Olho vivo

Apertem os cintos 1

Enquanto o governo do Paraná reclama da discriminação que estaria sofrendo de Dilma Rousseff (veja matéria ao lado), a administração estadual estaria prestes a passar por um parcial desmonte de sua estrutura. Alguns dos mais estratégicos secretários e dirigentes de órgãos públicos deixariam seus cargos para participar da campanha eleitoral, com ênfase na disputa pela prefeitura de Curitiba.

Apertem os cintos 2

Além da primeira-dama e secretária da Ação Social, Fernanda Richa, e do presidente da Sanepar, Fernando Ghignone (que já se afastaram para se dedicar à campanha de Luciano Ducci), outros integrantes do primeiro escalão devem seguir o mesmo caminho: Michele Caputo (secretário da Saúde), Norberto Ortigara (Agricultura), Pepe Richa (Infraestrutura), Mounir Chaowiche (Cohapar) e Juraci Barbosa (Agência de Fomento). O afastamento será temporário, ou seja, apenas durante o período das campanhas do primeiro turno e (se for necessário) do segundo.

Apertem os cintos 3

Diante disso, surgem perguntas pra lá de pertinentes: a) a presença e o trabalho desses dirigentes não fazem diferença na administração estadual? b) é mais importante ganhar a eleição do que cumprir as obrigações assumidas de gerir o estado? c) a reeleição de Ducci corre risco tão grande a ponto de precisar do socorro de tanta gente tida como importante?

Apertem os cintos 4

Mas apertem os cintos, porque o piloto também pode sumir: como se a dispensa de seus assessores não bastasse, o próprio governador Beto Richa cogita licenciar-se do cargo para também se dedicar à campanha de Ducci. Pretende seguir o exemplo do pai, José, cuja licença de 15 dias do governo foi decisiva para eleger Roberto Requião prefeito de Curitiba na eleição de 1985.

Começou

Começou antes do que se esperava a tática de censurar pesquisas eleitorais. Na sexta-feira, já após ter sido divulgada na internet, uma pesquisa feita pelo instituto IRG sobre a disputa curitibana foi suspensa pelo TRE, que atendeu ação proposta pela coligação que apoia Luciano Ducci. Nas eleições de 2010 para o governo estadual, pesquisas feitas pelo Datafolha e Ibope também tiveram sua divulgação impedida.

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O governador Beto Richa será muito bem recebido pela presidente Dilma Rousseff para ouvir suas queixas quanto à não inclusão de projetos do Paraná no pacote de investimentos rodoviários e ferroviários que o governo federal lançou na semana passada, no valor global de R$ 133 bilhões. Quem assegura que a recepção será boa é o ministro Paulo Bernardo – que, com os outros dois ministros paranaenses, Gleisi Hoffmann e Gilberto Carvalho, vem sendo apontado pelo Palácio Iguaçu como um dos responsáveis pela preterição do estado.

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No pacote de investimentos o Paraná figura apenas como território de travessia de duas ferrovias que levam e trazem a produção de outros estados para portos idem. Paranaguá perderia importância relativa, já que as cargas chegariam mais facilmente e a custos menores aos portos de Rio Grande e Santos. O secretário estadual de Logística e Infraestrutura, Pepe Richa, ficou "indignado" e o governador logo se prontificou a levar pessoalmente a Dilma a insatisfação paranaense.

Paulo Bernardo, no entanto, adverte: se o governador não levar na bagagem projetos bem definidos, com começo, meio e fim, que permitam a integração das ferrovias paranaenses com os projetos federais, arrisca voltar de Brasília com as mãos abanando. Não há o que os ministros paranaenses possam fazer se não partirem do governo estadual propostas compatíveis e demonstrações de que está disposto a firmar parcerias.

Ele lembra de três casos emblemáticos ainda do tempo em que era ministro do Planejamento, no governo Lula, e o governador era outro. Um deles foi a devolução de recursos da ordem de R$ 220 milhões que a União já tinha liberado para a modernização do Porto de Paranaguá. Outro foi a recusa de R$ 550 milhões para solucionar um gargalo ferroviário destinado a dar viabilidade econômica à Ferroeste. Também foram recusados recursos para a dragagem de Paranaguá, ofertados e bem aproveitados por outros 12 portos nacionais.

O governo agora é outro, lembra Paulo Bernardo. Mas, talvez por estar se iniciando (tem apenas 20 meses), permanece o problema: não há projetos e por isso não tem como a União liberar recursos. "Não há nenhuma má-vontade de ordem política, tanto é que a própria presidente Dilma veio a Curitiba para garantir R$ 1 bilhão a fundo perdido para a obra do metrô, que agora só depende da agilidade local para ser licitado. Outros projetos poderiam ser também atendidos, desde que sejam convincentes quanto à sua viabilidade", afirma. Pepe Richa reconhece: sem planejamento para interligar Paranaguá ao sistema, "o produtor do Oeste do estado vai acabar escoando sua produção pelo Rio Grande do Sul".