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Olho vivo

Caveira

Julião Sobota, vereador do PSC conhecido também como "Julião da Caveira", é o 11.º da lista a assinar o requerimento de instauração da CPI dos Radares da Câmara de Curitiba. Agora faltam apenas duas adesões – mas há três vereado­­res "disponíveis" na oposição que sofrem de dúvida cruel: não sabem ainda se devem cuidar dos interesses menores pes­­soais e de suas respectivas paróquias ou se cumprem o papel constitucional que lhes compete de investigar os atos do Executivo, de tratar de assunto que afeta a população inteira da cidade que os elegeu e que envolve milhões de reais dos contribuintes. Os três vereadores são todos do PDT: Jairo Marcelino, Tito Zeglin e Roberto Hinça.

O Paraná merece ter Roberto Requião como seu representante no Senado? Sejamos sinceros e humildes na resposta: se não merecesse, por que o Paraná o elegeu? Feito esse raciocínio, a conclusão é igualmente absurda: bem feito pro Paraná!

A última dele, que dá razão ao presente comentário, foi o constrangedor episódio que protagonizou em Brasília nesta semana, quando, irritado com perguntas pertinentes de um repórter a respeito de sua aposentoria de ex-governador, ameaçou-o dar-lhe uma surra e tomou-lhe o gravador com o intuito de apagar o conteúdo. Um caso típico de assalto; de avanço criminososo à coisa alheia; de desrespeito ao profissional e de atentado à liberdade de imprensa.

Ter Requião no Senado é, pois, para o Paraná, um caso de arrependimento – o estado e seu povo não merecem nem aprovam esse tipo de comportamento vindo de um representante seu na mais alta Casa do Legislativo brasileiro. Como, no entanto, a essa altura, quase nada de prático e efetivo é possível fazer, o que resta aos 2,7 milhões de paranaenses que lhe deram o mandato é recorrer a flagelos e silícios cortantes para pagar a penitência devida. E purgar em silêncio a vergonha que a todos nos faz passar.

Mesmo porque ninguém em sã consciência tem o direito de afirmar que não sabia em quem estava votando. A carreira política do ex- deputado, ex-governador e, agora, pela segunda vez, senador da República, é marcada por exorbitante frequência de comportamentos que não dignificam o detentor de tantos mandatos e de tantos votos.

Uma rápida passagem pela memória nos trará à tona alguns casos bastante ilustrativos para demonstrar que o episódio ocorrido em Brasília não deveria constituir surpresa para ninguém:

- Em 2006, diante uma plateia lotada no Teatro Guaíra e na presença de seu ídolo Hugo Chávez, usou o microfone para mandar à m... um grupo de jo­­vens que o vaiavam;

- Em 2007, pediu a um grupo de humildes agricultores que enfiassem no r... os mastros das faixas de protesto que ostentavam durante um encontro de produtores rurais no Sudoeste do estado;

- Em 2004, torceu até quase fraturar o dedo de um repórter da RPC que tentava entrevistá-lo num cidade do Norte do estado;

- Durante a campanha de 2010, após proferir provocações, recebeu um soco no rosto desferido pelo deputado Ru­­­bens Bueno;

- Também em 2010, foi surrado no interior de um restaurante, no litoral, por João Feio, um amigo e assessor do então governador Orlando Pessuti, a quem havia ofendido;

- Em 2006, a funcionários públicos que reivindicavam melhorias salariais, ameaçou com "cacete e cadeia";

- Na campanha de 2006, viu-se obrigado a pedir desculpas públicas por perguntar, repetidamente, a eleitoras se "traíam os maridos";

- Em 1994, foi publicamente esmurrado por um ex-amigo, igualmente ofendido, no saguão de um hotel em Lon­­drina;

- Ao longo de anos, manifestou valentia contra desafetos durante as apresentações televisivas das terças-feiras da Escolinha de Governo, o que lhe rendeu inúmeros processos cíveis e criminais e milionárias multas.

Requião costuma jactar-se da própria coragem e seriedade. Atribui a truculência a um suposto acendrado desejo de defender o estado, o povo e o país contra os ladrões. Há quem acredite nisso tudo – e por isso vota. Não se tire a legitimidade dos mandatos que sucessivamente conquistou. Foram manifestações democráticas, votos livres e soberanos de todo cidadão que fez a opção por ele.

Nem por esse motivo, porém, o senador, como homem público e detentor de mandato, pode ficar acima da crítica e da lei. E é direito de todos manifestar o que pensam dele e de pedir-lhe que represente melhor, mais dignamente o estado que representa – e que seja motivo de orgulho, e não de vergonha, para os paranaenses.

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