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Se você estava ansioso para assistir ao primeiro jogo da Copa Mundo, entre as grandes seleções de Honduras e Equador, que seria disputado em Curitiba, pode começar a refazer seus planos. Dificilmente a Arena da Baixada ficará pronta para ser sede dos quatro jogos programados pela Fifa para serem realizados na cidade.

O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, chega hoje a Curitiba para vistoriar as obras e para reunião com o governador Beto Richa, o prefeito Gustavo Fruet e o presidente do Atlético, Mario Celso Petraglia. Petraglia já deu sinais de que alguém terá de levantar pelo menos mais R$ 45 milhões para que a Arena fique nos trinques para receber os jogos e é sobre isso que ele quer tratar no encontro.

Dos quatro, Valcke não tem nada com isso. O prefeito Gustavo Fruet, enfático, se nega a colocar qualquer tostão adicional do município para garantir a conclusão da obra. E Beto Richa, mentor da engenharia financeira que montou com o ex-prefeito Luciano Ducci, João Cláudio Derosso (então presidente da Câmara) e o secretário da Copa, Mário Celso Cunha para trazer a Copa a Curitiba, esconde-se atrás dos graves problemas financeiros em que o estado mergulhou.

Diante desse quadro, em meio aos salamaleques normais que acontecerão na coletiva à imprensa logo após a reunião dos quatro, é possível que fique bem claro que a Fifa dará adeus a Curitiba e tratará de arranjar às pressas – possivelmente Porto Alegre, no estádio do Grêmio – a nova sede dos jogos que seriam disputados em Curitiba.

Saco sem fundo

Há um saco sem fundo na história da adaptação da Arena da Baixada. Primeiro, em 2010, dizia-se que as obras custariam R$ 135 milhões, divididas as responsabilidades em três partes: R$ 45 milhões para a prefeitura, outros R$ 45 milhões para o estado e a última idêntica parcela para o próprio Atlético. Dois anos depois, o Atlético apresentou um novo orçamento e um novo contrato foi assinado, acrescentado R$ 49,6 milhões ao valor inicial. Isto é, a obra deixava de custar R$ 135 milhões e passava para R$ 184,6 milhões. Terminou por aí? Não. Apesar de cancelado o sonho de Petraglia de fazer um teto retrátil da Arena, o presidente do Atlético acrescentou à conta mais R$ 65 milhões, elevando a previsão final para nada menos de R$ 249,5 milhões – ou ainda mais: R$ 264,5 milhões, se consideradas as correções calculadas pelo CUB (Custo Unitário Básico, índice usado na construção civil). Desse total, o Atlético já embolsou R$ 181 milhões e as obras estão longe da conclusão.

Sem o último aporte de recursos, a Arena não ficará em condições de sediar os jogos. O prefeito já disse que os compromissos iniciais firmados em 2010 pelos antecessores Beto Richa e Luciano Ducci e acrescidos em 2012 já esgotaram todas as possibilidades do município. Além disso, não tem certeza se, ainda que recebesse os recursos suplementares que pleiteia, Petraglia não voltaria a pedir mais e mais. O presidente do Atlético até pode ter motivos bem plausíveis, mas não são eles os causadores de emoção capaz de amolecer os corações. Da parte do prefeito, já há, por exemplo, uma decisão que diz ser irrevogável: que o próprio Atlético arque com a diferença que solicita para a viúva. Gustavo vale-se de uma promessa nesse sentido feita pelo próprio Petraglia em 20 de agosto do ano passado diante dos desconfiados ministro do Esporte, Aldo Rebello, e do mesmo Jerôme Valcke.

"Legado"

Fruet acrescenta outro argumento para fechar o cofre da prefeitura definitivamente: o município já comprometeu nada menos de R$ 219 milhões em obras da Copa só no estádio e em seu entorno. Dinheiro que saiu de várias formas: pela emissão de R$ 143 milhões de títulos de potencial construtivo, nas desapropriações de imóveis no entorno do estádio, na revitalização da Praça Afonso Botelho, além de obras viárias na redondeza. O prefeito se pergunta: o "legado" para a cidade que o emprego de R$ 219 milhões para a Copa não seria muito mais benéfico se fosse aplicado em creches, postos de saúde, pavimentação, limpeza e manutenção da qualidade vida de Curitiba?

Segundo seus assessores, Gustavo Fruet – apesar de não ter inventado a Copa em Curitiba – está ciente do desgaste político que sofrerá se os jogos forem transferidos para outras plagas. A consolá-lo, uma vantagem: ele não disputará nenhuma eleição neste ano. Já o governador Beto Richa é candidato à reeleição, e é previsível que, diante da televisão de plasma em que assistirá aos jogos via satélite, dirá que a culpa é de Gustavo.

A menos que hoje se encontre a solução mágica que coloque a Arena no "padrão Fifa" – de preferência sem o nosso dinheiro – a tempo de satisfazer os fãs de Honduras e Equador no primeiro jogo.

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