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Está tudo tão estranho! Mas talvez não mais estranho do que a especial ligação entre Dr. Jeckill e Mr. Hyde, o médico e o monstro, o criador e a criatura. O fato é que situação e oposição no Paraná estão assim, vivendo uma crise de identidade tal que os comuns mortais não conseguem distinguir entre elas quem é Jeckill e quem é Hyde, quem cumpre o papel de quem.

Vejam só o caso do PSDB. Oficialmente, um partido de oposição ao governo Requião. Apesar disso, alguns de seus filiados mantêm vistosos cargos no governo. Caso, por exemplo, do secretário do Trabalho, Nelson Garcia; ou de Luiz Malucelli Neto, presidente do Lactec.

Há alguns meses, na "escolinha", Requião atacou a estrela maior do PSDB, o prefeito Beto Richa. A oposição oficial se alvoroçou em sua defesa e exigiu que os tucanos deixassem o governo. Ameaçou-os até de expulsão. Exigiu também dos seus deputados que passassem a se comportar como oposicionistas. E o que aconteceu? Nada! Ninguém saiu, ninguém foi expulso, os deputados continuaram obedecendo cegamente ao líder governista Luiz Cláudio Romanelli. Pode-se perguntar: era tudo, então, apenas jogo de cena?

Pode ser, pois Dr. Jeckill e Mr. Hyde (ôpa! situação e oposição, não importando a ordem) continuam conversando amistosamente nos bastidores. A tal ponto que – sob olhares complacentes do prefeito e do governador – articula-se uma chapa unindo o PSDB ao PMDB, com o deputado Alexandre Curi na vice de Beto Richa. Aposta-se, nesse caso, na retirada de Orlando Pessuti como o candidato do PMDB ao governo.

Nas telas do cinema, a plateia podia decidir qual dos personagens – Jeckill ou Hyde – mereceria maior simpatia. E na política local? De que lado o eleitorado será levado a optar se situação e oposição não se diferenciam? Se a ambos interessa mais um acordão das "zelites"?

E de que lado ficará a parcela do eleitorado que, simultaneamente, não gosta do PT e rejeita Requião?

Por isso o desencanto, a confusão, a falta de credibilidade da dita classe política. E daí também a absoluta falta de importância do rame-rame em que se afundou a política paranaense nos últimos meses. Não se nota, nesse quadro, a divisão das forças políticas paranaenses tendo como centro o real interesse público, o interesse do estado – mas sim o interesse individual ou grupal. É nesse ponto que se reduziu a mal começada campanha eleitoral – na qual nem mesmo Jeckill e Hyde sabem que papel representar.

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Olho vivo

O motivo

A licitação internacional da draga de R$ 46 milhões para o Porto de Paranaguá deveria ter sido realizada dia 8 de outubro. Foi transferida para o dia 29 sob a alegação de que o edital precisava ser publicado no exterior e não no jornal de Barra do Jacaré. Sabe-se agora o motivo real: é que a empresa supostamente já escolhida como vencedora, a Interfabric, de propriedade do grego Georges Pantazis, não poderia participar da concorrência na data inicialmente marcada. É que, até o dia 8, ela só estava habilitada a vender jaquetas coreanas. Era preciso mudar o objeto da empresa no contrato social registrado na Junta Comercial. O acréscimo do ramo de atuação – incluindo "embarcações e dragas" – só ficou pronto no dia 9.

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Você beberia essa água?

Treze garrafas serão oferecidas hoje à tarde aos participantes da reunião da comissão especial da Câmara Municipal que discute a questão do lixo de Curitiba. Doze delas conterão um líquido escuro, conhecido pelo nome de chorume; a 13.ª, água retirada de um poço doméstico. A origem desses líquidos fica nas proximidades do aterro do Caximba, local onde são depositadas cerca de 2,4 mil toneladas por dia do lixo da capital e de outros 17 municípios metropolitanos.

Os presentes à reunião serão convidados a beber o conteúdo das garrafas!

Esta radical manifestação foi organizada pela associação dos moradores do bairro da Ca­­­xim­­­ba, alarmada com a reativação permitida pela Justiça de uma parte do aterro sanitário em desuso já há anos. Entretanto, apesar de desativada, continua produzindo chorume – líquido resultante da decomposição do lixo orgânico, altamente contaminado – que verte em direção a córregos vizinhos ou se infiltra no lençol freático. Por isso a comunidade que vive ao redor do aterro protesta contra a decisão judicial de permitir a continuidade do aterro por mais um ano, a pedido da prefeitura de Curitiba.

O protesto dos moradores não se restringirá à gentil oferta de chorume aos vereadores para conscientizá-los do grave problema. Chegará também ao juiz Marcel Rótoli de Macedo, da 1.ª Vara da Fazenda Pública, que concedeu a liminar. Eles querem que o magistrado reconsidere sua decisão, pois teria recebido informações incompletas sobre a realidade local. Uma delas é de que nenhum aterro pode ser feito ou reativado a menos de 500 metros de local habitado.

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