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Olho vivo

Volta por cima 1

O mundo dá voltas, diz o ditado. Defenestrado do cargo de secretário de Trânsito do ex-prefeito Luciano Ducci em 2012, quando se descobriu que acumulava infrações superiores a 180 pontos em sua carteira de habilitação, eis que, agora, o advogado Marcelo Araújo dá a volta por cima: foi nomeado por Beto Richa para uma das Juntas Administrativas de Recursos de Infrações (Jari), do Departamento de Trânsito. Sua missão é julgar recursos de motoristas inconformados com as autuações de que foram vítimas.

Volta por cima 2

O decreto de nomeação, publicado no Diário Oficial de 26 de setembro, leva o número 9.052. Consta ali que quem o indicou para o posto foi o Sindicato das Empresas Locadoras de Veículos (Sindiloc), entidade para a qual presta serviços de advocacia. Até dias atrás era possível acessar o renovado prontuário de Marcelo Araújo: de 2007 a 2012, acumulou 10 grupos de 20 pontos na carteira, alguns deles por três vezes num mesmo ano, como ocorreu em 2010.

Volta por cima 3

Ok! Agora ele está "limpo" e sua carteira zerada: fez um curso de reciclagem em 2012, conseguiu arquivar por recurso três dos dez processos de 20 pontos e outros seis foram anulados administrativamente – isto é, sem julgamento e sem reciclagem. O que significa que Araújo está moralmente apto – e com muito mais conhecimento de causa – para julgar recursos alheios.

Acefalia

A Procuradoria-Geral do Estado (PGE) está acéfala. Dias depois de nomeada procuradora-geral, Jozélia Nogueira foi exonerada para assumir a Secretaria da Fazenda. Isso foi no dia 7. Hoje é dia 17 e nem sequer há sinal de designação de um interino na PGE.

O conselheiro Acácio, impagável personagem de Eça de Queirós em O Primo Basílio, notabilizava-se pela produção de frases pomposas e pensamentos óbvios revestidos de vernizes pseudointelectuais. Daí a palavra "acaciano" para designar tipos ou situações assemelhados. Bizantino é outro termo corrente para definir discussões inúteis – assim como o fizeram os bispos reunidos no Concílio de Bizâncio no século 7.º, que perderam anos na infrutífera tarefa de descobrir o sexo dos anjos.

Pois está autorizado a se lembrar do velho Acácio ou de Bizâncio quem quiser analisar a CPI do Pedágio que transcorre na Assembleia Legislativa do Paraná desde julho e com prazo de validade prestes a terminar.

Mais de três meses após o início dos trabalhos, a mais contundente das afirmações até agora produzidas por seus deputados é a de que o pedágio é caro – uma obviedade acaciana repetida desde 1998 quando, no governo Lerner, foram instaladas as primeiras praças de cobrança nos 2.500 quilômetros do Anel de Integração.

Esse fato até que poderia mesmo ser tomado como ponto de partida da CPI se ela soubesse – ou já estivesse mostrando caminhos seguros e plausíveis – o que fazer para reduzir o valor das tarifas. Mas não. Qualquer balanço destes 90 dias mostra que seus deputados continuam atirando a esmo e enrolados no emaranhado de contratos, aditivos, taxas de retorno, índices de acidentes, ações judiciais, lucros das concessionárias, obras suspensas, números fantasiosos, pesquisas capengas, duplicações não realizadas e uma infinidade de outras quizilhas que, bizantinamente, não têm conduzido aos resultados práticos que o povo quer.

A menos que, por "prático" se entenda o proveito político-eleitoral que alguns dos membros da CPI buscam tirar dos discursos, entrevistas à mídia e audiências no interior.

Não há o que investigar nas concessões rodoviárias do Paraná? Não há o que fazer para retomar obras e baratear as tarifas? Não poderia a CPI contribuir com sugestões mais técnicas, juridicamente aceitáveis e menos contaminadas pela política? Evidente que sim – mas nem parece ser esse o objetivo predominante, o que inevitavelmente condena a CPI ao esvaziamento e ao descrédito que já lhe tomam conta. E que seu relatório final certamente comprovará.

Nem mesmo dos empresários do setor produtivo – que constituem o tal de G7– a CPI tem conseguido apoio unânime. A Federação das Indústrias está praticamente isolada no combate ao pedágio e ao apoio explícito ao funcionamento da comissão. As demais, como a Federação da Agricultura ou a das Transportadoras de Cargas já chegaram até a se manifestar pela prorrogação dos contratos (terminam em 2021) se isso servir para baixar o pedágio.

O que, sem dúvida, dá fôlego às negociações que governo e concessionárias vêm fazendo para obter esse resultado. Qual terá sido a contribuição da CPI?

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