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Dois pontos porcentuais de diferença equivalem a cerca de apenas 120 mil votos – uma insignificância, se comparada ao universo de 6 milhões de eleitores paranaenses que devem comparecer às urnas hoje. Esta é a diferença prevista no Ibope/RPC divulgado ontem à tarde. Considerados apenas os votos válidos, Beto Richa e Osmar Dias aparecem empatados em 49%. Os nanicos Paulo Salamuni (PV) e Luiz Felipe Bergmann (Psol) somam os restantes 2%, o que indica a forte possibilidade de um segundo turno. Há que se lembrar, po­­rém, que o Ibope admite uma margem de erro de 2% (para mais ou para menos para quaisquer candidatos). O que mantém o suspense até a contagem final do que as urnas registrarem até às 17 horas de hoje.

A eleição de final indefinido e apertado que sairá hoje valeu realmente como um bom filme de suspense, com roteiro cronológico. Comecemos por rebobiná-lo até localizarmos 2008, pois foi neste ano que efetivamente começou a campanha de 2010:

• Em junho de 2008, o prefeito Beto Richa é aclamado candidato do PSDB à reeleição embalado em indiscutível popularidade. O slogan "Beto fica!" recebeu logo a adesão maciça da população.

• O senador Osmar Dias, que vinha de uma "quase" vitória sobre Requião na eleição de 2006, apresentava-se como candidato natural ao governo em 2010. Retribuiu o apoio que Richa lhe deu em 2006 e o apoiou em 2008, na esperança de que seria ungido pela mesma aliança até 2010.

• Reeleito, Beto inicia sua marcha para tornar-se candidato a governador, mesmo que isto significasse abandonar o novo mandato 15 meses depois de iniciado. O "Beto fica!" foi esquecido.

• Os dois Dias senadores e irmãos se alvoroçaram. Alvaro queria ser o escolhido do PSDB, mas foi vencido pela estrutura partidária previamente montada e dominada por Richa. Osmar viu-se pendurado no ar apenas com o pincel do PDT, sem mais escada em que se sustentar.

• Lá de Brasília, Lula percebeu algumas coisas: precisava de palanque no Paraná para Dilma, o PT não tinha candidato local próprio e Osmar estava abandonado. Ofereceu-lhe o que lhe parecia possível: apoio pessoal e estrutura do PT.

• Osmar queria mais. Queria quase o impossível: que o PT lhe desse Gleisi como vice e que Lula ainda convencesse Requião e o PMDB (que pendia para Beto) para a frente partidária.

• Empossado como titular, o vice Orlando Pessuti também viu brechas para que ele próprio se candidatasse pelo PMDB à sucessão de Requião. Mais um problema para Lula resolver, pois com Pessuti no pedaço Osmar não viabilizaria aliança suficiente.

• Pessuti apostava em si próprio. Assim que assumiu o governo, dedicou-se a montar o que ficou conhecido como "operação Jeca", que consistiu em trazer para o governo seus muitos amigos do interior. Desco­nhecidos e discretos, mas com votos na convenção do PMDB, seria facilmente lançado candidato. Contra a vontade de um derrotado Requião.

• Foram meses de negociação. Dias, noites e madrugadas foram consumidas para que a) Pessuti renunciasse à sua pretensão; b) Osmar aceitasse outro vice que não fosse Gleisi; e c) Requião se lembrasse de que ele e Osmar eram amigos desde criancinhas. E se formou, então, a mais esdrúxula e impensável das alianças partidárias (e pessoais) que jamais se vira no Paraná.

• Enquanto isso, Beto percorria o Paraná em plena campanha. Candidato definido contra um quadro indefinido, não lhe foi difícil angariar simpatias, adesões e muitos pontos nas pesquisas iniciais. Parecia invencível.

• Iniciada a campanha, nada fazia crer que o quadro pudesse mudar. Até que o presidente Lula desembarcou no Paraná para três comícios – um em Foz do Iguaçu e os outros dois em Curitiba.

• Ao mesmo tempo, com Beto e Osmar atrelados a Serra e Dilma, respectivamente, eles passaram aparentemente a sofrer os reflexos do que se dava no plano federal. Dilma subia, Osmar também; Serra caía, Beto idem, conforme vinham registrando as últimas pesquisas conhecidas, da primeira quinzena de setembro.

• De lá para cá nada mais se soube sobre a posição dos candidatos. Beto Richa impugnou na Justiça nove pesquisas que estavam no calendário do TRE para os dias finais da campanha. Somente uma, a do Ibope, é que venceu a barreira que vinha sendo imposta pelo TRE paranaense. É que o TSE – o supremo orgão do judiciário eleitoral do país, entendeu ser regular a pesquisa.

• A partir das 8 horas da manhã deste domingo, os eleitores começam definivamente a desfazer o mistério que imperou durante tanto tempo e não desfeito pela pesquisa. Às 5 da tarde, com o início da apuração, será rompido o véu das trevas e escrito o epílogo desse filme de suspense.

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