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Leonel Brizola era um líder político personalista, difícil, questionável. Mas era um líder. Foi o único brasileiro eleito para governar dois estados diferentes (Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro), bateu na trave na disputa presidencial de 1989 e, do exílio, fundou um dos partidos mais tradicionais do país, o PDT.

Claro, Brizola também teve uma fase da carreira bem decadente. Em 1994, ficou em quinto lugar na eleição para presidente, com 3% dos votos, menos da metade dos conquistados pelo saudoso Enéas Carneiro (Prona). Quatro anos depois, conseguiu uma vaga como vice de Lula, mas Fernando Henrique Cardoso se reelegeu com facilidade no primeiro turno.

Em 2004, quando morreu, Brizola não deixou um grande capital eleitoral como herança. Ainda assim, o mito brizolista tem o seu valor. Não era (e continua não sendo) um patrimônio para se jogar fora.

Coube a alguém que só venceu uma eleição na vida (para deputado federal pelo Rio de Janeiro, em 1990) gerir esse espólio. Carlos Lupi copiou o estilo centralizador do mestre. O problema é que ele não faz nem sombra à liderança do antecessor.

Desde 2007, quando foi nomeado por Lula para o Ministério do Trabalho, Lupi concentra as ações do PDT em torno dele mesmo. Esse movimento jogou o partido para a periferia da política nacional. Hoje os pedetistas têm apenas 5,2% das cadeiras do Congresso e não elegeram nenhum governador em 2010.

Talvez o panorama não fosse muito diferente se Brizola estivesse vivo. É certo, no entanto, que o PDT não seria apenas mais do mesmo – um aliado conjuntural dos petistas mais interessado em um espaço no governo do que em posicionar-se ideologicamente. Seria uma legenda bem mais combativa, independentemente do seu tamanho.

Ontem Lupi foi ao Senado defender-se das acusações de que mentiu sobre a história de ter usado um avião bancado por Adair Meira, dono de uma rede de ONGs, em 2009. Uma semana antes, ele disse na Câmara que desconhecia o sujeito, cujos contratos com o ministério superam R$ 10 mi­­­lhões. Desmentido por fotos e vídeos, o ministro mudou a versão para os senadores: "Eu disse que não tinha andado em um avião pessoal, é diferente você andar em um táxi-aéreo".

Foi uma desculpa semântica, ou melhor, uma saída retórica para tentar se manter no cargo. Ao contrário de casos anteriores, quase ninguém da base governista defende o ministro com convicção. Lupi está cada vez mais sozinho e os pedetistas parecem não saber ao certo para qual lado correr.

A maioria já topa se livrar do chefe (vale lembrar que o ministro é presidente licenciado do partido) para manter o naco de poder na Esplanada. Outros falam em não aceitar a faxina e partir para a oposição. Poucos, como o senador Cristovam Buarque, estão preocupados com a imagem da sigla.

No Paraná, o ex-senador Osmar Dias também tomou posição e disse que a situação de Lupi é "insustentável". Foi além: qualquer mudança de rumo nas alianças firmadas em 2010 seria uma "burrice". Osmar sabe que a legenda pode dar um salto no estado com a candidatura de Gustavo Fruet à prefeitura de Curitiba, mas que as turbulências em Brasília podem colocar tudo a perder.

Sim, o PDT está numa encruzilhada. Ou usa a crise para mergulhar numa espécie de refundação ou entra em colapso definitivo e vira mais um ingrediente perdido na sopa de letrinhas dos 29 partidos em atividade no país. Qualquer caminho parece melhor do que ficar nas mãos de um só dono.

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Nos corredores

Foco nas estaduais

O governo federal começou a dar sinais de que pode focar investimentos nas universidades estaduais para expandir o ensino superior brasileiro. Há dez dias foi negociada na Câmara a inclusão de uma emenda ao Plano Plurianual (2012-2015) que propõe dobrar as 100 mil vagas existentes hoje nessas instituições. "É uma demonstração de que as coisas estão mudando", diz o deputado Alex Canziani (PTB-PR), que participou do acordo. Neste ano, o Paraná deve gastar R$ 1,5 bilhão para manter suas 13 universidades estaduais.

Requião: "Também pequei"

Na avaliação do senador Roberto Requião (PMDB-PR), um dos principais motivos para as constantes crises no primeiro escalão do governo Dilma Rousseff é o excesso de ministérios. A novidade na crítica é que ele admite que cometeu o mesmo erro quando foi governador do Paraná. "Também pequei nesse sentido, meu governo também teve muitos secretários", disse Requião, em áudio publicado em seu site.

Mentor Marcelo

Ex-diretor do Detran e ex-deputado federal, Marcelo Almeida (PMDB-PR) participou na quarta-feira de uma reunião na Casa Civil com a ministra Gleisi Hoffmann sobre mudanças na legislação de trânsito. "Foi só uma discussão técnica, nada de política", garantiu. Almeida tem sido uma espécie de mentor intelectual da pré-candidatura de Ratinho Júnior (PSC) à prefeitura de Curitiba. Aliado do governo Dilma, Ratinho vem pleiteando o apoio do PT e de outros partidos da base aliada em Brasília.

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