo Fruet voltar ao partido, mantém firme sua campanha pessoal. "Se o Gustavo quiser ser candidato a prefeito pelo PMDB terá de disputar comigo a convenção", diz, convicto de que terá a maioria.

...e a lusitana roda

E o PT? Uma corrente petista acha inadmissível que o partido não lance candidato próprio em 2012 e oferece dois nomes, os dos deputados Rosinha e Tadeu Veneri, federal e estadual, respectivamente. Mas há outra corrente do PT que, pensando mais longe, em 2014, imagina capturar a simpatia de Gustavo Fruet oferecendo-lhe o apoio de que precisar no ano que vem.

Fazem parte dessa corrente o ministério-casal formado por Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann. Para a senadora mais votada e agora chefe da Casa Civil de Dilma, ter um prefeito de Curitiba simpático à sua candidatura ao governo é de fundamental importância. Ninguém ganha uma eleição de governador, dizem os especialistas, se não tiver pelo menos 50 por cento dos votos dos curitibanos. Vai daí que o PT, magro de estrutura na capital, já sabe de antemão que, se se mantiver na prefeitura, Luciano Ducci estará trabalhando pela reeleição de Beto Richa. Logo, a melhor estratégia é eleger outro no seu lugar.

As conversas dessa poderosa corrente petista com Gustavo Fruet começaram há quase dois meses, mas se encontram agora paralisadas: alegam que, en­­quanto ele não definir seu destino partidário e se mantiver no PSDB, não há como dar continuidade aos entendimentos.

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