Ao tomar posse em seu segundo mandato como presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), na última sexta-feira, o empresário Edson Campagnolo encerrou seu discurso com um bombástico apelo – “vá para casa, Dilma!” Era um protesto contra a enxurrada de impostos e a desestruturação da economia nacional promovidas pelo governo, que ameaçam a sobrevivência do setor produtivo e atingem pesadamente a plebe trabalhadora.
Talvez Campagnolo tenha se inspirado nas marchas dos ditos “coxinhas” que têm tomado as ruas do país nos últimos meses. Ou, quem sabe, a frase se transforme num daqueles cartazes empunhados pelas mesmas madames que costumam bater panelas.
Seja como for, Campagnolo certamente vocalizou em poucas palavras o desejo de muita gente. Segundo as pesquisas já envelhecidas de um mês, 85% dos brasileiros repudiam o governo Dilma; apenas 7% o aprovam – índices que podem até ter piorado nos últimos dias dado o esforço hercúleo da equipe econômica em distribuir suas maldades indiscriminadamente entre gregos e troianos.
Espantoso não foi apenas o tom do discurso, mas também a ocasião e para a plateia para quem foi proferido – especialmente porque, não faz muito tempo, Campagnolo se derramava em elogios ao governo federal e ensaiava uma aproximação política com o PT. Desta vez, virou o disco.
E não poupou, para manter a lógica, também o governo estadual que, com a mesma fúria arrecadatória, se esforça para reequilibrar as contas públicas depauperadas durante os quatro anos do primeiro mandato. Ouviram o discurso políticos de todos os lados. Lá estavam o secretário chefe da Casa Civil de Beto Richa, Eduardo Sciarra (a quem se deu voz para explicar os pacotes tributários do seu governo), a senadora petista Gleisi Hoffmann e o senador tucano Alvaro Dias.
Ofendidos ficaram os deputados estaduais. Também presente ao evento, o líder do governo Luiz Claudio Romanelli usou da tribuna ontem para condenar a postura crítica de Campagnolo em relação à Assembleia Legislativa, dócil em aprovar os pacotaços de Richa e de seu secretário da Fazenda, Mauro Ricardo da Costa.
Romanelli deu a deixa para que o presidente da Assembleia, Ademar Traiano, cometesse também um discurso patético em defesa dos deputados. Não faltaram bravatas do tipo “não é um dirigente de federação que vem nos dizer o que fazer”. E estendeu suas condenações à OAB/PR por não tê-la visto defendendo a Assembleia quando esta, “obedecendo a uma ordem judicial”, desconheceu o clamor popular e aprovou o confisco da Previdência no fatídico 29 de abril.
Enfim, todos apareceram mais do que se tivessem melancias penduradas ao pescoço. De útil mesmo para resolver o sufoco generalizado pelo qual passam o estado e o país, nada. Apenas palavras, muitas palavras.



