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Olho vivo

Delação 1

O vereador João Cláudio Derosso contratou o advogado Figueiredo Basto para defendê-lo na esfera criminal. Nomeado para o Conselho de Administração da Sanepar no atual governo, o advogado atuou em algumas causas na defesa de Beto Richa – mas não é por estes motivos que ele se tornou reconhecido como bom profissional. Conta a seu favor a frequência com que livra seus clientes de penas maiores graças à "delação premiada".

Delação 2

A delação premiada – remédio heroico reconhecido no processo penal – concede benefícios ao réu que denuncia outros participantes na mesma ação criminosa. Por exemplo: doleiros que revelam nomes e contas bancárias de clientes que se utilizaram de mecanismos cambiais para fraudar o fisco. Não há, no entanto, nenhuma evidência de Derosso possa ser aconselhado pelo seu advogado para delatar a eventual participação de outros vereadores nas supostas irregularidades que teria praticado na administração da Câmara.

Delação 3

Por falar em delação premiada, é hoje que a Comissão de Ética da Câmara Municipal toma o primeiro depoimento do presidente João Cláudio Derosso. Cuidados serão tomados para evitar a citação de outros nomes, assim como para não misturar a vida pública de Derosso com a vida privada.

Os políticos são animais providos de duas cabeças. Uma, situada acima do pescoço, serve para planejar, racionalizar, montar situações que lhes pareça mais conveniente para o futuro. Esta cabeça é muito usada nesta fase pré-eleitoral, quando os partidos e seus líderes se dedicam a construir as bases para o momento imediato que antecede as eleições. A outra cabeça, localizada muitas vezes nas proximidades do fígado, é usada durante a campanha, para o vale-tudo, para o embate emocional que costuma acontecer meses antes de o povo ir às urnas.

Então, o presente momento, distante ainda um ano do início da campanha, vale mais o pragmatismo do que a emoção. Trabalha-se mais com o cérebro do que com o fígado. E é exatamente assim que estão agindo aqueles que têm poder de fato ou de influência para ditar os rumos. Assim agem o governador Beto Richa e o prefeito Luciano Ducci, que calculam todos os passos que dão para pavimentar a reeleição de ambos – o primeiro, em 2014; o segundo, já em 2012 – sabendo que uma coisa pode depender da outra.

Não age de outro modo o lado contrário, isto é, os que estão de olho na eleição para prefeito de Curitiba mas enxergando, desde já, a eleição para o governo estadual.

O ministro das Comunica­­­ções, Paulo Bernardo, deu outra vez o toque do pragmatismo com que procura influir sobre as decisões do PT numa entrevista, anteontem, a jornalistas da Folha de S. Paulo e do portal UOL. Nela, o ministro confirma as conversações que ele e seu partido vêm desenvolvendo, já há meses, com o ex-tucano Gustavo Fruet para levá-lo a representar as forças da oposição na disputa pela prefeitura no ano que vem.

Não importa se ele "foi um forte opositor do governo no período como deputado, durante todo o governo Lula", afirmou Paulo Bernardo. Importa que Fruet "rompeu com o PSDB, saiu do PSDB, tem críticas fortes, está se articulando para ser candidato, está em primeiro lugar nas pesquisas e nós estamos conversando".

O raciocínio pragmático do ministro se completa com outra afirmação constante da entrevista: "Eu diria assim: a despeito dele ter sido opositor, é uma pessoa que nós consideramos um homem de bem, um sujeito [com quem] nós não teríamos nenhuma dificuldade em estar na foto, digamos assim. E, portanto, se tivermos um projeto... ele, principalmente, se tiver um projeto que nos seduza para essa ideia... 'tem que fazer isso, isso e isso em Curitiba', então podemos ir juntos".

O olho do ministro enxerga 2014: a ajuda do PT para eleger Gustavo Fruet significa tirar o colégio eleitoral de Curitiba – quase 30% do total do estado – do domínio político de Beto Richa, sem dúvida um golpe forte contra a sua intenção de se reeleger governador. Mais do que isso: significa facilitar o projeto de fazer de Gleisi Hoffmann – que reúne numa só pessoa as condições de ser senadora, atual chefe da Casa Civil e mulher de Paulo Bernardo – candidata ao governo com chances de derrotar Richa. E mais: de manter o PT na Presidência da República.

Pensar e agir com o fígado vem depois: como administrar, durante a campanha, a contradição de ver Fruet aliado ao PT e vice-versa?

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