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Nos corredores

Nepotismo parlamentar

A decisão do STF de acabar com a contratação de parentes para cargos comissionados nos três poderes causa apreensão no Congresso. Nenhum ministro garantiu que ela se aplicará aos funcionários dos gabinetes dos deputados, embora os postos sejam claramente administrativos. Em fevereiro, a Gazeta do Povo consultou os 30 deputados federais do Paraná para saber se eles tinham parentes contratados. Apenas dois confirmaram a prática. Nélson Meurer (PP) emprega a mulher de um irmão e Luiz Carlos Setim (DEM), a esposa.

Assalto duplo

O deputado federal Gustavo Fruet (PSDB) foi assaltado duas vezes em menos de um ano em Brasília. Em 2007, ladrões fizeram a limpa no apartamento funcional do parlamentar, na Asa Norte. Há uma semana, ele jantava com a noiva, a jornalista Márcia Oleskovicz, em um restaurante na Asa Sul, quando o carro dela foi arrombado. Uma pasta de Fruet, com várias anotações da CPI das Escutas Telefônicas, sumiu. Segundo ele, não havia nada de sigiloso.

JK

O Distrito Federal não tem municípios, logo, não tem eleições neste ano, muito menos horário eleitoral gratuito na televisão. Para tapar o buraco na programação, a Rede Globo reprisa a série JK, relato meio piegas da vida do ex-presidente Juscelino Kubitschek. O curioso é que ela continua fazendo enorme sucesso entre os brasilienses, que cultuam o político em monumentos variados – do nome do aeroporto internacional do Distrito Federal a uma rede de postos de gasolina.

Presidente do Parlamento do Mercosul, o deputado paranaense Dr. Rosinha (PT) adotou o estilo Evo Morales de se vestir. Ao invés de terno, uma jaqueta preta sem lapelas e com detalhes em aguayo – tecido feito à mão com desenhos dos índios quíchua. A roupa chamou a atenção na última reunião do ParlaSul, semana passada, em Montevidéu, no Uruguai.

A intenção do petista era simbólica. A sessão contou com a presença do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e serviu como um manifesto a favor da entrada da Venezuela, principal aliada dos bolivianos, no bloco econômico. A inserção plena do país de Hugo Chávez depende da aprovação do Congresso Nacional brasileiro.

A proposta está emperrada no Senado e sofre com a pressão dos partidos de oposição. Rosinha, porém, tem mais medo da tramitação da matéria na Câmara. Segundo ele, há pressões fortíssimas de alguns deputados para que ela nem seja colocada em pauta.

Desembaralhar a questão venezuelana é um pedido pessoal do presidente Lula ao paranaense. Depois desse imbróglio, será a vez de articular a adesão da Bolívia. Morales foi convidado há um ano para entrar plenamente no Mercosul, mas ainda não deu uma resposta.

Ao vestir o traje andino, Rosinha faz política. A história da jaqueta, por si, já é puro trabalho de relações públicas.

Rosinha esteve em La Paz para acompanhar o referendo que decidiu pela permanência de Morales no cargo. No dia 11, quando o resultado foi proclamado, foi recebido pelo presidente em uma audiência no Palácio Quemado, às 19 horas. Papo vai, papo vem, perguntou como poderia comprar um "saco" (paletó, em espanhol) como o dele.

Morales deu pouca trela, perguntou apenas quando o brasileiro ia embora – ele tinha passagem marcada para o dia seguinte, à tarde. Na saída, uma assessora pediu para ficar com o paletó de Rosinha para tomar as medidas. Em menos de 12 horas, voilá, a peça feita sob medida estava prontinha e entregue no hotel do petista.

Se o traje é bonito ou se a moda pega, fica a critério dos estilistas (embora a resposta seja bem previsível). O fato é que o Mercosul precisa sair do papel e, para isso, às vezes é preciso dançar conforme a música. Aceitar a Venezuela – e talvez posteriormente a Bolívia – não é fechar um pacto de sangue com Chávez e Morales. É virar parceiro a longo prazo de nações perenes – e não de seus governos, efêmeros.

É, afinal, ter uma bela jaqueta com detalhes em aguayo no armário. O que não significa usá-la diariamente.

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