Não foi preciso sequer esperar que a ex-ministra Marina Silva deixasse o PT e ingressasse no Partido Verde para que as pesquisas eleitorais registrassem o estrago que sua eventual candidatura faria à da petista Dilma Rousseff. Também bastou ao deputado Ciro Gomes anunciar sua pretensão de candidatar-se para que José Serra e a mesma Dilma sentissem imediatamente os reflexos da sua presença entre os presidenciáveis.
Por isso, reina enorme curiosidade para saber como o Ibope vai avaliar a candidatura do governador Roberto Requião, autolançada ontem em Brasília, no Senado. Foi dele a liderança de um movimento que reuniu em Curitiba, há poucos dias, um grupo de peemedebistas da velha estirpe que acredita que o melhor caminho para o partido é ter candidato próprio.
Na verdade, tratou-se o encontro de uma rebelião contra a caciquia nacional do PMDB que, sentada a uma mesa de jantar, resolveu que o partido deveria manter-se aliado ao presidente Lula (de quem ganhou vários ministérios e rendosas estatais) e apoiar sua escolhida, a ministra Dilma Rousseff. Não sem antes garantir que a Vice-Presidência caberia ao deputado Michel Temer, o presidente nacional licenciado do seu diretório nacional.
Requião considerou que a decisão não seria mais do que um arroto pós-jantar e que o PMDB, como maior partido do ocidente, não poderia deixar de ter e executar um projeto próprio de governo em vez de, como propôs a cúpula, servir de linha auxiliar do PT.
Requião tem razão para repetir o escrito nos muros de algumas cidades paranaenses , mas é preciso saber o quanto ele próprio leva a sério as críticas que faz a alianças e conchavos de cúpula. E o quanto a sério ele leva também essa história de ser candidato a presidente da República.
Quanto a alianças, sabe-se, por exemplo, que aqui mesmo, sob seu patrocínio, arquiteta-se não um acordo formal, mas outro pior um acordo por debaixo dos panos pelo qual o PMDB se disporia a apoiar a candidatura do tucano Beto Richa ao governo em troca de caminho livre para Requião eleger-se senador.
Acordo que agrada também um bom grupo de deputados peemedebistas que temem não se reeleger se parecerem vinculados ao canditado do próprio partido, o vice Orlando Pessuti. Pessuti sabe disso e não esconde seu desgosto, dando nome e sobrenome a dois deputados que confessadamente nada fazem que seja contrário aos interesses (ou ordens) do chefe: Luiz Cláudio Romanelli e Alexandre Curi.
Quanto à seriedade que devota à candidatura de si mesmo há pouco a falar. Sabe ser inviável e, mais do que ninguém, sabe que a eleição para o Senado é absolutamente prioritária. Protegido pela imunidade que lhe confere um mandato parlamentar, Requião a encara como salvaguarda contra os inúmeros processos civis e criminais que pesam contra ele nos tribunais.
Resta saber se o povo que assiste a Televisão Educativa, da Patagônia ao Alasca, leva a sério. A primeira pesquisa de opinião pública em que seu nome aparecer dará a medida da importância do registro de sua candidatura e do peso que terá nas definições partidárias daí para a frente.



