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Olho vivo

Dois gumes 1

Objeto da simpatia de 9 em cada 10 curitibanos, o projeto de construção do metrô poderá ser (ou não, conforme se verá) uma das grandes armas do prefeito Luciano Ducci para conquistar a reeleição. São dele os méritos para viabilizar a engenharia política e financeira, envolvendo os governos estadual e federal, para bancar a obra, calculada em R$ 2,2 bilhões para os 13 quilômetros de linhas entre o Pinheirinho e o centro da cidade. Terá, no entanto, de se apressar para tirar o metrô do ideário popular e colocá-lo no terreno das coisas concretas.

Dois gumes 2

De acordo com a legislação eleitoral, em ano de eleição obras novas só podem ser iniciadas até junho. Ou após o pleito. Nos próximos cinco meses, portanto, muita coisa precisa acontecer se o prefeito quiser fazer do metrô o melhor mote da sua campanha. A primeira providência é aprovar o complexo regulamento para definir os papéis de cada agente ativo do processo, a começar pelo da Urbs, responsável pelo gerenciamento do transporte e pelo relacionamento com a empresa que vier a construir e explorar o sistema. Este passo inicial está ainda longe de ser concluído, revelaram à coluna fontes da área.

Dois gumes 3

Somente depois dessa primeira etapa é que será possível elaborar o complicadíssimo edital de licitação. Ele será tanto mais atrativo à participação privada quanto maiores forem as garantias de que o metrô dará lucro e garantirá retorno do investimento. Logo, deverá constar do edital o valor máximo da tarifa que a vencedora da concorrência poderá cobrar dos usuários. É o valor da tarifa multiplicado pelo número de usuários que determinará a rentabilidade do empreendimento.

Dois gumes 4

Pois bem: o prefeito já anunciou que o sistema será integrado e que a passagem do metrô terá de ser igual a dos ônibus. Sabe-se, porém, que metrô custa muito mais caro que ônibus – logo, parece lógico que o ônibus terá de subir. Quanto? Vai se ter esta resposta quando o edital for lançado (até junho?). E, então, se saberá se o que seria uma forte bandeira eleitoral não poderá redundar em insatisfação para os milhões de eleitores que hoje andam de ônibus. A conferir.

Merecem meditação os últimos números divulgados pela Se­­­­cre­­­­ta­­­­­ria da Segurança Pública sobre a criminalidade em Curitiba e municípios metropolitanos. Um levantamento parcial, focado apenas nos casos de homicídios dolosos (ainda não foram computados dados sobre os crimes de outras naturezas), informa que houve queda de 5,9% no número de assassinatos na região. Em 2010, foram registrados 1.641 homicídios. O número baixou, em 2011, para 1.543. Isto é, no primeiro ano da gestão do governador Beto Richa, 98 pessoas salvaram-se da sanha assassina.

O governo festejou. O que nos leva a perguntar: seria esta queda resultado do tal jeito novo de governar prometido durante a campanha eleitoral? Que mudanças substanciais foram introduzidas durante o primeiro ano do atual governo na área da segurança pública capazes de influir nessa redução da criminalidade?

Quem examina os dados constantes dos relatórios trimestrais de 2011 fica ainda mais impressionado quando constata a abrupta queda dos crimes se comparados o primeiro trimestre com o último: de 525 para 284, uma diferença de 46% de um extremo a outro do mesmo ano. Examinada a série histórica dos quatro trimestres, vê-se que os índices de queda são sucessiva e consistentemente grandes: no segundo, foram 397 assassinatos; no terceiro, 327.Os valores absolutos devem guardar relação com a população existente. É assim que se calcula a taxa de criminalidade. Para uma população de 3.350.517 habitantes (números do IBGE para Curitiba e vizinhança usados como base pela Secretaria da Segurança), em meio à qual ocorreram 1.543 homicídios, o que resulta no índice de 46 para cada grupo de 100 mil pessoas. Bom quando se compara com o índice de 101 registrado em Alagoas; péssimo se comparado ao de São Paulo, de 15,6; muito ruim diante da média nacional de 26,2.

Claro que o governador Beto Richa está muito insatisfeito com os índices paranaenses. A ponto de, na semana passada, ter anunciado a meta de chegar ao fim do governo, em 2014, com 21,36 assassinatos por 100 mil habitantes. Não se entende a razão de definir meta desse gênero com tanta exatidão, com direito a dois dígitos após a vírgula – mas de qualquer forma ficou escrita, gravada e arquivada a promessa de que, em três anos, Curitiba e seus vizinhos enfrentarão menos da metade da violência que agora os atemoriza tanto.

Só não vale manipular nú­­­meros.

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