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Olho Vivo

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Se tivesse sido o eleito, Aécio Neves talvez não se esmerasse tanto quanto Dilma Rousseff na escolha de seu novo gabinete: os quatro nomes até agora anunciados (Fazenda, Planejamento, Agricultura e Desenvolvimento) representam exatamente o contrário do que a ortodoxia petista queria. Joaquim Levy, Nelson Barbosa, Kátia Abreu e Armando Monteiro vão comandar os mais estratégicos cargos da economia nacional – com visões politicamente opostas aos atuais ocupantes.

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A troca, além de sinalizar a capitulação da presidente em relação à politica econômica visando a se aproximar do empresariado e da classe média que votaram majoritariamente em Aécio, pode significar também o desejo de Dilma de se distanciar do lulopetismo. Mais: Dilma parece ter bradado um claro comando de "direita, volver".

A situação está preta nas contas públicas da União, dos estados e municípios. Todos gastaram mais do que permitiriam as respectivas receitas e, por isso, os governantes atuais chegam ao fim do ano devendo os tubos para fornecedores e cortando despesas que vão de clipes a papel higiênico.

Estimava-se que o Brasil marcaria um golaço trazendo para cá a Copa do Mundo. Com a bola rolando nos caríssimos estádios construídos em 12 capitais, além de obras de mobilidade pipocando em toda parte, imaginava-se que o país passaria a ser habitado por uma multidão de turistas e que a economia seria de tal forma dinamizada que haveria uma cornucópia de recursos jorrando pelas bordas.

Ledo e total engano: a economia nacional, que já não andava bem, piorou. Fizeram-se gastos extras em razão da Copa – muitos, certamente, superfaturados –, mas a estagnação do crescimento e a inflação acelerada causaram estragos imediatos nos orçamentos públicos. A arrecadação caiu a níveis menores até mesmo do que as mais pessimistas previsões.

Como as três esferas do poder estão com dificuldades, não há o que mendigar uma para outras. Os municípios sabem que não adianta estender o pires para o estado, assim como o estado sabe que não conseguirá arrancar muita coisa do governo federal. Todos quebrados.

Dito isso, sobrevém a inevitável constatação de que os compromissos políticos acabam se esfacelando. O que prende prefeitos a um governador, por exemplo, é a possibilidade de conseguir recursos para obras em suas cidades, assim como governadores buscam, quando inteligentes, manter bom relacionamento com presidentes e ministros pelo mesmo motivo.

Agora estão todos "zerados". Salvo por convicções ideológicas ou vantagens partidárias, já não há mais tanta razão para manter velhas alianças. Curitiba protagoniza um caso típico: Gustavo Fruet, historicamente um aguerrido adversário do PT, saiu do PSDB, filiou-se ao PDT e acabou se aliando ao partido de Dilma e Lula para viabilizar sua candidatura a prefeito em 2012. Recebeu apoio, fez dobradinha com a vice indicada pelo PT, ganhou a eleição e deu cargos de primeiro e segundo escalão para o partido. Em troca, manteve por dois anos sua fidelidade ao PT ao apoiar a candidatura de Gleisi Hoffmann ao governo em 2014.

Politicamente, a fatura com o PT está teoricamente paga. Daqui para a frente, a discussão é saber o que é mais vantajoso – manter a aliança ou tomar outro rumo? Abrir as portas para uma reaproximação com Beto Richa? O que isto poderia significar para a administração da cidade? Mais recursos? Desse ponto de vista, a resposta provavelmente será não. Do ponto de vista político-eleitoral, visando a própria reeleição em 2016, talvez seja uma aposta que Fruet queira bancar.

A consequência desta eventual aproximação com o governo tucano estadual seria o desembarque do PT dos nacos de poder que detém na administração municipal. Em compensação, porém, abre outra controvérsia: apesar dos pesares, é do governo federal que vem a maior soma de recursos para obras e serviços municipais, principalmente nas áreas de saúde e mobilidade urbana. Logo, "brigar" com o PT pode não ser, no momento, uma boa alternativa.

O beco é estreito, mas tem-se como certo que os primeiros sinais de que vai se esgueirar por esse beco vão começar a aparecer no início do ano se o prefeito demonstrar vontade de cumprir o que prometeu há três meses: membros da equipe que não apresentassem eficiência até o fim de 2014 – disse ele em agosto – seriam substituídos. O "por quem" serão substituídos os ineficientes deverá mostrar a opção política de Fruet.

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