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Olho vivo

O duelo 1

Os deputados Valdir Rossoni e Jocelito Canto travaram ontem um diálogo verbal que, se não fossem as notas taquigráficas que registram nos anais da história da Assembleia, bem que poderia ser apagado. Antes, um insinuou que o outro era ladrão; o outro insinuou que o um era desqualificado. Depois, dez minutos para cada um dos contendores na tribuna para "explicações pessoais". Não produziram nada além de explicações pessoais, já que o principal, isto é, questões de verdadeiro interesse público, não foi debatido.

O duelo 2

Jocelito voltou atrás e negou ter chamado Rossoni de ladrão; e Rossoni, por sua vez, negou ter chamado Jocelito de desqualificado. Era a honra pessoal de cada um que estava em jogo, mas como cada qual negou que tivesse atingido a honra do outro, tudo ficou por isso mesmo. As balas únicas que municiavam antigamente as pistolas dos que resolviam suas diferenças em duelos, simplesmente não existiram. Ou não atigiram seus alvos. Entre mortos e feridos, nenhum: ambos inocentaram um ao outro.

Draga

O líder da oposição, deputado Élio Rusch, comprovou ontem que uma das empresas interessadas em vender a draga ao governo do Paraná, reformulou seu contrato social em meio ao processo de licitação. A empresa tem como sócio Georges Pantazis, empresário que vendeu e não entregou jaquetas à PM, num rumoroso caso ocorrido em 1999. O parlamentar interpreta o fato como um dos sintomas do direcionamento da concorrência e pede mais esclarecimentos à Appa.

Não foi preciso sequer esperar que a ex-ministra Marina Silva deixasse o PT e ingressasse no Partido Verde para que as pesquisas eleitorais registrassem o estrago que sua eventual candidatura faria à da petista Dilma Rousseff. Também bastou ao deputado Ciro Gomes anunciar sua pretensão de candidatar-se para que José Serra e a mesma Dilma sentissem imediatamente os reflexos da sua presença entre os presidenciáveis.

Por isso, reina enorme curiosidade para saber como o Ibope vai avaliar a candidatura do governador Roberto Requião, autolançada ontem em Brasília, no Senado. Foi dele a liderança de um movimento que reuniu em Curitiba, há poucos dias, um grupo de peemedebistas da velha estirpe que acredita que o melhor caminho para o partido é ter candidato próprio.

Na verdade, tratou-se o encontro de uma rebelião contra a caciquia nacional do PMDB que, sentada a uma mesa de jantar, resolveu que o partido deveria manter-se aliado ao presidente Lula (de quem ganhou vários ministérios e rendosas estatais) e apoiar sua escolhida, a ministra Dilma Rousseff. Não sem antes garantir que a Vice-Presidência caberia ao deputado Michel Temer, o presidente nacional licenciado do seu diretório nacional.

Requião considerou que a decisão não seria mais do que um arroto pós-jantar e que o PMDB, como maior partido do ocidente, não poderia deixar de ter e executar um projeto próprio de governo em vez de, como propôs a cúpula, servir de linha auxiliar do PT.

Requião tem razão – para repetir o escrito nos muros de algumas cidades paranaenses –, mas é preciso saber o quanto ele próprio leva a sério as críticas que faz a alianças e conchavos de cúpula. E o quanto a sério ele leva também essa história de ser candidato a presidente da República.

Quanto a alianças, sabe-se, por exemplo, que aqui mesmo, sob seu patrocínio, arquiteta-se não um acordo formal, mas outro pior – um acordo por debaixo dos panos pelo qual o PMDB se disporia a apoiar a candidatura do tucano Beto Richa ao governo em troca de caminho livre para Requião eleger-se senador.

Acordo que agrada também um bom grupo de deputados peemedebistas que temem não se reeleger se parecerem vinculados ao canditado do próprio partido, o vice Orlando Pessuti. Pessuti sabe disso e não esconde seu desgosto, dando nome e sobrenome a dois deputados que confessadamente nada fazem que seja contrário aos interesses (ou ordens) do chefe: Luiz Cláudio Romanelli e Alexandre Curi.

Quanto à seriedade que devota à candidatura de si mesmo há pouco a falar. Sabe ser inviável e, mais do que ninguém, sabe que a eleição para o Senado é absolutamente prioritária. Protegido pela imunidade que lhe confere um mandato parlamentar, Requião a encara como salvaguarda contra os inúmeros processos civis e criminais que pesam contra ele nos tribunais.

Resta saber se o povo que assiste a Televisão Educativa, da Patagônia ao Alasca, leva a sério. A primeira pesquisa de opinião pública em que seu nome aparecer dará a medida da importância do registro de sua candidatura e do peso que terá nas definições partidárias daí para a frente.

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