É a população paranaense que paga o preço da desconfiança que o governo estadual cavou para si mesmo. Desde que fantasiou cenários para conquistar a reeleição de 2014 para, logo após, lançar a mão grande sobre fundos da previdência, adiar os reajustes salariais e usar força militar para conter manifestantes em 29 de abril do ano passado – ficou realmente difícil estabelecer diálogo capaz de construir um consenso que não prejudique a maioria dos cidadãos, com os quais, também ambos os lados, devem estar comprometidos.
O resultado desta falta de confiança é a continuidade da greve do magistério, conforme decisão por apertada maioria na assembleia da categoria do último sábado (22). Nem mesmo os sinais de recuos pontuais a que governo estaria propenso a fazer foram suficientes para acabar com a paralisação.
Chame-se à responsabilidade o próprio magistério que, radicalizado, deixa milhares de alunos sem aulas no fim do ano letivo; que contribui para queda ainda maior na qualidade do ensino; que prejudica famílias impedidas de planejar até mesmo prosaicos períodos de férias. Mas, por outro lado, compreenda-se a posição dos professores, escolados pelos inúmeros motivos que os levam a desconfiar do que emana do Palácio Iguaçu.
Compreenda-se, igualmente, que a situação financeira do estado, embora melhor que a de outras unidades, também sofre com a crise recessiva do país. E que isto o leva a rever promessas para não comprometer ainda mais o equilíbrio fiscal. A desconfiança , porém, não se rende nem mesmo a tais evidências.
Estamos diante, pois, de uma crise de credibilidade. Não há diálogo produtivo e civilizado que possa prosperar neste cenário de descrença e de desrespeito de ambos os lados – e cujas vítimas maiores são o interesse público, a Educação e os alunos e suas famílias.
A este quadro soma-se a tragédia do aluno morto a facadas por um colega no banheiro de uma escola sob ocupação nesta segunda-feira, em Curitiba. Neste ponto, pode-se concluir que a crise de confiança e autoridade para dar fim ao descabido movimento de ocupações atinge não só o Palácio Iguaçu, mas também os pais, a APP (que o incentiva), Ministério Público, Judiciário, Defensoria, conselhos tutelares... todos incapazes de restaurar a ordem e defender o bem comum.



