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Jaime Lerner virou uma espécie de Geni desta campanha: Osmar Dias e Beto Richa resolveram atirar pedras nele, maneira que encontraram para exorcizar vestígios do passado e do presente que os ligam ao ex-governador. Porque, na visão deles, qualquer identificação com o lernismo lhes tira prestígio e votos.

Por isso deram-se nos últimos dias a se acusar mutuamente de pertencer à turma do ex-governador ou de partilhar agora da companhia de seus antigos auxiliares. Mostram-se ávidos por pregar na testa do outro o rótulo do lernismo. Para completar, transformam em tema de campanha a condenação de algumas heranças malditas deixadas por Lerner, como o pedágio e a venda do Banestado. Tão diferentes querem ser de Lerner que acabam ficando parecidos com Requião.

A discussão é tola. Absoluta­mente tola. Em primeiro lugar, porque não há quem não tenha se ligado a Lerner ou a Requião – os dois principais protagonistas da política paranaense nos últimos 30 anos, assim como houve nas décadas anteriores quem não tenha feito política sob o manto do neysmo. É no neysmo, por exemplo, que se encontra a origem de José Richa, que por sua vez apoiou primeiro Roberto Requião, ajudando-o a eleger-se deputado em 82 e a prefeito em 85. Arrependido, em 94 e em 98 Richa apoiou Lerner nas disputas que este travou contra Alvaro Dias e Requião.

Logo, são todos da mesma linhagem, quase uma oligarquia.

Lerner começou sua carreira política em 1971, quando foi nomeado prefeito de Curitiba. Portanto, lá se vão 39 anos já completados. Depois disso, voltou duas outras vezes para o mesmo cargo. Ficou na prefeitura, portanto, por 12 anos – período em que, com uma grande equipe de arquitetos, engenheiros e profissionais de várias outras áreas, promoveu uma revolução urbana que se transformou em modelo para o mundo.

Fez sucessores. Primeiro, Ra­­fael Greca – hoje aliado de Re­­quião. Depois, Cassio Tani­guchi, hoje um dos coordenadores da campanha de Beto Richa. O próprio Beto Richa, na condição de vice-prefeito de Taniguchi, é caudatário e beneficiário desta linhagem. Tanto que, na administração de cinco anos à frente da prefeitura da cidade, pelo menos 80% de seu secretariado eram remanescentes das equipes de Lerner e Cassio, de quem, aliás, her­­dou também a maioria dos projetos e obras que executou – algumas pela metade – na sua gestão.

Lernismo & requianismo

Depois da prefeitura, Lerner foi oito anos governador do Paraná, eleito, repita-se, com o apoio de José Richa. Compôs a equipe, naturalmente, com "lernistas" e figurantes simpáticos ou convenientes para a ocasião. Teve como secretários, por exemplo, o ex-deputado e agora presidente do Tribunal de Contas Hermas Brandão, um dos principais articuladores do lançamento de Beto Richa como candidato a governador, não sem antes ter servido a Requião, de quem pretendia ser vice-governador. Junto com Hermas nessa articulação estava outro conselheiro do TC, Heinz Herwig, que ocupou a secretaria dos Transportes num dos mandatos de Lerner.

Não é possível, pois, a Beto Richa, renegar a origem e as ligações com o lernismo – mesmo porque, ao renegar Lerner pelo que ele fez de ruim, renega também o que ele fez de bom. Assim como criticar a presença de lernistas na campanha de Osmar Dias – como os notórios Mário Celso Petraglia e Giovani Gionedis – é chover no molhado e incorrer no mesmo erro. Ao mesmo tempo, o fato de contar com a participação de lernistas em sua campanha tira de Osmar autoridade para falar do lernismo do outro.

Jaime Lerner deixou o governo e a vida pública há oito anos e o melhor que os atuais candidatos têm a fazer é deixá-lo sossegado com suas pranchetas e viagens internacionais e partir para proposições novas, que recoloquem o Paraná no bom caminho – aproveitando as boas ideias que ele deixou, corrigindo as erradas. E fazer a mesma coisa em relação a Requião e ao requianismo.

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