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A presidente Dilma Rousseff apresentou ontem ao país algo que bem se poderia chamar de manual de boas intenções. Não há, nos cinco pactos que propôs aos governadores e prefeitos que convidou ao Palácio do Planalto, nenhum que não possa se situar no virtuoso campo do idealismo. Ei-los, um a um:

• pacto com a responsabilidade fiscal;

• pacto pela reforma política;

• pacto por mais saúde;

• pacto pelo transporte público;

• pacto pela educação.

É possível ser contra qualquer destas propostas? Embora tenha se pronunciado antes mesmo do início da reunião, o governador do Paraná foi uma das primeiras vozes discordantes. "Eu não estava com muita vontade de vir, não. Tinha muitos compromissos no Paraná. E acho que esse encontro não vai dar em nada. É uma tentativa de dividir o ônus da crise com outros governantes", sapecou.

Apesar desta tentativa de, já a priori, desacreditar dos propósitos presidenciais, em sã consciência não há como desmerecer as medidas de solução para a crise política, econômica e moral que tem levado o povo à rua – crise que, se em grande parte é de responsabilidade do governo federal, o é também dos governos municipais e estaduais, incluindo o do Paraná.

É possível, por exemplo, negar a necessidade urgente de respeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal? É possível concordar que, apesar das dificuldades dos caixas estaduais, ainda haja governadores exorbitando nas nomeações de cargos comissionados? Comprando prédios faraônicos enquanto falta pão para alimentar policiais militares e dinheiro para postar carta no correio?

Também é impossível não reconhecer a necessidade de uma ampla reforma político- eleitoral, já que o sistema que aí está não conduz a uma representatividade popular minimamente aceitável. Ah, não! Mas Dilma quer a reforma pela via de uma Assembleia Constituinte especial, convocada por meio de um plebiscito. Que desprestígio para o Congresso ela está impondo! Pergunta-se: há quantas décadas o Congresso enrola e não faz a reforma política?

Também não se pode ser contra o compromisso coletivo das três esferas – União, estados e municípios – em melhorar a saúde pública, a educação ou o transporte coletivo. Ou pode?

Logo, ainda que no plano teórico, apoiadas todas estas ideias, o que se tem mesmo ainda é o manual de boas intenções – muito parecido com os discursos de campanha que nunca se tornam realidade. Incluindo os que ela própria, antecedida por Lula, FHC e outros fizeram para ganhar eleições. E que fizeram também governadores e prefeitos que hoje, ou fingem não ter nada com isso, ou criticam as boas intenções dos outros.

Junto com o manual das boas intenções, talvez devesse também ser distribuído um livro de auto-ajuda – daqueles que deixam as pessoas com mais vontade de fazer o que também estão devendo.

Olho vivo

Nós somos...

Analistas do mercado financeiro apontam o dedo para o Paraná quando percebem que papéis das estatais negociados em bolsas começam a perder valor e atratividade. Eles recomendam: é melhor, a partir de agora, aplicar em ações de companhias privadas. A explicação é simples: o governo do Paraná suspendeu o aumento das tarifas que a Copel havia solicitado à Aneel. A resposta do mercado foi imediata: as ações da companhia despencaram 16% na última sexta-feira, horas após a determinação do governador de cancelar o reajuste, e continuavam em queda no pregão de ontem.

...a Argentina...

A decisão paranaense contaminou o comportamento das ações de outras empresas estatais com papéis na Bovespa. Ontem, para piorar, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, fez os analistas ampliarem o círculo: também não é bom aplicar em companhias que dependam de autorizações governamentais para fixar suas próprias tarifas. Alckmin suspendeu o aumento do pedágio de 6,5% que valeria a partir de 1º de julho. As ações das concessionárias caíram e puxaram a Bovespa para uma queda generalizada.

...amanhã!

A crise Argentina, sob Nestor e Cristina Kirschner, começou assim, com o congelamento das tarifas públicas. No início, os argentinos vibraram, mas hoje sentem os reflexos da crise generalizada criada pela política populista. A história do desequilíbrio das tarifas do transporte coletivo de Curitiba teve início semelhante: desde 2004, por motivos político-eleitorais, a passagem baixou ou não subiu o necessário. E agora se discute quem deve pagar o subsídio para um sistema que, neste período, só se deteriorou.

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