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Até a noite de sexta-feira o governador Roberto Requião não havia ainda conseguido um nome respeitável no mundo jurídico paranaense para substituir Sérgio Botto de Lacerda na Procuradoria Geral do Estado. Por isso, evitava aceitar o inevitável – isto é, dar oficialmente como fato consumado a demissão pedida por Botto já há quase dez dias.

A dificuldade do governador decorre de razões bem objetivas: a) são raros os bons juristas da praça que se afinam ou se submetem ao perfil de atuação política de Requião; e b) entre estes, quase todos temem assumir a responsabilidade de enfrentar o passivo jurídico acumulado na gestão de Botto de Lacerda.

De fato, por conta da desmedida impulsividade com que Requião costuma fazer valer sua visão político-ideológica do mundo, dezenas de ações tramitam hoje em todas as instâncias da Justiça local e nacional. Em sua maioria, são causas que, de ante-mão, se sabe perdidas e que, ao final, pesarão muito no bolso do contribuinte paranaense.

Exemplos? Eis alguns:

• Já se contabiliza em R$ 170 milhões o valor que, um dia, o Tesouro estadual terá de pagar às concessionárias de pedágio em razão de rompimentos do equilíbrio econômico-financeiro dos contratos;

• A estação experimental da Syngenta, desapropriada em novembro, deverá voltar às mãos da empresa proprietária, acrescida de indenizações monstruosas;

• O decreto de apreensão das locomotivas e vagões de propriedade da empresa Transferro será considerado ilegal, e o equipamento devolvido aos seus donos, juntamente, claro, com as devidas indenizações. Com isso, a Ferroeste poderá parar de vez;

• Para evitar uma multa de US$ 800 milhões no Tribunal Arbitral de Paris, a Copel obrigou-se a pagar à multinacional El Paso R$ 400 milhões para assumir o controle acionário da usina de gás de Araucária – dinheiro que poderia ser usado para outros investimentos;

• O Paraná paga R$ 10 milhões por mês de multa à União por se recusar a reconhecer dívidas precatórias assumidas quando da privatização do Banestado;

• O Banco Itaú cobra na Justiça o rompimento do contrato que lhe permitia centralizar a arrecadação de impostos e a folha de pagamentos do funcionalismo público estadual;

• A Pavibrás, que já recebeu R$ 70 milhões extras por conta da má gestão da Sanepar na condução das obras de saneamento do litoral, está na Justiça reivindicando mais R$ 40 milhões em razão de outros prejuízos que alega ter sofrido.

Afora estes contenciosos, há ainda muitos outros tramitando na Justiça – nem todos, no entanto, quantificáveis do ponto de vista monetário. Há o caso, por exemplo, das brigas em relação aos transgênicos, Porto de Paranaguá e Secretaria de Segurança Pública – sem mencionar os inumeráveis processos em que o governador figura como réu acusado de injuriar e caluniar.

Assumir o lugar de Botto de Lacerda, quem há de?

Olho vivo

Apoio 1 – A Associação dos Delegados de Polícia do Paraná (Adepol) e o Sindicato dos Delegados de Polícia uniram-se em defesa do delegado geral adjunto da Polícia Civil, Francisco Batista Costa. Ele figura como réu em processos sobre sua participação no caso da morte do jovem Rafael Zanella, em 1997, acusado de acobertar provas que incriminavam policiais sob suas ordens – caso parecido com a suspeita levantada pelo governador Roberto Requião em relação à execução de um outro jovem, há duas semanas.

Apoio 2 – "Não entendemos justas as referências (feitas pela imprensa), as quais têm claro objetivo de atingir a administração da Segurança Pública usando a figura de um profissional qualificado, pai de família, homem distinto e honesto", diz o manifesto da Adepol e do Sindicato.

Ausência 1 – Pela primeira vez em 42 anos, o ex-deputado Leo de Almeida Neves não estará presente a uma convenção do seu partido – antes o MDB "velho de guerra", agora o PMDB. Enquanto a convenção elege Michel Temer hoje, em Brasília, Leo continua em São Paulo recebendo cuidados para recuperar-se das três cirurgias a que foi submetido desde janeiro.

Ausência 2 – Leo, 74 anos, estava em férias no Chile quando viu-se vítima de uma diverticulite. Transferido às pressas para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, foi submetido com sucesso a uma cirurgia de emergência. Depois, porém, sofreu um quadro de infecção generalizada que lhe valeu mais duas cirurgias. Agora se recupera bem. Mas ficará fora de combate pelos próximos 30 dias.

Imprensa – Comentário jocoso de um deputado: "A briga contra a imprensa no Paraná é tão séria que nem a Imprensa Oficial escapa". Fazia referência à auditoria que Requião mandou fazer no Departamento de Imprensa Oficial do Estado – lugar onde também teriam ocorrido coisas cabeludas, segundo consta de relatório que tramita no Tribunal de Contas.

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