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Celso Nascimento

Do sexo às lágrimas

Pelo menos 35 dos atuais 54 deputados estaduais já ocupavam uma cadeira na Assembleia Legislativa em 2008, quando o então governador Roberto Requião propôs uma minirreforma tributária. Aprovada, ela reduziu impostos para 95 mil itens de consumo popular. Mas, para compensar as perdas, aumentou as alíquotas de ICMS da energia elétrica, combustíveis e bebidas.

Foi um deus-nos-acuda: os oposicionistas de então, liderados pelos deputados Valdir Rossoni e Ademar Traiano, ambos do PSDB, e Élio Rusch, do DEM, não só duvidavam que os preços caíssem no caso dos produtos beneficiados com a diminuição dos impostos, como prenunciavam uma catástrofe econômica em razão do aumento das alíquotas da energia. Tinham razão num ponto: o comércio aproveitou o imposto menor para melhorar suas margens. Quanto ao resto, a catástrofe não foi tanta.

Agora, o governador Beto Richa apresenta à Assembleia um pacotaço que revoga a parte boa da lei de Requião e piora a que já era ruim. Atualmente, aqueles deputados que antes eram de oposição e agora são de situação vão se comportar como? A favor ou contra a proposta de Richa? Claro que a favor, obedientes que são às orientações palacianas, independentemente da opinião pessoal que professem ou do que pensarem os eleitores.

É natural que fiquem um pouco confusos, pois mesmo o governador Beto Richa não sabe muito bem o teor e o impacto que sua proposta terá no bolso do consumidor. Tanto que, na sexta-feira, em entrevista à rádio CBN, mostrou-se surpreso ao ser informado que a cesta básica vai aumentar em razão da alta do imposto. Diante da "revelação", prometeu fazer revisões pontuais na mensagem que encaminhou à Assembleia.

O comportamento da classe empresarial – que historicamente rejeita Requião – em 2008 foi majoritariamente a favor daquela minirreforma. Como a deste ano é exatamente oposta à anterior, o comércio e a indústria agora se manifestam contra Richa – antítese política do ex-governador.

Alguns setores vão levar ao governador sua preocupação com os efeitos difusos do pacotaço: de um lado, temem queda na produção e nas vendas; de outro, preocupam-se com o bolso do povo. Estima-se, por exemplo, que os remédios genéricos vão encarecer entre 15% e 20% – um baque que fará com que o Paraná, que antes era o estado em que os medicamentos eram os mais baratos do país, passe a ser dos mais careiros.

Mas é como disse dia desses um analista econômico frente aos prometidos arrochos que se prenunciam na política econômica: até às vésperas da última eleição, o Brasil (o Paraná também) parecia viver a época do "sexo, drogas & rock'n roll". Diversão geral nas finanças públicas. Agora, ressuscita-se a era que Chuchill, o primeiro-ministro britânico que enfrentou o nazismo, definiu como de "sangue, suor e lágrimas". Não podia dar outra.

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