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Olho vivo

Moralidade 1

O auxílio-moradia conquistado pelos juízes e desembargadores e logo estendido aos membros do Ministério Público tem largo "alcance social". Vejam só: se todos os 1.500 membros das duas instituições ganhassem apenas o mínimo das respectivas carreiras (R$ 21.700,00 por mês), os cofres públicos terão de pagar a eles nada menos de R$ 62 milhões por ano. Como nem todos ganham o mínimo, o dispêndio, claro, será muito maior – talvez chegue a cerca de R$ 80 milhões anuais.

Moralidade 2

Pois bem: o governo do estado e a prefeitura de Curitiba destinam R$ 7,5 milhões por mês para subsidiar o transporte coletivo metropolitano, o que dá R$ 90 milhões ano – quase o mesmo que magistrados e promotores vão ganhar a mais. A diferença é que o subsídio do transporte (tão chorado!) permite que cada um dos 840 mil passageiros pagantes dos nossos apertados ônibus economizem R$ 20,00 por mês! Isto é: a "economia" que o trabalhador faz equivale a ridículos 6 milésimos do auxílio-moradia que juízes e promotores passaram a ganhar legalmente. Moralmente também?

Calado!

Líder do governo na Assembleia, o deputado Ademar Traiano (PSDB) costuma assinar artigos que sua assessoria produz. Neles, frequentemente desanca a senadora Gleisi Hoffmann (PT), candidata de oposição ao Palácio Iguaçu. Em razão desses artigos, Traiano foi condenado ontem pela Justiça Eleitoral a pagar multa de R$ 5 mil. Venceu o argumento do advogado Luiz Fernando Pereira, chefe da assessoria jurídica de Gleisi, que caracterizou a veiculação dos textos, antes do início oficial da campanha, como "propaganda ilícita", além de ofensivos à honra da candidata.

Diretores da Copel foram à Assembleia ontem para explicar o reajuste da tarifa de luz – aquela que deveria ser de 39% mas que sofreu oportuno abatimento determinado pelo governo estadual nestes tempos pré-eleitorais. Os deputados perguntaram, os diretores responderam – mas o interessado direto no assunto, o consumidor que receberá a facada na próxima fatura, continuou boiando.

A complexidade foi tanta que a sessão de ontem ficou parecida com o experimento que dois conceituados cientistas – um norte-americano e um belga –, autores de um famoso artigo que tinha o propósito de não dizer coisa alguma. O texto da dupla, com o pomposo título "Transgredindo as fronteiras: em direção a uma hermenêutica transformativa da gravitação quântica", estava repleto de bobagens: em linguagem hermética e recheada de absurdos, misturava Física com Matemática para, supostamente, explicar fenômenos sociológicos e filosóficos. A aparência de seriedade do texto impressionou os editores de uma revista da conceituada Duke University (EUA), que não tiveram dúvidas em publicá-lo. Mais: a repercussão foi enorme nos meios intelectuais, que se deram a fazer exegeses de grande profundidade. Até mesmo um brasileiro – ninguém menos que Roberto Campos, participou da polêmica e foi um dos poucos que perceberam a intenção pândega dos autores. O que eles, os autores, queriam era isto mesmo: testar a capacidade dos pretensos sábios de, pelo menos, distinguir uma contribuição séria à ciência de uma brincadeira sem qualquer sentido. A maioria levou a sério!

A experiência de Alan Sokal (New York University) e Jean Bricmont (Université Catholique de Louvain, Bélgica) rendeu um livro de sugestivo título: "Imposturas intelectuais". Algo parecido com a afirmação feita ontem pelos diretores da Copel – que contrariou tudo quanto se disse até agora, dos dois lados – de que o aumento da luz não é culpa nem da Copel nem da Aneel. Então é de quem? Vá entender...

Zero

Semanas atrás esta coluna informou que o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba (Sindimoc) faria, no dia 21 de junho passado, uma festa junina para seus 8 mil associados. Previa-se que no "Arraiá do Sindimoc" seria sorteado um carro zero quilômetro. Soube-se ontem, porém, que nem o carro foi sorteado nem a assembleia da categoria, que seria feita em meio à festa, aconteceu.

Tudo porque o juiz do Trabalho Luciano Toledo Coelho, horas antes da festa, concedeu liminar a uma medida impetrada pela oposição sindical e suspendeu tudo. O juiz se convenceu de que os atos faziam parte da campanha de reeleição dos atuais comandantes do Sindimoc usando recursos do povo.

O Sindimoc recebe R$ 900 mil por mês, contribuição embutida na planilha que define o valor da passagem de ônibus.

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