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Nos corredores

Socorro

0 governador Roberto Requião esteve em Brasília na última quarta-feira. Parte da agenda dele na capital foi um mistério. A especulação é que Requião teria sido chamado às pressas para tentar convencer dois amigos senadores do PMDB, Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon, a votarem em José Sarney para a presidência do Senado. Ambos permaneciam relutantes em apoiar o ex-presidente da República até ontem.

Número mágico

A quantidade de vezes que Sarney negou oficialmente que seria candidato à presidência do Senado virou motivo de bolão entre os jornalistas que trabalham no Congresso.

As contagens variavam entre oito e 18. A mais enfática ocorreu há dois anos, segundo Pedro Simon, quando Sarney disse em uma reunião do PMDB que não seria candidato naquele momento, "nem em 2010, nem nunca".

Lanterna

Azarão na disputa pela presidência da Câmara, Osmar Serraglio (PMDB-PR) também declarou ter sido o que menos gastou na campanha. Segundo a Folha de S.Paulo, ele aplicou R$ 1.750 na confecção de santinhos e cartazes. Michel Temer (PMDB-SP), o favorito, afirmou ter gastado R$ 12 mil.

Era para ser mais uma daquelas conversas difíceis de engolir que todo taxista conta. Quarta-feira à tarde, mal sentei no banco de carona do Santana detonado à frente do Anexo 4 da Câmara dos Deputados e logo fui fuzilado com uma pergunta que misturava desconfiança e desgosto:

"É verdade mesmo que o Sarney vai ser presidente do Senado?"

Respondi que ele tinha acabado de se candidatar. E que, sim, ele era o favorito. Não dei mais trela. O homem ficou quieto por uns dois minutos. Até que recomeçou.

"Engraçado esse mundo, tantos anos e parece que ele quer voltar para o topo... Sabe quem tirou ele de lá?" Achei que a conversa começava a ficar sem pé nem cabeça. Respondi do jeito mais seco que encontrei: "Quem tirou quem de onde?"

"O Sarney, eu tirei ele de lá. Ele e todos os ministros dele."

Demorei para digerir. O "de lá" era da presidência da República. O "tirar" era dirigir o ônibus de turismo que simbolicamente levou todos os ministros do Palácio do Planalto para uma base da Aeronáutica, no dia 15 de março de 1990.

Walterson, 62 anos, lembra perfeitamente do feito. Diz que ficou na mordomia o dia inteiro, cercado por generais, comendo do bom e do melhor. Mas recorda-se principalmente da frase que ouviu da boca de Sarney ao entrar no ônibus.

"Vamos ver o que o garoto vai aprontar." O "garoto", nas palavras do ilustre passageiro, era Fernando Collor de Melo, que venceu as eleições com uma campanha que descascou a gestão Sarney do início ao fim. O que ele aprontou, bem, isso todo mundo lembra.

O taxista conta que sentiu na voz do ex-presidente um tom de despedida, de quem estava disposto a se retirar da vida pública com dignidade. Ficou mexido quando teve a confirmação de que, beirando os 80 anos, Sarney iria tentar ser presidente do Senado pela terceira vez.

"Tem gente que não larga o osso."

Foi a última frase do motorista. Paguei, me despedi com um aperto de mão, desci do Santana – e quase fui atropelado ao atravessar a rua.

Fiquei cismado. Há quase 20 anos, Walterson achou que tinha "tirado" Sarney do poder. Ledo engano, lá estava o maranhense de volta.

No meio de tantas conjecturas furadas que envolvem as eleições de hoje no Congresso Nacional, foi um taxista sexagenário que melhor resumiu a questão. Em tempos de crise e novos ventos políticos soprados por Barack Obama, o presidente de um dos três poderes brasileiros pode ser alguém enfronhado na mesmice que impede o país de crescer com consistência.

Vale o mesmo para a Câmara dos Deputados, onde Michel Temer, do mesmo PMDB velho de guerra de Sarney, também deve chegar à presidência pela terceira vez.

Enquanto o vale-tudo pelo poder corre solto no Congresso, Walterson segue a vida de motorista. A propósito, tem faturado menos nos últimos dias – calcula que seja algo relacionado à crise.

"Mas a vida aqui é assim, às vezes dá uma melhoradinha, às vezes piora."

No meio de tanta instabilidade, contudo, ele sabe bem que há algo não muda no país. Os políticos continuam os mesmos. E sempre brigando pelos mesmos cargos.

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