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Ora, pílulas!

Eram famosas até a década de 1950 as Pílulas de Vida do Dr. Ross. Faziam bem para prisão de ventre. Eis algumas pílulas:

• O Ministério Público de Contas deu dez dias de prazo para que o secretário de Segurança informe quantas balas de borracha e bombas de gás foram gastas no dia 29. E quanto custou a operação.

• As comissões de Direitos Humanos da Câmara e do Senado esperam que o governo do Paraná mande alguém amanhã a Brasília para explicar o massacre.

• O deputado Ney Leprevost foi o primeiro de cinco deputados a apresentar projeto proibindo o uso de cães pelas forças policiais no Paraná. Rasca Rodrigues, vítima de uma mordida, foi autor de outro.

• Unanimidade: não há quem condene os PMs que agiram no Centro Cívico. Culpados foram os que os colocaram lá armados até os dentes.

É de credibilidade a maior crise que o Paraná vive nestes dias conturbados. Não há como aceitar a hipocrisia e até mesmo o cinismo com que determinadas autoridades, que deveriam zelar pelo respeito a si próprias e à população, insistem em buscar a todo custo se eximir de responsabilidade pelos tristes acontecimentos do dia 29.

Nesta segunda-feira (4), o secretário de Segurança Pública, depois de cinco dias desaparecido dos holofotes frente aos quais costumeiramente se compraz em se exibir, deu sua primeira coletiva a respeito do massacre dos professores. Lamentou o episódio, segundo ele injustificável – mas pôs a culpa nas costas do comandante da Polícia Militar, isentando-se de qualquer compromisso moral com os 213 feridos pelas balas de borracha, bombas, cães e cassetetes.

Para o secretário Fernando Francischini, o cargo que ocupa o obriga tão somente a fazer a gestão administrativa da pasta; já as operações de caráter militar são de responsabilidade do comandante da corporação. Aliás, o comandante, coronel César Vinícius Kogut, já a havia assumido dias antes e isentado o secretário. Houve, portanto, reciprocidade no posicionamento de ambos – mas faltou coerência ao secretário que, até antes do dia 29, jactava-se de ser o autor, gestor e comandante em chefe de todas as façanhas policiais para “tirar os bandidos das ruas”. Por que logo desta grande operação que tirou professores das ruas ele não teve responsabilidade alguma?

Se antes a credibilidade do secretário já se aproximava da altura de um rodapé, piorou quando insistiu – tal qual fazia o tresloucado Dom Quixote contra os moinhos de vento – em acusar meia-dúzia de imaginários black blocs empunhando pamonhas pela deflagração da generalizada e desastrada operação de lançar bombas e balas, de modo aleatório, contra cinco mil pessoas cercadas e desarmadas.

A falta de credibilidade atinge também o governador do estado. Ou, mais do que isto, atinge-lhe algum grau de alienação da realidade quando parece conformado com as explicações disparatadas que lhe dão. Ou, então, lhe falta ânimo para exercer a autoridade que o povo entregou a ele para afastar imediatamente os que estiveram no comando, direto ou indireto, da batalha campal. Vai esperar o resultado do inquérito? Daqui a 30 dias? Da sindicância dentro da própria Polícia Militar? Não viu as imagens do terror na televisão? Ou está à espera, como confidenciou nesta segunda-feira uma fonte da coluna, que o secretário da Segurança peça a conta? Quando ele falava em choque de gestão estava se referindo ao Batalhão de Choque da PM?

A sonolência de Beto Richa cobra-lhe preço alto. Ele já não precisa mostrar o rosto para que estádios e plateias de teatro irrompam em xingamentos impublicáveis. Há algo de muito errado quando se vê um governador com dificuldades até mesmo para despachar no próprio gabinete no Palácio Iguaçu, preferindo o esconderijo do Chapéu Pensador. Terá ele, então, a partir de agora, coragem de ir ao shopping, ao barbeiro, sair à rua? Conclui-se que está no mato sem pitbull, com dificuldades insuperáveis para recuperar a imagem que vendeu por tanto tempo.

A sonolência que o leva ao descrédito, tira-lhe também a aura do poder de que está investido. A ponto de ter de se ser chamado a acordar pelos seus próprios aliados. Como foi o caso do presidente estadual do PSDB, deputado Valdir Rossoni, que postou mensagem nas redes sociais e com ele falou pessoalmente aconselhando-o a afastar os secretários da Educação e da Segurança. A resposta que Rossoni recebeu do governador foi nenhuma – ou melhor, foi uma enxurrada de xingamentos chulos que infestou o Facebook do deputado, aparentemente sob orquestração dos porões.

Num primeiro momento, assustado, Rossoni retirou a postagem – mas manteve a opinião e, nesta segunda à noite, devolveu o mesmo texto, com todas as vírgulas, à sua página.

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