O que é mais importante: o fato ou a versão? A substância ou o acessório? Explicar convincentemente os fatos ou caçar inimigos reais ou imaginários? Enfrentar a realidade ou apelar para o diversionismo?

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Nas quatro questões colocadas acima, a segunda alternativa de cada uma delas foi a preferida dos assessores do prefeito Beto Richa, ontem, na primeira reação às denúncias de uso supostamente ilegal de dinheiro para comprar a lealdade política de um grupo de filiados do PRTB – um partido inexpressivo dado ao hábito de oferecer-se em aluguel.

Os fatos foram contados em um vídeo clandestino produzido às vésperas da eleição municipal de 2008 em matéria que foi a manchete da edição da Gazeta do Povoe no domingo e exibida à noite pelo Fantástico.

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De modo bem objetivo, o que a gravação mostra é um grupo de pessoas recebendo dinheiro dentro de um comitê de apoio ao prefeito Beto Richa, então candidato à reeleição. Essas pessoas eram dissidentes do PRTB, que haviam desistido de concorrer à Câmara de Vereadores em sinal de protesto à aliança que o partido fizera com um adversário de Richa. O mesmo vídeo mostra também o prefeito-candidato, no comitê, agradecendo o apoio do grupo.

Esses são os fatos. São eles que precisam ser correta e claramente explicados por quem de direito, isto é, pelos coordenadores da campanha, pelos dirigentes partidários, por quem criou o comitê e por quem o fazia funcionar. Exemplo de fato a ser explicado: qual a origem do dinheiro?

Frise-se que não é dinheiro pouco. Pouco considerando-se o que foi dado a cada um dos beneficiários – R$ 1.600 pagos em duas parcelas – mas um valor considerável se multiplicado pelo número de favorecidos. Segundo consta, 28. O que resulta em montante próximo de R$ 50 mil. Ora, examinando-se a lista de doadores de Beto Richa registrada no TRE, vê-se que, com raríssimas exceções, os valores ultrapassam a casa de R$ 10 mil.

Ninguém deu explicações sobre como esse dinheiro vivo apareceu na sede do "comitê independente" – reconhecido como "nossa casa" pelo prefeito Beto Richa e confessadamente abastecido com outros recursos da campanha do PSDB.

Em vez, tratou-se predominantemente na entrevista dos ex-coordenadores financeiro e jurídico da campanha de 2008, respectivamente Fernando Ghignone e Ivan Bonilha (atualmente, o primeiro, diretor da Urbs e, o segundo, procurador-geral do município) de convencer os jornalistas que os fatos revelados não passavam de uma "armação" de inimigos do prefeito.

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Foram citados ou insinuados como responsáveis pela armação, por exemplo, o senador Alvaro Dias e o secretário estadual de Segurança, Luiz Fernando Delazari. Para referendar a suspeita, a entrevista foi recheada com um outro vídeo em que Rodrigo Oriente – um obscuro personagem da trama, que ajudou a gravar a primeira fita – insinua o interesse daqueles em patrocinar o vazamento.

Sim, mas e daí? De onde veio o dinheiro? A quem aproveitava o pagamento para aquelas pessoas? São fatos objetivos que ainda precisam ser esclarecidos.

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Os observadores distantes

Há pelo menos quatro meses, o coordenador-geral da campanha de Richa em 2008, ex-ministro Euclides Scalco, recebeu em seu escritório o prefeito e o presidente estadual do PSDB, deputado Valdir Rossoni. Comunicou-lhes, na ocasião, o seu completo afastamento político do prefeito, pois incomodava-o fato de vê-lo cercado de pessoas não recomendáveis. Scalco está hoje nos Estados Unidos em visita a uma filha, de onde acompanha os efeitos de sua profecia.

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E ontem, em Brasília, Alvaro Dias, em meio aos debates sobre a crise no Senado, negava qualquer participação no episódio curitibano: "Não estou acostumado a agir nas sombras", disse ele. "Repudio qualquer insinuação dessa natureza."

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Olho vivo

O convite

O presidente Lula encarregou ontem seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, de agendar para os próximos dias um jantar reservado com Requião. Será nesta ocasião que o presidente pretende convencer o governador a participar do esforço conjunto para dar à ministra Dilma Rousseff uma grande votação no Paraná na eleição do ano que vem. Por "esforço conjunto" entenda-se que dele deverá fazer parte o senador Osmar Dias, escolhido por Lula para ser o candidato do PT ao governo do Paraná. O convite a Requião foi feito durante evento de que Lula participou em Londrina, na Sociedade Rural. Requião – para surpresa de alguns circunstantes – comportou-se de modo civilizado.

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