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Olho vivo

Enigmática

No conciliábulo da última quinta, tomado de súbita cólera o lépido meretíssimo negava ser do gênero fêmea de grandíssimo roedor com apêndice traseiro calvo que habita meios fétidos. Outro, numa prédica sem lógica, deixava atônito até o mais estúpido rábula. Causídico célebre por defender auxílio supérfluo à maternal supérstite, dava-se ele ao insólito desígnio de criar óbices ao prévio trânsito de públicas e jornalísticas notícias. Um despropósito! Inábil no ofício, não citou cláusulas, alíneas, parágrafos, sílaba ou vírgula do magno código pátrio... Lívido e trêmulo, sobrava-lhe fígado, faltava-lhe cérebro. Perplexo, até mesmo o sétimo do círculo aprovou sem polêmica essa esdrúxula fórmula: advirta-se o veículo e olvide-se o gramático causador da crônica cólica hepática que aflige o prático copista, notável áulico palaciano.

Nos primeiros meses do governo Beto Richa, em 2011, o então presidente da Agência Nacional de Transportes Terrestes (ANTT), Bernardo Figueiredo, procurou o secretário estadual de Infraestrutura e Logística, Pepe Richa, para informá-lo a respeito da intenção do governo federal de estender a ferrovia Norte-Sul até o Rio Grande do Sul – um grande eixo ao qual se interligariam as estruturas ferroviárias regionais.

Figueiredo adiantou também a Pepe Richa que o Paraná deveria ser integrado ao novo projeto, de tal modo que a produção de Mato Grosso do Sul e do Oeste do Paraná pudesse ser escoada pelo Porto de Paranaguá a partir de uma ferrovia com bitola larga que partiria de Maracaju (MS) para chegar a Cascavel. Neste ponto, se ligaria à Ferroeste – a ferrovia do governo estadual de 258 quilômetros que vai até Guarapuava e, daí em adiante, até Engenheiro Bley, entroncamento com outra ferrovia federal que parte de São Paulo. Para chegar a Paranaguá, três opções de trajeto deveriam ser discutidas conjuntamente entre os governos estadual e federal.

O "xis" da questão apresentado por Figueiredo a Pepe Richa era, no entanto, o seguinte: diante da mudança do modelo de concessões ferroviárias que já estava em estudos, o governo do Paraná precisaria concordar em ceder a utilização da Ferroeste como parte integrante da malha parcialmente planificada para o Paraná. A estrada seria modernizada para tráfego de trens em bitola larga.

As conversas entre Figueiredo e Pepe Richa, embora inicialmente tenham tido cunho informal, objetivavam perscrutar o interesse do Paraná em participar do projeto nacional e regional. Figueiredo obteve a concordância prévia de Pepe também informalmente, mas novas tentativas de retomar os entendimentos não prosperaram

E como não se pode ficar esperando a vida inteira por respostas, o governo federal decidiu lançar o pacote dos grandes eixos nacionais, sem mencionar os trechos de interesse específico do Paraná. Foi o que bastou para que o governador Beto Richa bradasse contra o que ele considerou como um ato de discriminação da União contra o estado: "Riscaram o Paraná do mapa", disse ele.

O governo do Paraná sabia dos projetos

O relato de Figueiredo quanto às tratativas mantidas com o governo paranaense foi feito ontem no gabinete da ministra Gleisi Hoffmann, em Brasília, na presença do próprio secretário Pepe Richa. À reunião, solicitada pelo Fórum Futuro 10 Paraná, liderado pela Federação das Indústrias, teve também a participação de representantes empresariais e de 13 deputados da bancada federal do Paraná.

Terminada a explicação de Bernardo Figueiredo – agora presidente da recém-criada estatal Empresa de Planejamento e Logística (EPL) – Pepe Richa confirmou os termos dos entendimentos prévios mantidos há mais de um ano e classificou como uma "precipitação" a interpretação e a reação do governo do Paraná contra a suposta discriminação do estado. Saiu de lá satisfeito, apenas com palavras de apaziguamento e com a confissão implícita de que não havia motivos para tanta surpresa.

O que é preciso a partir de agora? Uma das providências a tomar é o governo estadual se manifestar oficialmente a respeito de sua eventual disposição de integrar a falida Ferroeste ao novo mapa ferroviário, sem o que quase todo o resto dos planos para o Paraná ficará comprometido. E, em seguida, dar também sua opinião definitiva – incluindo a proposição de pré-projetos – sobre como fazer a produção chegar mais rápido e barato a Paranaguá, que é o que mais interessa para a economia do Paraná.

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