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Olho vivo

A última que morre

O vice-presidente estadual do PSDB, deputado Valdir Rossoni, acredita piamente na máxima segundo a qual a esperança é a última que morre. Ontem, ele demonstrou isso ao afirmar que são bastante grandes as chances de o ex-deputado Gustavo Fruet desistir da ideia de mudar de partido. É que, segundo Rossoni, algumas articulações sugerem a possibilidade de o PSDB lançá-lo candidato a prefeito de Curitiba – contrariamente à corrente liderada pelo governador Beto Richa, que pretende apoiar a reeleição de Luciano Ducci.

Coincidência ou não, o estado de ânimo de Rossoni em relação ao "fico" de Fruet melhorou depois de dividir a mesa do almoço servido ontem no Palácio das Araucárias.

A Assembleia aprovou ontem em primeira discussão, na qual se avalia a constitucionalidade de uma proposta, projetos do governo do estado que criam supersecretarias. Nem mesmo os críticos da ideia votaram contra pela simples razão de que não há nada de ilegal na medida proposta por Beto Richa.

A crítica é direcionada para outros três aspectos da proposta: a) as supersecretarias serão comandadas pela mulher e pelo irmão do governador; b) as duas pastas, sozinhas, sugarão nada menos de 80% da capacidade de investimento do governo; e c) a duvidosa funcionalidade de agregar em poucas mãos atividades que, embora dispersas por mais secretarias, podiam ser melhor acompanhadas por seus gestores.

Nunca antes na história desse estado houve tanta concentração de poder e dinheiro público entre tão poucos – o que, na opinião do principal crítico do projeto, o líder da oposição, Enio Verri (PT), deixa o Paraná semelhante a um feudo medieval, disse ele ontem da tribuna.

Verri fala com experiência. Como secretário do Plane-­ jamento no governo passado, conviveu com problema semelhante, embora em escala que hoje se vê que era menor. Toda terça-feira, por exemplo, quando se abria o palco da "escolinha", Verri era obrigado a dizer "bom dia" para Roberto Requião, Maurício Requião, Eduardo Requião, Maristela Requião além de acenar respeitosamente para vários outros parentes e agregados.

Ou seja, constatou o deputado petista que, em matéria de empregar parentes, o atual governo não só não operou mudanças mas aperfeiçoou o sistema. No seu tempo de secretário, os setores dirigidos pela família Requião, mesmo somados, não contavam com tão largo poder de fogo.

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São três os projetos de reestruturação da máquina enviados por Richa. Pelo primeiro deles, cria-se a Secretaria de Infraes­­trutura e Logística, que reúne as atividades das secretarias de Transportes e Obras Públicas (ambas em extinção), além do Departamento de Estradas de Rodagem, Ferroeste, Detran e Portos de Paranaguá e Antonina. O comando dessa supersecretaria está entregue ao irmão Pepe Richa.

Outro projeto cria a Secretaria da Família e Desenvolvimento Social, que herda os programas da Secretaria da Criança e esvazia boa parte da Secretaria do Trabalho. Fernanda Richa, a mulher do governador, é a titular dessa vitaminada secretaria.

A terceira mudança, menos drástica, ocorre no âmbito da Secretaria da Justiça, à qual foi agregada a tarefa de defesa dos direitos humanos. Sua titular, Maria Tereze Uille, porém, não é parente.

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Os 80% dos investimentos a que Enio Verri se refere correspondem a cerca de R$ 1 bilhão por ano. Some-se a esse valor a considerável receita própria de algumas autarquias, como Detran, portos de Paranaguá e Antonina, DER, Detran. Mais: estará concentrada na secretaria de Pepe Richa grande parte das transferências do PAC para investimentos em ferrovias, rodovias, portos e aeroportos – coisa de R$ 5 bilhões previstos para os próximos anos.

Fernanda, por outro lado, será a controladora dos recursos do Bolsa Família, o programa federal de transferência de renda que atende perto de 500 mil famílias carentes no Paraná – boa parte delas composta por eleitores, naturalmente.

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O líder do governo, deputado Ademar Traiano, discordou dos adjetivos que o deputado Enio Verri empregou mas silenciou quanto aos substantivos. Ao re­­ba­­ter a referência aos parentes do governador que ocupam postos na administração, Traiano afirmou que tal fato não deveria causar surpresa ou indignação a um petista, já que o governo federal emprega como ministros o casal Gleisi Hoffmann (chefe da Casa Civil) e Paulo Bernardo (ministro das Comunicações).

Traiano esqueceu de alguns detalhes: nem a presidente Dilma é o "marido" nessa história e nem foi o casal que se no­­meou mutuamente. Mas deixa pra lá: assim como religião e futebol, questões de família é melhor não discutir.

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