Grande parte da sessão plenária do Tribunal de Contas, ontem, foi ocupada por vibrante oração do conselheiro Nestor Baptista em defesa de seu subordinado imediato, o inspetor Agileu Bittencourt – contra quem o Judiciário decretou prisão temporária (já cumprida) por suspeitas de envolvimento investigadas pela Polícia Federal no Porto de Paranaguá no âmbito da Operação Dallas.

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Segundo Nestor, as transcrições das escutas, nas quais Agileu conversa com o superintendente Daniel Lúcio e outros funcionários do Porto, sobre curiosas dispensas de licitação, demonstram exatamente o contrário – mostram que o servidor do TC apenas prestou orientação técnica e que esta, ao invés de prejuízos para o erário, resultou em economia. Outro conselheiro, Heinz Herwig, em aparte, desenvolveu o mesmo raciocínio.

A bem da verdade, as raras pessoas que tiveram acesso aos autos do inquérito são obrigadas a concordar com Nestor e Herwig num ponto: são de fato frágeis os indícios de que Agileu participava da suposta fraude. A menos que a PF e a Justiça Federal disponham de outras informações comprometedoras que não constam das peças que chegaram a público, a prisão de Agileu teria sido mesmo um exagero. Principalmente se for levado em conta que o mesmo rigor não foi aplicado a outros indiciados cuja culpa parece ser mais evidente. Caso, por exemplo, do ex-superintendente Eduardo Requião.

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Só não dá para concordar com outra parte dos discursos dos dois conselheiros. Disseram eles que as denúncias que atingem o funcionário do TC fazem parte de uma campanha não apenas para condenar Agileu, mas, sobretudo, para desmoralizar os tribunais de contas. Isto é, transferiram para a intangibilidade da instituição o foco pessoal das acusações. Mais ou menos como fazem os congressistas: cada vez que um deles é flagrado em delitos, dizem logo que a democracia está ameaçada.

E na ânsia de encontrar culpados pela desgraça que se abate sobre Agileu e contra (segundo sua visão) o TC, apontam o dedo para a imprensa – a mesma que outros acusam de "canalha". Nestor Baptista foi o mais rigoroso: "São abutres sem pena e com rabo de palha" os que levantaram as falsidades – ou seja, além da imprensa, também os policiais que trabalharam dois anos no caso e o juiz do inquérito que determinou a prisão do servidor. Estaria Nestor querendo desmoralizar a Polícia Federal, a Justiça e a liberdade de informação?

Olho vivo

Consolo...

O presidente eleito do Tribunal de Justiça, desembargador Miguel Kfouri Neto, ganhou ontem dois motivos de consolo frente à ameaça de que pode não assumir o cargo no próximo dia 1.º. Sua eleição está sendo contestada no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), já que, segundo entendimento de alguns juristas, ela não teria obedecido à legislação vigente, que reserva aos mais antigos na magistratura a ocupação de cargos de cúpula nos tribunais. Kfouri é o 55.º na lsita de antiguidade do TJ paranaense e venceu com seis votos de diferença o 12.º, desembargador Sérgio Arenhardt.

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...e tensão

Um dos motivos de consolo lhe foi dado pelo Ministério Público Estadual, que arquivou requerimento que pretendia fazer o órgão manifestar-se pela nulidade do pleito. Outro veio da Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar), segundo a qual a representação protocolada no CNJ sob n.º 9574/2011 não passa de um boato. Apesar dessas duas manifestações, a tensão continuará no ar até que o CNJ julgue a questão. Em casos semelhantes, tem julgado a favor do critério da antiguidade.

Maratona

O secretário da Educação, o vice-governador Flávio Arns, também vai viajar. E bastante. Ontem ele anunciou que visitará cada uma das 2.134 escolas estaduais espalhadas pelos 399 municípios do Paraná. Como a gestão é de quatro anos – 1.460 dias, incluindo sábados, domingos, feriados e pelo menos 12 meses de férias letivas durante o período –, Arns deverá fazer incrível maratona para cumprir a promessa.

Exonerações

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Quatro secretários de Beto Richa estão prestes a ser exonerados. São eles: Durval Amaral (Casa Civil), Luiz Cláudio Romanelli (Trabalho), Cesar Silvestri (Desenvolvimento Urbano) e Luiz Carlos Hauly (Fazenda). Os dois primeiros foram reeleitos deputados estaduais em outubro; os dois últimos, federais. Para assumir suas cadeiras parlamentares dia 1.º, devem demitir-se dos cargos que ocupam no Executivo, mas em seguida se licenciam dos mandatos – pois contam com a promessa do governador de que serão renomeados, secretários, claro.

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