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Dizem que o Brasil é abençoado por Deus. Não temos vulcões ativos, tremores de terra são raros e de baixa intensidade. Neste país tropical, o Sol brilha intensamente, as praias são maravilhosas, temos palmeiras onde cantam os sabiás. O povo é cordial, tanto no sentido mais profundo que lhe deu Sérgio Buarque de Holanda em seu “Raízes do Brasil”, quanto na compreensão mais popular do termo. As riquezas do subsolo são imensas e, na superfície, em se plantando tudo dá. Somos, portanto, um paraíso, quase bíblico.

Mas, pôxa, que políticos temos! O tamanho deles é inversamente proporcional à grandiosidade tão cantada em prosa e verso de que nos orgulhamos.

Nesta segunda-feira (9), enquanto 11 milhões de pessoas ansiavam por recuperar o emprego perdido, a inflação continuava galopando, a bolsa e o dólar tremiam, e o Aedes continuava picando, tivemos mais um espetáculo – quase um terremoto; ou, pelo cheiro de enxofre que dominou o ar, algo semelhante aos efeitos causados pela erupção de um vulcão.

Esta foi, de fato, a sensação dominante na República desde as primeiras horas da manhã quando se teve conhecimento de que, numa canetada monocrática, o presidente interino da Câmara Federal, deputado Waldir Maranhão (PP-MA), teve a pretensão de interromper a marcha do impeachment.

(N.R. - por ironia, o deputado, além de levar no sobrenome o topônimo, representa o Maranhão – terra de Gonçalves Dias, o poeta da ufanista “Canção do Exílio”)

Alegou filigranas jurídico-regimentais para afirmar que a aprovação da admissibilidade do afastamento naquela histórica (e histriônica) sessão de 17 de abril – aprovado por 367 alegres deputados – era nula. E, sendo nulo, o processo deveria sair do Senado e voltar para a Câmara para recomeçar tudo do zero.

Difícil levar a sério uma decisão deste jaez, mas ainda assim, imaginava-se que o país tinha sido vítima de um insuspeitado tsunami – até que, já no fim da tarde, o presidente do Senado, Renan Calheiros, passou o rolo compressor sobre a ridícula decisão de Maranhão e levou o processo à frente. Sob protestos dos governistas, ele deu o passo seguinte ao mandar que fosse lido um resumo do relatório do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), que admitiu o impeachment, aprovado na semana passada por ampla maioria na Comissão Especial do Senado

Com isto e com o apoio da maioria esmagadora dos senadores, Calheiros derrotou Maranhão, confirmando para esta quarta-feira (11), a sessão que poderá decretar o imediato afastamento provisório de Dilma Roussef, pelo prazo máximo de 180 dias – período reservado para o julgamento definitivo da presidente, com amplo direito de defesa.

O dia terminou neste ponto? Não necessariamente. A promessa do Palácio do Planalto é transferir para a Justiça, em medida que poderá protocolar ainda hoje no Supremo Tribunal Federal (STF), a responsabilidade de dizer quem está certo, se Maranhão ou se Renan. Ou seja, há possibilidade – embora remota – de reversão, no todo ou em parte, deste processo a que o país assiste angustiado há tantos meses.

Lamentável é perceber que a gravidade da crise não terminará tão cedo, qualquer que seja o resultado final da etapa do impeachment. O país continuará governado sob o mesmo modelito de presidencialismo de coalizão, com pencas de partidos se digladiando por ministérios e cargos, com políticos de baixa extração à frente de tudo.

A eventual queda de Dilma, o afastamento do presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a assunção aos cargos dos interinos Michel Temer e Waldir Maranhão não significam um desejável “efeito dominó”, uma limpeza pedagógica de área. O Brasil maravilha ainda está longe de se tornar realidade. Só existe mesmo no mundo da poesia.

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